Como povos de todo o mundo lidam com a morte

Que a morte é um assunto sério ninguém questiona, já os costumes entre os vivos e os mortos...Conheça mais as tradições fúnebres ao redor do mundo.

Douglas Ferreira | 16 de Setembro de 2019 às 17:00

Stefan Malloch/iStock -

Não usar preto num funeral parece falta de respeito com o falecido. O preto reflete o luto e a solenidade de tão sombria ocasião, mas este costume nasceu por um motivo bem diferente – não por respeito, mas antes por simples receio do morto.

Nossos antepassados acreditavam que o fantasma do falecido ficava perto do cadáver e se sentia tão solitário que era capaz de tentar agarrar um dos vivos para arranjar companhia se houvesse oportunidade. Poucos queriam sofrer esse destino, e por isso todos se vestiam das mesmas cores escuras para não chamar a atenção.

Uma tradição criada para evitar problemas

O medo dos fantasmas ditou vários costumes curiosos. Nos funerais dos índios menominis norte-americanos, o parente mais próximo do falecido escapulia mais cedo, enquanto o fantasma ainda observava a cerimônia, para evitar ser apanhado. Nos funerais dos índios sacs ou fox, os parentes tinham o cuidado de pôr alguma comida ou peça de roupa na sepultura, o que evitava que o espírito aparecesse de noite para cobrar as oferendas.

Em algumas partes do mundo, o corpo sai do velório por uma janela e não pela porta; desse modo, espera-se confundir o fantasma e evitar que ele encontre o caminho de volta a casa. E na China, os acompanhantes costumam explodir pequenas bombas no regresso de um funeral para repelir o espírito do falecido.

A ideia foi levada ao extremo pelo povo Yakut, da Sibéria. Entre eles, a pessoa que estava morrendo tinha a comida mais requintada e o melhor lugar na festa do seu funeral antes de ser levada e enterrada viva. Alimentos e bens – até um cavalo para facilitar a viagem para o outro mundo – eram enterrados com ela, de modo a não ter justificativa para regressar a casa.

As roupas pretas dos funerais da Europa e da América atualmente não são as únicas lembranças deste antigo e profundo medo dos mortos. As moedas que os agentes funerários punham nos olhos dos cadáveres não serviam só para mantê-los fechados, eram o preço da passagem do espírito para o outro mundo. E se as orações fúnebres parecem demasiado lisonjeiras para o falecido, pode ser por algo mais do que um desejo de prestar homenagem. Talvez ainda partilhemos o antigo receio inconsciente de que em algum lugar próximo ouvidos invisíveis mas atentos estão escutando cada palavra.

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