Regionalismo: você entende o Norte e o Nordeste?

Com dimensões continentais, o Brasil têm características próprias a cada região. Conheça exemplos de regionalismo no vocabulário.

Raquel Zampil | 26 de Junho de 2021 às 12:00

Gil Vicente Xaxas/iStock -

As palavras abaixo são regionalismos de ampla utilização no Norte e no Nordeste. Algumas se instalaram nos falares do Sudeste levadas pelos migrantes que ajudaram a construir o Brasil Grande. Determine seu significado. Respostas no fim.

Teste o seu conhecimento

1.  araçuaba s. 2 gên.
A: pessoa muito alta;
B: pessoa mestiça e alourada;
C: pessoa muito escura. 

2. bia s.f.
A: o mesmo que caldo de cana;
B: o mesmo que suco de abacaxi;
C: o mesmo que cerveja.

3. cafangoso adj.
A: defeituoso;
B: muito forte;
C: veloz.

4. cafuringa s.m.
A: coisa grande e de valor;
B: coisa pequena e de pouco valor;
C: coisa que dá medo.

5. califom s.m.
A: pequeno sapato;
B: saia rendada;
c. sutiã.

6. capuaba s.f.
A: cabana;
B: casa-grande;
C: armazém portuário.

7. cutuba adj. 2 gên.
A: medroso;
B: apressado;
C: valentão.

8. gabiru adj. e s.m.
A: gatuno;
B: cozinheiro;
C: remador.

9. jia s.f.
A: resto de comida;
B: produto de um roubo;
C: pequena vela.

10. libombo s.m.
A: tipo de foice;
B: grupo de migrantes;
C: batalha campal.

11. maruim s.m.
A: cobra-d’água;
B: tipo de mosquito;
C: pequeno macaco.

12. potaba s.f.
A: presente;
B: chuva muito fina;
C: panela de barro.

13. seribeiro s.m.
A: pescador;
B: plantador;
C: guardador de cavalos.

14. vunje adj. 2 gên. e s. 2 gên.
A: o mesmo que otário;
B: amoroso;
C: muito esperto.

15. zuninga s.f.
A: doce de leite;
B: coalhada;
C: cachaça.

Respostas:

1. araçuaba  B pessoa mestiça e alourada (comumente, o dito sarará; termo da Bahia, de provável origem tupi; um de seus elementos formadores é o tupi ’aba, cabelo; possível corruptela de kuarasyaba, ‘cabelo de sol’).

2. bia  C o mesmo que cerveja (Norte e Nordeste; registrado como corruptela do inglês beer, ‘cerveja’, as primeiras por lá sendo possivelmente importadas).

3. cafangoso A defeituoso (Ceará e norte de Minas, pessoa cheia de vícios; na raiz remota banta, o quimbundo kafanga, ‘defeito’, propriamente a crítica ressentida, insincera, eivada de inveja – Schneider).

4. cafuringa B coisa pequena e de pouco valor (termo da Bahia, de origem banta indeterminada; o sentido primitivo atestado é ‘garoto pequeno’).

5. califom C sutiã (Nordeste, especialmente interior; de etimologia pouco clara).

6. capuaba A cabana (Nordeste; do tupi kapyaba, propriamente o lugar da queimada da mata [ka’a, ‘mata’, apy, ‘queimar’, -ab, nominalizador locativo, e –a, sufixo nominal]; por extensão, tanto o roçado, como o casebre aí existente).

7. cutuba C valentão (Nordeste; na origem, uma interjeição de origem tupi, ku’tubae, ‘excelente, muito bom’, de ku’tu(k), ‘furar’ [cf. cutucar], e –mba’e, ‘coisa [boa, de valia]’, e, daí, o que fura e fere bem).

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8. gabiru  A gatuno (Norte e Nordeste, de origem tupi, onde há gwabiru, ‘ratazana’, propriamente o que rouba a comida – Houaiss).

9. jia B produto do roubo (gíria de uso comum em Alagoas e Pernambuco, de origem tupi, onde há yu’i, ‘rã’; desconhecida, porém, a extensão do significado).

10. libombo B grupo de retirantes (Norte e Nordeste, levas de sertanejos migrantes em busca de trabalho; variante de libambo, uma turba, em cuja raiz banta está o quimbundo lubambu, ‘corrente [de ferro]’, alusão a cativos caminhando acorrentados).

11. maruim B tipo de mosquito (inseto muito pequeno; termo do Norte e Nordeste, de origem tupi, de mberu, ‘mosca’, e a’yrin, ‘miúdo’).

12. potaba A presente (Nordeste; na origem tupi, é o quinhão, o que cabe a alguém, e, ainda, o que é dado para conquistar alguém; daí, isca [engodo]; variante: potava).

13. seribeiro A pescador (Nordeste, em Alagoas, especialmente; de possível origem tupi, pela variante siribeiro, admite-se um composto de siri, nome de um crustáceo, do tupi si’ri).

14. vunje C muito esperto (termo de Pernambuco, vem do quicongo – Schneider).

15. zuninga C cachaça (termo de Pernambuco, de origem desconhecida).

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Por Ricardo Salles