47 milhões de espanhóis em quarentena amanhã

Espanha restringe a circulação de pessoas e entra em quarentena com o objetivo de diminuir a propagação do vírus. Saiba mais sobre as proibições.

Redação | 15 de Março de 2020 às 12:34

Harald Pizzinini/iStockc -

BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – A partir das 8 horas de segunda-feira (16), todos os moradores da Espanha estarão em quarentena. Devem sair de casa apenas para atividades essenciais: comprar comida ou remédios, ir ao médico e trabalhar. As restrições mais duras, que tentam restringir o contágio pelo coronavírus, afetam 46,78 milhões de pessoas, segundo estimativa da ONU. A medida foi anunciada neste sábado (14) pelo primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e tem prazo inicial de 15 dias.

Assim como na Itália e na Eslováquia, viagens (mesmo dentro do país) só serão permitidas em casos de emergência ou para cuidar de idosos ou de crianças. Restaurantes, bares e lojas ficarão fechados, com exceção de farmácias e mercados. O transporte público continua em funcionamento. “Todos poderemos ir comprar pão, nos medicar ou levar o cachorro para passear. Mas não poderemos ir à praia nem esquiar. Temos que ficar em quarentena”, disse Sánchez.

Medidas emergenciais

O país ficará fechado para estrangeiros ou pessoas que não tenham residência permanente. O governo também vai reduzir em 50% os voos a partir da próxima semana, segundo o primeiro-ministro.

Com o estado de emergência, o primeiro-ministro centraliza os poderes e pode limitar a circulação de pessoas temporariamente, requisitar bens e serviços temporários, ocupar temporariamente empresas, impor racionamentos e outras medidas para garantir o fornecimento de produtos essenciais.

A Europa de quarentena

Polônia, República Tcheca, Estônia e Letônia já haviam feito o mesmo nos últimos dias. Com a progressão do contágio na Europa – apontada pela OMS como novo epicentro da pandemia – intensificaram-se os anúncios de restrições cada vez mais drásticas em vários países.

O continente tem agora mais doentes do que todo o resto do mundo, incluindo a China, onde a pandemia começou no final de 2019. Até a 0h deste sábado (14), havia 155.858 casos notificados no mundo, dos quais pouco mais da metade (75.606) ainda ativos. A Europa registrara 46.693 casos, com 41.969 ainda doentes. No resto do mundo, são 33.637 casos.

O coronavírus já provocou a morte de 5.814 pessoas, 1.807 delas na Europa. Na sexta, apareceram 8.063 novos casos no continente europeu e 270 pessoas morreram. No Brasil, onde hoje (domingo, 15) há o registro de 121 casos, não houve nenhum óbito.

O cenário na França

A França também apertou suas medidas e proibiu o funcionamento de bares, restaurantes e lojas a partir da meia-noite deste sábado. Ficarão abertas farmácias, lojas de alimentos, postos de gasolina e bancos; o transporte público não será afetado.

Como a Espanha e outros 26 países europeus, a França já havia fechado todas as escolas do país. O presidente Emmanuel Macron também havia recomendado a maiores de 70 anos que ficassem de quarentena, pois idosos são o grupo mais suscetível a complicações da doença.

Apesar das novas restrições, a França manteve a realização de eleições municipais neste domingo (15).

O governo português, que já havia suspendido aulas, fechado restaurantes e lojas e proibido eventos públicos, anunciou reforço no controle na fronteira com a Espanha. A Rússia fecharia à meia-noite as fronteiras com Polônia e Noruega, que anunciou a paralisação de todos os aeroportos a partir desta segunda.

Reino Unido na contramão das restrições

Dentre os maiores países da Europa, apenas o Reino Unido mantém as escolas em funcionamento normal. O governo britânico tem defendido que medidas drásticas não contêm a epidemia e prejudicam a economia, mas anunciou na noite de sexta-feira que eventos públicos serão proibidos.

Na manhã de sábado, um hospital universitário do norte de Londres confirmou o contágio de um bebê recém-nascido. A mãe do bebê, que também foi infectada, havia se internado dias antes com suspeita de pneumonia. Ainda não se sabe se a transmissão aconteceu dentro do útero ou durante o nascimento. Estudos anteriores feitos com gestantes na China haviam afastado a possibilidade de contágio intrauterino.

Em carta aberta, 240 cientistas pediram ao governo que acelere as medidas de restrição de mobilidade e de isolamento, sugerindo a quarentena. Segundo eles, se o número de casos sair do controle, o sistema público de saúde pode entrar em colapso.

Com a pressão crescente sobre o primeiro-ministro Boris Johnson, consumidores continuam esvaziando prateleiras dos supermercados para fazer estoques. As principais redes de supermercado divulgaram uma carta pedindo que os clientes “comprem de maneira responsável e permitam que os suprimentos sejam repartidos de forma justa”.

Em toda a Europa, já são 12 os países que restringem total ou parcialmente a entrada de estrangeiros. Além de Itália e Espanha, impuseram restrições Polônia, Dinamarca, Noruega, Rússia, Suíça, República Tcheca, Eslováquia, Letônia, Lituânia, Ucrânia e Chipre. A Itália continua sendo o país em estado mais crítico, com 17.750 pessoas ainda doentes (3.497 novos casos na sexta) e 1.441 mortes.

Como os países europeus estão reagindo ao coronavírus

ALEMANHA
População: 83,784 milhões
Casos: 5.525
Ainda doentes: 4.471
Mortes: 8
Medidas: isolamento obrigatório por 14 dias para quem entra no país, recomendação para restringir circulação, escolas fechadas em parte do país, atendimentos médicos não urgentes cancelados, eventos limitados a mil pessoas

REINO UNIDO
População: 67,886 milhões
Casos: 1.140
Ainda doentes: 1.101
Mortes: 21
Medidas: isolamento por 14 dias para quem vem da Itália ou tem sintomas de gripe, eventos públicos proibidos a partir de segunda, apenas escolas com contágio são fechadas

FRANÇA
População: 65,274 milhões
Casos: 4.469
Ainda doentes: 4.366
Mortes: 91
Medidas: fechamento de bares, restaurantes, casas noturnas e lojas não essenciais, aulas suspensas em todo o país, proibição de eventos com mais de 100 pessoas, proibição de visitas a casas de idosos, procedimentos médicos não urgentes adiados

ITÁLIA
População: 60,462 milhões
Casos: 21.157
Ainda doentes: 17.750
Mortes: 1.441
Medidas: mobilidade permitida apenas para atividades essenciais, bares, restaurantes e lojas fechados, restrição à entrada de estrangeiros, viagens permitidas apenas em casos de emergência, aulas suspensas em todo o país

ESPANHA
População: 46,755 milhões
Casos: 6.315
Ainda doentes: 5.605
Mortes: 193
Medidas: estado de emergência decretado, mobilidade permitida apenas para atividades essenciais, bares, restaurantes e lojas fechados, restrição à entrada de estrangeiros, viagens permitidas apenas em casos de emergência, aulas suspensas em todo o país.