Sobreviventes da Covid-19: famílias contam como foi vencer a doença

Saiba como foi a experiência de pessoas que tiveram a Covid-19 e se recuperaram Conheça a história de famílias que passaram pela Covid-19

Paula Vieira | 1 de Fevereiro de 2021 às 09:00

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Já era março de 2020 quando a realidade dos brasileiros mudou e os primeiros casos graves de Covid-19 em território nacional começaram a ser noticiados. Não demorou para pessoas próximas avisarem que tinham contraído o novo coronavírus. Boa parte delas, no próprio ambiente de trabalho. Assim, uma grande preocupação se instaurou.

Com o passar dos meses, novos sintomas e cepas foram surgindo, mas cientistas e pesquisadores da saúde trabalharam dia e noite para que as primeiras vacinas começassem a ser produzidas.

Apesar desse avanço, foi recomendado que a população mantivesse o uso de máscara e álcool em gel; além de outras medidas de higiene, como limpeza das compras e a lavagem das mãos com água e sabão. Afinal, até que todos estejam vacinados, esses cuidados básicos devem ser seguidos.

Para dar mais esperança nesse período tão complicado, trazemos experiências de famílias que venceram a Covid-19.

A experiência de vencer a Covid-19

Se acompanhar o noticiário e o aumento de casos no Brasil, que já totaliza quase 9 milhões, gerou mais estresse e ansiedade em quem conseguiu cumprir a quarentena e ficar em casa, imagina ter que encarar a doença e o medo da morte.

Felizmente, a maioria dos pacientes se recuperou e alguns deles contaram para Seleções como foi viver esse drama e a experiência de passar por um turbilhão de emoções e sintomas graves, mas ficar curado(a).

Conheça agora as histórias dessas famílias.

Ítalo e Bruna, pais da Helena de 1 ano

Ítalo Monsores (24 anos) atua na linha de frente contra a Covid-19, e inclusive, já foi vacinado. Ele trabalha como auxiliar de farmácia hospitalar no Hospital Municipal Evandro Freire, no Rio de Janeiro. Ítalo mora com a esposa, Bruna Bruno, e a filha do casal, que tem apenas 1 ano. Ele foi diagnosticado em meados de julho de 2020.

O Teste PCR é um dos mais confiáveis para diagnosticar se o paciente tem a Covid-19 (Drazen Zigic/iStock)

“Inicialmente fui na UPA mais próxima, e pelo próprio raio x tirado deu pra ver uma infecção no pulmão, fora a febre, saturação baixa e falta de ar. De cara, a médica pensou em me internar, mas depois minha saturação melhorou e ela falou pra eu ir pra casa e me isolar por uns dias. Meu pai e minha irmã (não moram comigo) tiveram, e por consequência eu acabei contraindo e infectando a Bruna.”

Os primeiros sintomas identificados pelo Ítalo como possíveis de uma infecção pelo novo coronavírus são considerados graves. Mas, ele se recuperou sem sequelas e redobrou os cuidados em casa para evitar que a filha também fosse contaminada.

“Tive febre, dor no corpo, muita falta de ar, muita dor de cabeça e falta de apetite. Foi um período mais pesado pra Bruna pois eu não conseguia fazer absolutamente nada em casa, mas acho que pelo fato da Helena não ter ficado doente, a gente acabou passando por tudo de forma tranquila. Pegamos a mania que já deveríamos ter de jogar álcool em tudo. Bolsas, roupas, celular, compras, tênis etc. Acho que isso deve permanecer para sempre”, concluiu.

Felizmente, apesar de também ter contraído o vírus, a pedagoga Bruna Bruno (36 anos) teve sintomas mais leves.

“Percebi porque um dos gatos fez xixi e não senti cheiro algum. Eu já tinha perdido o paladar, mas demorei a perceber. E foi logo depois que o Ítalo teve. Não senti nada além disso. Lidei muito bem com a doença, ficando em casa, isolada. Acreditamos que o Ítalo foi infectado no trabalho, mas morávamos em uma quitinete na época, e não tinha como ficarmos isolados um do outro. Acredito que nossa filha na época com 5 meses foi protegida pelo leite materno.”

Para a Bruna o dia a dia foi mais cansativo, já que ela precisou cuidar de duas pessoas, mesmo estando doente.

“Foi bem cansativo pra mim, pois cuidei de um bebê e do Ítalo que ficou mal. Foram 15 dias cansativos. Tomei sopão fortificante para ajudar minha imunidade e não ficar mal. Depois do ocorrido, começamos a usar álcool para limpar tudo”, comentou.

Fabrício vive com a família e relata “muito medo e incertezas” no período com a Covid-19

Fabrício Freitas (36 anos) trabalha na área da Saúde da Marinha do Brasil e além de acompanhar as medidas de prevenção adotadas pelas Forças Armadas de perto, ele contraiu a Covid-19, o que foi uma surpresa desagradável.

Forças Armadas do Brasil também sofreu com casos internos de Covid-19 (Smederevac/iStock)

“No meu caso, mesmo sendo da área da Saúde, fiquei muito impressionado com isso tudo. Dessa forma, comecei a me sentir mal, muita dor de cabeça, dor nas costas, dor de barriga. Achei que poderia ser uma gripe normal, mas como trabalho no hospital fiz o teste e deu positivo. Me foi passado ivermectina, dipirona em caso de dor e um relaxante muscular por conta das tosses. Doía tudo. Fui orientado a me medicar e ficar em casa. Caso piorasse e tivesse dificuldade pra respirar, voltar ao hospital”, contou.

Fabrício mora com a família, e acredita ter contaminado outras pessoas antes de descobrir que estava com a doença. Mas todos conseguiram se isolar da forma recomendada.

“Na minha família várias pessoas se contaminaram, é difícil não passar se você mora com outras pessoas. O que fizemos foi isolar a pessoa no quarto, separar os talheres, roupa de cama, e uma alimentação no horário. Foi um período de muito medo, incertezas. Hoje em dia, temos mais cuidado na rua. Não ficar pondo a mão na boca, nos olhos, chegar em casa e separar a roupa que veio da rua, prestar um pouco mais de atenção na alimentação”, finalizou.

O irmão de Giane foi internado na UTI, mas venceu a Covid-19

A professora Giane Araújo (53 anos) passou por alguns dos momentos mais difíceis de sua vida quando viu a piora dos sintomas do irmão, de 51 anos. Ele precisou ser internado em uma UTI, pois teve sintomas graves da doença, desencadeando outras complicações.

Para internar no Rio de Janeiro, até pessoas que possuem plano de saúde encontram dificuldades por conta da lotação dos hospitais (PatrikSlezak/iStock)

“Meu único irmão e caçula, de 51 anos, tem uma vida saudável, sem comorbidades, e é esclarecido, antenado com a saúde. Ele vive com a esposa, que contraiu a Covid-19 em dezembro de 2020. Sabendo disso, ela seguiu as recomendações: isolamento, medicação com azitromicina, invermectina e não evoluiu para a pior. Dias depois, meu irmão apresentou febre, cansaço, perda de paladar. Ficou em casa, em isolamento, e recorreu às consultas online, repetindo a medicação da esposa. Mas não teve resultado e a doença evoluiu muito rápido. Ele sentiu falta de ar intensa e ficou muito enfraquecido”, contou.

Mesmo tendo acesso ao sistema de saúde privado, o irmão de Giane encontrou muita dificuldade para ser atendido no Rio de Janeiro, que tem filas de espera para leitos de UTI.

“Mesmo com plano de saúde e indo a um bom hospital, ele ficou em uma espécie de Emergência, aguardando leito de UTI, com 75% do pulmão comprometido e uma pneumonia viral diagnosticada. Foram 24 horas até sair a vaga. Senti uma sensação de impotência imensa. É angustiante pensar que alguém que você ama com todas as forças está sofrendo e pode morrer. Ele ficou cerca de 15 dias em coma induzido. Depois desse período de muita ansiedade, testes, diagnósticos, piora, leve melhora e muita incerteza, ele reagiu e diminuíram a ventilação e a sedação. Ainda estava com falta de ar, havia perdido muita massa muscular, estava fraco, mas tem duas semanas que ele voltou e está melhor.”

Giane contou que, após viver um dos episódios mais dramáticos da sua vida, ela e toda a família reviram muitos pensamentos e adotaram diversas medidas para evitar que algo semelhante acontecesse novamente.

“A experiência de quase perder um ser amado para essa doença nos fez rever várias coisas. Primeiro, percebemos o quão perto está de nós. Ninguém está livre. Segundo, dói para quem sofre na pele, na família. Impotência define. Horrível e indescritível. Por isso, passamos a ficar mais atentos às recomendações, como uso de máscara e álcool em gel. Evitamos aglomerações e estamos todos recolhidos na medida do possível. Mantemos os ambientes limpos e bem ventilados, buscamos orientações de especialistas e procuramos dormir bem, ter uma alimentação saudável. A vacina trouxe esperança”, finalizou Giane.

Felipe vive com a família e todos tiveram a doença

O jornalista Felipe Lucena (30 anos), que atua como diretor de redação no Diário do Rio, vive com a família. Mas, apesar de todos ficarem separados, em uma casa de três andares, acabaram contraindo a doença em períodos próximos.

A maior preocupação dos pais que contraíram a Covid-19 era passar para os filhos e entes queridos (klebercordeiro/iStock)

“Em abril do ano passado, minha mãe ficou uns dias com dor no corpo e febre. Ela fez o teste e deu positivo. Eu moro no terceiro andar e ela no primeiro da mesma casa. Então, tivemos contato, e nessa mesma semana eu tive uma noite de febre e dor no corpo no dia seguinte. Mas logo me recuperei e ela também. Ficamos isolados por 15 dias. Não fui hospitalizado. Tive febre, fraqueza, um pouco de falta de ar, dor no corpo, principalmente nas costas e nos olhos. No período, mantive uma alimentação mais saudável e muito repouso. Meu pai, que fez o teste meses depois, descobriu que já havia tido antes – a gente deduz que todo mundo pegou na mesma época. Meu irmão e a esposa dele (que moram no segundo andar da mesma casa) pegaram recentemente, também com sintomas leves. Aqui em casa, o que fizemos foi praticar o isolamento de 15 dias, enquanto nos recuperávamos”, contou.

Após contraírem a Covid-19, os familiares do Felipe mantiveram os hábitos de higiente já recomendados e passaram a ter ainda mais cuidados quanto à interação mais próxima com outras pessoas.

“Aqui em casa, nós já estávamos seguindo os hábitos recomendados. Depois disso, continuamos. Garrafão de álcool em gel já faz parte da lista constante de compras. E depois, com essa flexibilização maior, seguimos com os cuidados, como uso de máscaras, sempre com o álcool e evitando lugares fechados, com muita gente”, concluiu.

Vale lembrar que não há comprovação sobre a eficácia de medicamentos como a ivermectina contra a Covid-19. Em caso de sintomas, procure um médico imediatamente.