Coronavírus fora da China: 2/3 dos casos ainda não foram detectados, diz estudo

O isolamento dificulta a transmissão do coronavírus, e deve ser adotado pelas autoridades de saúde nos casos confirmados.

Elen Ribera | 27 de Fevereiro de 2020 às 15:12

Manuel-F-O/iStock -

BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) – Até dois terços dos casos de coronavírus Sars-CoV-2 fora da China ainda não foram detectados, aponta um estudo coordenado pela epidemiologista Sangeeta Bhatia, uma das principais especialistas da equipe de combate à epidemia no Reino Unido.

A partir de dados do tráfego de pessoas entre o epicentro da epidemia chinesa (a cidade de Wuhan) e os principais destinos internacionais, Bhatia e colegas usaram métodos estatísticos para calcular a probabilidade de transmissão da doença. Ela é pesquisadora do Centro de Doenças Infecciosas do Imperial College de Londres, um dos três mais respeitados programas de epidemiologia da Europa.

À reportagem, Bathia disse que a ciência não sabe como as estações afetam o coronavírus e que lavar as mãos com água e sabão ainda é a melhor forma de evitar a propagação do vírus.

“É muito pouco o que sabemos sobre o contágio em crianças, mas, com base nos dados de adultos, se a dinâmica de infecção continuar constante, estamos detectando apenas 1 em cada 3 possíveis casos de portadores do vírus no mundo”, diz.

A prioridade dos cientistas agora é mapear como o vírus é transmitido por pacientes que não apresentam sintomas. Para entender a doença e determinar corretamente seus riscos, portanto, é preciso preencher várias lacunas: a origem do vírus, o mecanismo exato de transmissão e o escopo de sintomas dos infectados.

Também não há ainda informação suficiente sobre como o clima afeta o coronavírus, isto é, o que torna “impossível dar qualquer resposta segura sobre se o verão reduziria os riscos de uma epidemia no Brasil”.

Enquanto se aguardam respostas da ciência, os brasileiros devem adotar os mesmos cuidados prescritos no hemisfério Norte, diz Bhatia.

Veja as principais recomendações da especialista:

Como impedir o contágio em nível individual?

Lavar as mãos frequentemente com água e sabão e usar lenços descartáveis para cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar (na ausência de lenços, usar o braço, e não as mãos).

O governo deve ampliar o número de testes?

Identificar rapidamente casos de infecção ajuda a prevenir a disseminação, mas não faz sentido testar de forma ampla e indiscriminada. “Profissionais treinados e insumos são recursos limitados, e os governos precisam ponderar custos e benefícios.”

É preciso isolar casos suspeitos?

O isolamento dificulta a transmissão do vírus e deve ser adotado pelas autoridades de saúde nos casos confirmados. 

O ideal é um plano de contingência em etapas:

1) Em primeiro lugar, se o número de casos for baixo, o recomendável é observar por 14 dias quem chega de zonas críticas e testar e isolar quem apresenta sintomas. 

2) Num segundo passo, se o número de casos crescer, podem ser instaladas áreas de quarentena em hospitais e deve-se testar quem teve contato com os doentes confirmados.

3) Se a porcentagem de testes que resultam positivos for crescente, é preciso reforçar os centros de tratamento.

Faz sentido proibir viagens e fechar fronteiras?

É preciso dosar as respostas à gravidade da epidemia. “Impedir viagens ou fechar fronteiras, no momento, seriam respostas desproporcionais ao que ocorre hoje na Itália, por exemplo.”

Medidas como fechar escolas, cinemas, estádios de futebol ou mesmo isolar cidades podem ser tomadas em casos severos. 

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO

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