Por que o chá fez os barcos navegarem mais depressa?

O clíper é um tipo de veleiro mercante de grande porte muito veloz. Foi por meio de um que a primeira colheita de chá foi trazida para o Ocidente.

Redação | 23 de Julho de 2019 às 20:30

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No princípio de outubro de 1869, avistava-se ao largo de Falmouth a silhueta elegante do clíper Sir Lancelot. O veleiro entrara em águas britânicas quase duas semanas antes do previsto. E, assim, bateu todo os recordes ao completar uma viagem de 26.000 km desde Fuzhou, na China, em 85 dias.

O Sir Lancelot conseguira vencer a grande corrida para trazer a primeira colheita de chá para o Ocidente.

A velocidade era vital no comércio do chá: os negociantes pagavam preços elevados para terem o produto da primeira colheita. Por vezes, amadores conseguiam recuperar os custos de um navio só com os lucros de uma viagem. Os clíperes foram construídos para transportar cargas valiosas que requeriam rapidez – legais, como chá, ou ilegais, como ópio. Para serem mais rápidos, sua concepção era radicalmente diferente da dos navios tradicionais.

Feitos para correr

Durante centenas de anos, os navios mercantes tinham sido pesados e atarracados. Já os clíperes, leves, longos e estreitos, com proas aguçadas e cascos de linhas côncavas, podiam cortar a água. 

Com seus 5.500m de velas, suspensas em mastros altos, conseguiam navegar mesmo com leves brisas que não moveriam outra embarcação. Os novos navios tornaram-se famosos na época da grande corrida ao ouro da Califórnia, em 1849, quando a viagem por mar de Nova York a São Francisco era em geral mais rápida e segura do que por terra. Foi então que começaram a ser chamados de clíper (do inglês clipper, “cortador”), porque “cortavam” muitas horas de viagem. Eles faziam, em média, 20 nós (20 milhas marítimas por hora). O dobro da média de um barco à vela comum. 

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Em 1851, o Flying Cloud cobriu o percurso de Nova York a São Francisco em nove dias. Em 1868, a viagem inaugural do Thermopylae, de Londres a Melbourne, demorou 59 dias – um recorde ainda não igualado por outro veleiro. 

Quatro anos antes da triunfal viagem à China do Sir Lancelot, surgiu um motor a vapor extremamente eficiente, o prenúncio do fim dos veleiros. Em 1865, navios equipados com esses novos motores encurtavam a viagem da China à Inglaterra para apenas 64 dias, transportando o triplo da carga. 

Em 1875, já não se construíam navios de velas redondas, mas eles ainda navegaram por mais 50 anos.