Obesidade: ajuste na composição da microbiota intestinal pode ajudar

Entenda causas, consequências e tratamentos para a obesidade, incluindo um tratamento que utiliza a composição da microbiota intestinal.

Julia Monsores | 15 de Abril de 2021 às 14:00

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A mais recente Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE, divulgada pelo instituto no fim do ano passado, mostrou que 96 milhões de brasileiros, o equivalente a 60,3% da população adulta do país, estão com excesso de peso. A obesidade nada mais é que o acúmulo de gordura corporal, resultando em risco mais elevado de doenças clínicas e morte prematura.

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A obesidade já é considerada uma epidemia global. De acordo com estatísticas da OMS, há cerca de 1 bilhão de gordos e 350 milhões de obesos no mundo, e cerca de 2,5 milhões de mortes ocorrem todos os anos por conta desses males. E agora, na pandemia, os números aumentaram consideravelmente, o que faz com que mais do que nunca seja necessário reavaliar os próprios hábitos durante a quarentena para que não haja prejuízos à saúde.

Adultos, crianças e até idosos podem sofrer com as consequências da obesidade. Por isso, é muito importante conhecer suas causas, consequências e estratégias de prevenção e tratamento. Continue acompanhando para ficar por dentro desse tema.

Causas da obesidade

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Embora a genética seja um fator de risco para a obesidade, o fator determinante é a ingestão de mais calorias do que seu corpo converte em energia, pois o excesso fica armazenado sob a forma de gordura. Assim, o consumo de alimentos processados ricos em calorias estão diretamente associados à obesidade. Além disso,diversas pesquisas mostram que as pessoas hoje comem mais do que há 40 anos.

Graças aos fast-foods, houve uma “distorção da porção”. Isto é, as pessoas se acostumaram a comer porções cada vez maiores, independente da fome, uma vez que a diferença de preço costuma ser irrisória. o fato de comer com pressa também pode causar essa ingestão exagerada de alimentos. E isso porque quando comemos rápido demais não damos ao nosso cérebro a oportunidade de receber os sinais hormonais que avisam que o estômago está cheio.

A falta de exercícios físicos também impacta na forma física. Com uma alimentação inadequada, não há gasto de calorias ingeridas. E assim, ocorre o acúmulo de gordura.

Um estudo publicado na principal revista internacional especializada em gastroenterologia, a BMJ Journal Gut, também mostrou que indivíduos obesos criaram uma “assinatura de obesidade” dentro de seu microbioma intestinal, que moldou o funcionamento do metabolismo.

“Esse efeito pode aumentar a dificuldade de perder peso e facilitar a recaída após a perda de alguns quilos, mesmo com uma dieta normal. Essa ‘assinatura’ é definida por mudanças nas populações bacterianas que podem contribuir para mudanças no metabolismo através de fatores genéticos e ambientais”, explica o Doutor em Genética e Biologia Molecular, Luiz Felipe Valter.

Consequências da obesidade

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Como já comentamos, a obesidade pode gerar diversos efeitos nocivos à saúde. Dentre eles, destacamos:

Microbiota intestinal pode ajudar no emagrecimento

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O microbioma intestinal é composto por inúmeros microrganismos que podem conviver com o ser humano sem causar qualquer tipo de doença ou malefício ao bem-estar. Pelo contrário, auxiliam desde o nascimento à manutenção de funções fisiológicas. O que muita gente não sabe é que a sua composição pode ter um papel na regulação do peso corporal e é possível ajustá-la com uma dieta adequada. 

“Os hábitos alimentares são fator determinante do tipo de bactérias que temos ou teremos no intestino. Pesquisas científicas têm mostrado que uma dieta que consiste em alimentos altamente processados tem sido associada a menor diversidade de microrganismos intestinais. Essa dieta não saudável impede que os grupos bacterianos benéficos se desenvolvam no intestino. Logo, uma microbiota intestinal saudável e equilibrada resulta em um desempenho normal das funções fisiológicas, ajudando na perda de peso”, explica Luiz Felipe Valter.

Esses estudos mostram que indivíduos que seguem uma dieta rica em fibras e pobre em gorduras (basicamente vegetariana) têm níveis mais elevados de bactérias probióticas fermentadoras, em comparação a indivíduos que tenham uma dieta moderna, rica em gorduras e pobre em fibras.

“A alta disponibilidade de fibras no intestino eleva a produção de substâncias benéficas, como o butirato, que induz a proliferação de bactérias com ação anti-inflamatória. Já pessoas com dieta baseada somente em alimentos industrializados e baixo consumo de fibras provavelmente não conseguirão multiplicar e manter as bactérias benéficas ao intestino”, explica o doutor em Genética e Biologia Molecular.

Bactérias benéficas para a perda de peso

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Luiz Felipe Valter explica que há duas principais bactérias relacionadas à perda de peso.

“Há ao menos outros dois estudos científicos (publicados pela editora Springer Nature, líder global em disseminação de pesquisas, e pela especialista em microbiologia de alimentos Frontiers in Microbiology) que apontam a existência de duas bactérias intestinais que estão relacionadas à prevenção do ganho de peso e são frequentemente encontradas em pessoas magras (com índice de massa corporal (IMC) menor do que 18,5):  Akkermansia muciniphila e Christensenella minuta“. É possível aumentar a abundância dessas bactérias por meio do consumo de cranberries, chá preto, óleo de peixe e sementes de linhaça, explica.

Além disso, há diferenças nas composições da microbiota intestinal de pessoas saudáveis e obesas.

“Indivíduos com acúmulo excessivo de gordura corporal – cujo Índice de Massa Corporal (IMC) é maior ou igual a 30 kg/m2, de acordo com a Organização Mundial da Saúde – apresentam um desequilíbrio entre bactérias protetoras e agressoras no intestino com a produção de efeitos nocivos ao organismo, a chamada disbiose”, conta doutor em Genética e Biologia Molecular.

Tecnologia promete ajudar

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Atualmente, já há tecnologias que permitem ‘fotografar’ o intestino para direcionar dieta.

“Essas tecnologias são capazes de ajudar profissionais da nutrição a conhecer quais bactérias estão colonizando o intestino. E, assim, indicar a alimentação mais apropriada para cada pessoa. O monitoramento do microbioma intestinal pode ser realizado através do sequenciamento de DNA a partir de amostra de fezes. Essa ‘fotografia’ precisa e ampla da saúde do intestino é resultado da combinação do sequenciamento genético de DNA aliado a análises de bioinformática”, explica Luiz Felipe Valter.

É um método que traz informações que não podem ser acessadas por exames laboratoriais convencionais. E assim, permite a identificação não só de um organismo, mas de toda a comunidade bacteriana intestinal. Com o resultado, o profissional de saúde tem condições de elaborar uma dieta mais acertada para controlar a obesidade.

Fonte: Luiz Felipe Valter de Oliveira, doutor em Genética e Biologia Molecular e CEO da startup de biotecnologia BiomeHub.