Cartilha do vírus na luta contra a Covid-19, a gripe e outras doenças

Confira um guia completo com tudo o que você precisa saber para se prevenir ou enfrentar a Covid-19, a gripe e outros vírus.

Julia Monsores | 5 de Março de 2021 às 20:00

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Os vírus são micróbios, zumbis biológicos com uma única missão: achar um hospedeiro e usá-lo para se reproduzir. Eles alcançam seu objetivo ao sequestrar as células do hospedeiro, em geral provocando doenças. Felizmente, sabemos muito sobre o mal que os vírus fazem e como nos defender deles.

O quadro mais amplo

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Existem muito mais vírus do que você pensa. Na verdade, eles são os microrganismos mais abundantes do planeta. Além dos vírus famosos, como o HIV, o da gripe e, agora, os coronavírus, há cerca de 320 mil tipos que infectam mamíferos. No entanto, só se conhecem 219 que infectam humanos, de acordo com a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos.

Não são fáceis de classificar. Essa é uma discussão antiga no meio científico. Os vírus não são inanimados, porque se multiplicam, têm genes e evoluem. Mas não estão “vivos”, porque não têm células, não convertem alimento em energia e não sobrevivem sozinhos.

Além disso, descobrir até que ponto são contagiosos é, ao mesmo tempo, arte e ciência. Uma forma de medir é o R0 (“R-zero”), ou seja, quantas pessoas em média podem ser infectadas por um único portador do vírus.

Se o R0 for 4, então cada pessoa infectada poderá passar a doença para outras quatro. O R0 ideal é menor do que 1, ou seja, o vírus está sumindo na população.

Adoecer não garante imunidade. Você pode pegar alguns vírus mais de uma vez. Isso acontece porque, quando infectado, seu corpo cria anticorpos para combatê-los. Esses anticorpos ficam no organismo e ajudam a evitar infecções futuras. (Também é assim que as vacinas funcionam.)

No entanto, nem todo mundo produz anticorpos suficientes, e eles podem ir sumindo com o tempo; por isso você precisa de reforço em algumas vacinas. Além disso, os vírus sofrem mutações, e os anticorpos podem ser ineficazes contra uma nova cepa.

Antibióticos não matam vírus. Muitas vezes, é difícil saber se uma doença é causada por vírus ou bactérias com base nos sintomas, mas exames de laboratório podem confirmar o culpado.

Ao contrário dos vírus, as bactérias são organismos unicelulares que conseguem viver e se reproduzir sozinhas. E, embora matem bactérias, os antibióticos não adiantam contra os vírus. Ainda assim, muitos médicos se dizem pressionados pelos pacientes a receitar antibióticos, tomados mesmo quando a infecção é viral como a gripe, de acordo com um estudo publicado na revista Journal of the Royal Society of Medicine.

Na verdade, os pesquisadores constataram que há tanta gente convencida de que os antibióticos farão os sintomas virais melhorarem que até um terço de todas as prescrições de antibiótico é desnecessário.

Não há tratamento. Infelizmente, é verdade. O melhor “tratamento” é a prevenção com vacinas e mudanças no estilo de vida. No entanto, medicamentos antivirais podem apressar a melhora e reduzir a gravidade dos sintomas.

Não conte com a imunidade de rebanho para nenhum vírus. Talvez você tenha lido que pode não se vacinar caso more em um lugar onde a maioria das pessoas já teve a doença ou recebeu a vacina, o que lhe permite se aproveitar da imunidade de rebanho.

“Para ser eficaz, a imunidade de rebanho exige que mais de 90% da população seja vacinada contra uma doença”, explica Tish Davidson, autora dos livros Vaccines: History, Science, and Issues (Vacinas: história, ciência e problemas) e The Vaccine Debate (O debate da vacina). “O percentual exato depende da do grau de contágio da doença, e a gripe é muito contagiosa. Com a reduzida taxa anual de vacinação contra a gripe, as pessoas não devem contar com a imunidade de rebanho para se proteger. Não há essa proteção.”

Gripe

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Tome muito cuidado se você for obeso. Pessoas muito gordas transmitem o vírus da gripe por um tempo 42% maior do que as não obesas, de acordo com pesquisa publicada na revista Journal of Infectious Diseases. Como está ligada a muitos problemas de saúde, a obesidade pode afetar o sistema imunológico e também tornar menos eficaz a vacina contra a gripe.

Exercícios ajudam a evitar gripes. Não se esqueça de se exercitar: está comprovado que o exercício regular, como caminhadas vigorosas, melhora o sistema imunológico e reduz a probabilidade de pegar gripes e resfriados. Mas não exagere. Quando se treina para um grande evento, como uma maratona, o efeito pode ser oposto e prejudicar seu sistema imunológico.

Tome chá-verde. De acordo com uma metanálise publicada na revista Molecules, o chá-verde promove a imunidade e ajuda a combater os vírus da gripe e do resfriado. Os pesquisadores constataram que tomar chá-verde regularmente, além de ajudar a se recuperar de resfriados, também previne a recorrência da infecção e reduz a probabilidade de se resfriar.

Tome a vacina contra a gripe todo ano. Essa é uma das melhores maneiras de prevenir a doença. (Algumas crianças precisam de duas doses na mesma temporada.) Há mais de 200 cepas de vírus da gripe, que podem sofrer mutações. Por isso, todo ano se cria uma fórmula nova.

Covid-19

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Ela não é uma praga superfatal. Embora os números sejam assustadores, por se tratar de uma pandemia, tenha em mente que a maioria das pessoas que pegam Covid-19 melhora em casa e se recupera totalmente. No entanto, a doença pode ter longo curso e durar várias semanas. Caso sinta dor no peito, falta de ar ou desidratação intensa, vá para o hospital.

A vitamina D pode ajudar. A relação entre Covid-19 e vitamina D não está totalmente esclarecida, mas uma análise recente de pesquisas preliminares publicada na revista Nutrients constatou que o baixo nível de vitamina D está ligado a sintomas mais graves; o aumento do nível de vitamina D pode trazer alguma proteção por reduzir o risco de infecção ou morte por gripe ou coronavírus.

“Dedos de Covid” existem. Embora os principais sintomas sejam respiratórios, o vírus que causa a Covid-19 também é capaz de atacar quase qualquer parte do corpo, inclusive os dedos dos pés. Esse sintoma parece uma frieira, com vermelhidão, inchaço e coceira nos dedos (dos pés ou das mãos) no tempo frio.

Perda de olfato e paladar é um alerta precoce. Outro sintoma relativamente comum da Covid-19 é a perda de olfato e paladar. Em pessoas com casos leves, esse pode ser o único sintoma, e é mais provável que surja em pessoas mais jovens. Não se sabe direito a causa, mas a doença provoca em todo o organismo uma reação inflamatória profunda que, de algum modo, impede o funcionamento dos sentidos.

Herpes simples, herpes-zóster e outros vírus

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Tem herpes simples? Evite o sol. Depois de infectar alguém, o vírus do herpes simples (HSV-1), que causa feridas na boca e na região genital, fica adormecido nas células nervosas da pele e pode ressurgir no mesmo lugar de antes, de acordo com a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos. É comum a recorrência ser provocada pela exposição ao sol.

É possível contaminar sem ter sintomas. Alguns vírus, como os que causam herpes, Aids e Covid-19, podem se espalhar por meio de pessoas assintomáticas (que nunca têm sintomas da doença) e pré-sintomáticas (que ainda não apresentam sintomas), de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDCs). Tome precauções para não disseminar vírus mesmo que não se sinta doente.

A doença celíaca pode ser causada por vírus. Estima-se que essa doença intestinal autoimune afete uma em cada 100 pessoas no mundo inteiro, segundo a Fundação de Doença Celíaca dos EUA. Novas pesquisas publicadas na revista Science indicam que, em parte, ela pode ser causada pela reação do sistema imunológico ao reovírus, que é bastante comum.

O herpes-zóster eleva o risco de AVC e infarto. Casos graves de herpes-zóster, doença provocada pelo vírus varicela-zóster (o mesmo que causa a catapora), aumentam o risco de AVC, infarto e morte. Uma metanálise de mais de 20 anos de pesquisas publicada na revista PLOS One verificou que um único caso de herpes-zóster está associado ao aumento significativo do risco de eventos cerebrais e cardíacos.

O vírus do herpes simples pode causar doença de Alzheimer. Uma feridinha chata na boca pode ser responsável pela destruição da memória? Pesquisas dos últimos 20 anos mostram um vínculo entre o HSV-1, que causa o herpes simples, e a doença de Alzheimer.

Um estudo de Taiwan constatou que pessoas com infecção pelo HSV tinham quase o triplo do risco de desenvolver demência na velhice do que as pessoas sem o vírus. Os que tomaram medicação antiviral para tratar o herpes reduziram em 90% o risco de demência.

O vírus zika pode matar o câncer de cérebro. Nem todos os efeitos colaterais dos vírus são ruins. Embora o vírus zika cause um efeito devastador no cérebro dos fetos, sua capacidade de atacar o tecido cerebral pode, no futuro, ajudar o tratamento do glioblastoma, um tipo de câncer de cérebro.

O vírus da raiva é o mais fatal. Quase 100% das pessoas infectadas com o vírus da raiva morrem em decorrência da doença, o que o torna o vírus mais letal conhecido. Até hoje, só 14 pessoas sobreviveram à doença depois de apresentar sintomas.

A doença também é quase 100% prevenida pela vacina, de acordo com os CDCs. Tomada antes que a pessoa se exponha, a vacina impede a infecção, mas também funciona se for tomada logo depois de a exposição ocorrer. Como a maioria dos casos é causada pela mordida de um animal infectado, é importante procurar o médico depois de levar uma mordida de qualquer animal, por menor que seja.

Você pode, com fita adesiva, se livrar de um vírus. As verrugas são causadas por uma infecção do papilomavírus humano (HPV). As feias protuberâncias costumam ser benignas e acabam sumindo por si sós. Um remédio caseiro que apressa a cura é cobrir a verruga com fita adesiva prateada (silver tape), de acordo com um estudo publicado na revista JAMA Pediatrics.

Na verdade, os pesquisadores descobriram que a terapia com fita adesiva era bem mais eficiente do que a crioterapia para tratar verrugas comuns.

Prevenção de vírus

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Evite excesso de ar frio. Expor-se ao frio por si só não faz ninguém adoecer, mas quando se sai no frio com frequência, o corpo se adapta secando as mucosas. Quando estão secas, as mucosas não conseguem nos proteger, e o vírus entra.

Durma bastante. Ficar acordado até tarde pode retardar sua recuperação. Um estudo publicado em 2019 na revista Journal of Experimental Medicine constatou que uma boa noite de sono aumenta a eficácia das especializadas células-T do sistema imunológico. Durma o máximo possível quando estiver doente para dar ao corpo uma oportunidade de se recuperar.

Banho frio não cura a febre. Alguém da família pode ter lhe dito que um banho gelado ou uma chuveirada fria são bons para baixar a febre depressa, mas a água fria pode causar choque e acabar fazendo a temperatura subir ainda mais. Para baixar a febre, é melhor um banho morno.

Água e sabão são a melhor defesa. “Lave as mãos” é praticamente um mantra em nossos dias, por boas razões. Uma gota de sabão diluída em água literalmente quebra o vírus, fazendo as partículas envoltas em proteína se romperem e se tornarem inúteis.

Ensaboe as mãos por 20 segundos, no mínimo, enxágue e seque com uma toalha limpa. Em banheiros públicos, evite os secadores de ar quente, que sopram contaminantes por toda parte. Confira aqui 15 doenças que você pode evitar ao lavar as mãos. 

Desinfete a casa regularmente, mas não com bactericidas. Assim como antibióticos não curam infecções virais, produtos de limpeza bactericidas são ineficazes contra vírus, como avisam os CDCs.

Pior: o uso de produtos bactericidas pode aumentar a resistência a antibióticos. É melhor usar água oxigenada, amônia ou desinfetantes semelhantes para limpar itens que possam estar contaminados por vírus, inclusive o coronavírus.