Entenda como o colesterol alto atinge os países mais pobres

O colesterol alto está atingindo países de baixa renda. Populações pobres estão mais vulneráveis às altas taxas.

Elen Ribera | 4 de Junho de 2020 às 14:06

ogichobanov/iStock -

A incidência maior de doenças e mortes causadas pelo colesterol alto no mundo mudou de lugar no planeta. Países do leste e no Sudeste Asiático são os mais afetados pelo problema. As mortes causadas pelo colesterol LDL, conhecido popularmente como a gordura ruim, já representam metade de todos os óbitos causados por essa condição no mundo todo. Conheça as 10 principais causas de morte no mundo.

Esta informação está em um artigo publicado pela revista científica Nature nesta quarta-feira (3). Mais de 400 pesquisadores do mundo todo assinam o trabalho, que fez um levantamento de mais de mil estudos, relatando medições do colesterol em cerca de 100 milhões de pessoas com mais de 18 anos. 

Os dados permitem comparar a situação em diferentes regiões desde os anos 1980 até 2018. Primeiramente, países mais ricos da Europa Ocidental, como Bélgica, Finlândia, Noruega, Suíça e Suécia, eram os lugares que apresentavam os maiores níveis do colesterol ruim. 

Na análise mais recente, países mais pobres da Ásia, como Malásia, Filipinas e Tailândia, assumem a frente com as populações com os maiores índices do colesterol LDL. Para os mais pobres, é mais caro comer saudavelmente.

Colesterol LDL alto

A quantidade de colesterol LDL é obtida quando os pesquisadores subtraem o colesterol HDL (considerado bom) do colesterol total. O LDL está associado a um maior risco de surgimento de doenças cardiovasculares, que muitas vezes levam à morte.

Esse tipo de colesterol provoca a aterosclerose, um acúmulo da gordura nas paredes das artérias. Esse acúmulo pode obstruir o fluxo sanguíneo. Em 2017, estima-se que cerca de 3,9 milhões de mortes tenham sido causadas por níveis elevados de colesterol LDL.

“Mudanças na dieta, principalmente a substituição da gordura saturada pela insaturada, são os maiores contribuintes para a redução do colesterol LDL na Europa Ocidental”, escrevem os cientistas.

“Em contraste aos países ricos da Europa Ocidental, no leste e no Sudeste Asiático houve um aumento no consumo de alimentos de fontes animais, carboidratos refinados [como as farinhas brancas] e óleo de palma”, acrescentam.

Outro motivo para a mudança, segundo os pesquisadores, foi o aumento do uso de estatinas na Europa Ocidental. Esses medicamentos são usados para combater o HDL alto. Já nos países que registraram crescimento nos níveis de colesterol, o uso de estatinas permaneceu o mesmo, aponta o artigo.

Alimentação saudável no combate ao colesterol alto

“O estudo mostra que populações europeias e comem melhor têm os melhores níveis de colesterol HDL”, diz Antonio Carlos Chagas, cardiologista do HCor, em São Paulo, que não participou do estudo.

“Hoje sabemos que não é um problema só dos mais ricos. Ele atinge todas as populações, em diferentes idades, e está relacionado aos hábitos de vida”, completa o médico.

Chagas lembra que o combate a esse mal está baseado em um tripé: alimentação saudável, realização de atividades físicas e a medicação, quando indicada pelo médico. Veja aqui como manter uma alimentação saudável para o coração.

De acordo com o estudo, o Brasil não apresenta mudanças significativas nos últimos anos. Mas, segundo Chagas, as alterações nos hábitos dos brasileiros, como uma alimentação com mais açúcar e a gordura dos fast-foods, fazem aumentar o risco de colesterol mais alto, até mesmo em crianças que vivem em lugares mais pobres. 

“A aterosclerose é uma doença dinâmica e universal por causas distintas”, afirma Chagas.

Para o médico, o papel das políticas públicas na prevenção do colesterol alto é essencial. “Já fizemos alguns avanços com o Ministério da Saúde, mas ainda é um desafio para as sociedades médicas”, diz.

“Embora hoje tenhamos tratamentos altamente eficazes, é muito melhor investir em prevenção e educação para evitar a doença do que esperar que ela apareça”, conclui. 

EVERTON LOPES BATISTA,
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)