Casas a granel são a Disney dos adultos

Casas à granel são um mundo paralelo. A Nárnia das farinhas funcionais. Sonho de toda azeitona em pote. Mas o preço é quase igual à Disney.

Marina Estevão | 28 de Novembro de 2020 às 09:00

aleo79/iStock -

Casas a granel são um mundo à parte.

São a Disneylândia dos adultos.

Os brinquedos estão nas prateleiras. Ou em grandes potes.

Possuem todas as cores, texturas e sabores.

Quando entro nessas casas à granel, me sinto em uma grande feira em Madureira, pela quantidade de gente, pessoas gritando e passando de um lado pro outro.

É porque seja lá o que for, eles sempre tem.

Explico:

Às vezes, você precisa fazer uma receita que precisa de pele de cabrito triturada por índios Ashaninkas no século 19.

E, claro, não é todo lugar que tem.

Mas nas casa a granel você encontra.

Com sal e sem sal.

Mas, claro, nada são flores.

O preço que você paga, geralmente, dá pra comprar uma quitinete no Catete.

Mas o que eu acho curioso é que as pessoas que trabalham lá estão sempre  de aventalzinho e touquinha, como se fossem te fazer um atendimento impecável.

Nunca é.

— JÁ FOI ATENDIDA, AMOR?! – diz a mocinha de avental amarelo que parece o Rambo com uma cara de esnobe.

Sinto que acabaram de me assaltar e tiraram minhas roupas.

— Não, moç…

— O QUE VAI SER?!?!

Na maioria das vezes é algo bobo, tipo castanhas.

O bacana é desafiar os funcionários com algum ingrediente bem difícil.

Por um momento me sinto no programa do milhão, como se fosse audacioso falar o nome de algum tipo raríssimo de farinha e eles não terem.  

Eu vou competir, sim.

Então, peço somente castanha, quase envergonhada por ser algo tão simples.

— TRITURADA, COM PEDAÇOS DE MEL, SALGADA OU COM ALECRIM DA PÉRSIA? – pergunta Rambo feminino. Aquelas perguntas me golpeiam como um soco na boca do estômago.

Penso por um segundo e sinto o meu tempo sendo cronometrado.

Rambo me olha impaciente.

Percebe que a fila para atendimento está aumentando do lado de fora.

— Qual é o mais barato? – respondo, sentindo minha derrota próxima.

— ESSE AQUI VAI QUERER QUANTOS? – Ela pergunta assim mesmo, sem vírgula, sem ar.

Basicamente, ela coloca apenas 4 castanhas em um saquinho.

Se colocar 5 já equivale a um salário mínimo.

Então, ela dá um nó no saquinho e pergunta se eu quero mais-alguma-coisa. Me dá um papelzinho com o seu nome.

É sempre Dayse ou Jéssica. Para mim, é Rambo.

Pago com meus últimos centavos e faço as castanhas durarem 1 semana.

Só de sacanagem.

Da próxima vez, vou inventar e pedir a pele de cabrito.

Com alecrim da pérsia.