Festivais de enlouquecer pelo mundo!

Existem pelo mundo diversas tradições que surpreendem pelo jeito inusitado que alguns locais encontraram para celebrá-las. Abaixo nós preparamos uma lista

Redação | 1 de Maio de 2020 às 01:01

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Existem pelo mundo diversas tradições que surpreendem pelo jeito inusitado que alguns locais encontraram para celebrá-las. Abaixo nós preparamos uma lista para você conhecer alguns festivais malucos pelo mundo!

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Prados nas montanhas

POLKOVNIK SERAFIMOVO, BULGÁRIA

4 a 7 de junho

Há quem vá a festivais de música para sentir a emoção de estar numa imensa multidão enlouquecida com os superastros do rock’n’roll. Para eles, existem o Rock in Rio e o Lollapalooza, por exemplo. Outros preferem eventos mais íntimos e incomuns.

Criado pelos irmãos Benji e Damian Sasse, de Londres, nas terras compradas pelos pais em 2007, o Meadows In The Mountains é uma celebração musical ecoconsciente, sem plásticos nem fins lucrativos, realizada nos prados das montanhas Ródope, no sul da Bulgária. O ambiente é adequado, pois diz a lenda que essa bela serra foi a pátria de Orfeu, o músico da mitologia grega que conseguia encantar todas as coisas vivas quando tocava.

O público é limitado a 1.700 almas sortudas que podem dançar a noite inteira e depois assistir ao sol se erguer lentamente entre as nuvens que cobrem os vales lá embaixo. “Originalmente, o local eram prados selvagens para onde os pastores levavam suas ovelhas”, diz Benji Sasse. “No verão, é mágico, como algo saído de Alice no País das Maravilhas.” Sasse não tinha experiência na organização de festivais:“Nos primeiros dias, rebocávamos coisas com burros e carroças”, conta ele.

Com o passar dos anos, a aldeia local de Polkovnik Serafimovo perdeu quase 90% da população, e o festival passou a gerar uma renda muito apreciada pelos moradores locais, que hospedam os visitantes em casa.

“Nossa anfitriã foi uma adorável baba [avó] búlgara chamada Vera, cuja casa fica no alto de um morro íngreme, cercada por uma horta lindamente cultivada”, diz Claire Francis, do Reino Unido, frequentadora do festival. “Não falamos búlgaro e Vera não fala inglês, mas é incrível como muitos sorrisos, acenos de cabeça e gestos – e um pouco de tradução do Google – fazem as vezes de uma conversa.”

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A batalha do vinho

HARO, ESPANHA

28 a 30 de junho

Diz a lenda que, durante centenas de anos, os aldeões de Haro, na província espanhola de La Rioja, saíam no dia 29 de junho, festa de São Pedro e São Paulo, para demarcar com bandeiras púrpura, tingidas com o vinho local, a fronteira entre sua terra e a comunidade vizinha de Miranda de Ebro. Em algum momento uma briga começou, e as pessoas passaram a jogar vinho umas nas outras. Assim começou “La Batalla del Vino”.

Hoje, centenas de pessoas recriam essa batalha todo verão numa encosta perto de Haro, encharcando-se com galões e mais galões de vinho, disparado com canhões d’água, jogado em baldes ou despejado de garrafas, até todo mundo ficar tão púrpura quanto aquelas bandeiras medievais.

Os amantes dessa bebida gostarão de saber que só vinho abaixo do padrão é usado para a batalha – e, como Haro abriga 40% das vinícolas de La Rioja, o produto é abundante.

Como seria de esperar numa fiesta espanhola, a luta de vinho é precedida por uma festa na praça da cidade, na noite de 28 de junho, seguida por touradas falsas, fogos de artifício e várias comemorações que continuam até as primeiras horas do dia 30. Dessa vez, o vinho consumido é o bom.

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Festival mundial de pintura corporal

KLAGENFURT, ÁUSTRIA

9 a 11 de julho

Cercada pela linda paisagem alpina, a capital do estado de Caríntia abriga três dias de eventos que homenageiam o corpo pintado, centrados na “Cidade da Pintura Corporal”, num parque próximo do belo lago Wörthersee.

Há demonstrações ao vivo, desfiles de moda, uma exposição que vende material para pintura corporal, música e muitas barraquinhas de comida. Os visitantes podem ver a pintura de corpos em tendas abertas e assistir ao desfile no palco principal do festival.

Há modelos e artistas masculinos e atividades também para crianças, mas essa é, majoritariamente, uma celebração do corpo feminino e das artistas, na qual mulheres se transformam em animais, alienígenas, deusas, esqueletos e supermodelos. E, se o calor do verão for muito forte, os visitantes podem aproveitar um mergulho no Wörthersee para se refrescar… ou lavar a tinta.

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Festival de experiências de quase morte

AS NEVES, ESPANHA

29 de julho

A Bíblia nos diz que Jesus ressuscitou Lázaro, irmão de sua amiga Marta, da Betânia. Marta é santa, e a aldeia galega de As Neves, no extremo noroeste da Espanha, tem uma igreja consagrada a ela.

Até aí, tudo bem – mas há um detalhe. Todo ano, em 29 de julho, o povo de As Neves comemora o dia de Santa Marta de uma forma que tem mais a ver com a história do irmão do que com a dela: a procissão da experiência de quase morte na festa de Santa Marta de Ribarteme.

Homens e mulheres que, de algum modo, sobreviveram por pouco à morte se deitam em caixões e são levados pela aldeia por amigos e familiares, todos vestidos como se fosse um funeral de verdade, entoando “Virgem Santa Maria, estrela do norte, trazemos aqueles que viram a morte”.

Soa mórbido? O povo de As Neves discorda. Como insiste Modesto Gomez, proprietário de um restaurante local: “Esse é um culto à vida. É uma celebração, embora seja mental e fisicamente cansativo ficar horas num caixão em movimento.”

Uma mulher que acabou de participar é Maria Rodriguez. “Fiz isso para agradecer à santa por salvar meu cachorro do câncer”, explica ela. “É espontâneo. Vem do coração e da alma quando a gente ama alguém.”

Carregar um caixão durante horas é suficiente para dar apetite a qualquer um, e o festival termina com um banquete em que figura o típico pulpo a la gallega (polvo cozido com batatas fatiadas e páprica), acompanhado, naturalmente, de vinho local.

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Véspera do Ano-Novo… em agosto

BÉRCHULES, ESPANHA

1 e 2 de agosto

Em 31 de dezembro de 1993, os habitantes da pequena cidade andaluza de Bérchules se preparavam para receber o novo ano com todas as festividades comuns. Mas, como recorda o prefeito Ismael Padilla Gervilla, “pouco antes das oito da noite, todas as luzes da cidade se apagaram. Tivemos de fazer a ceia à luz de velas”.

O mau tempo provocara o corte de energia. O povo de Bérchules perdeu a festa de Ano-Novo e os donos de bares e restaurantes locais, uma das noites mais lucrativas do ano.

Realizou-se uma reunião e uma solução foi proposta. Bérchules faria outra festa de Ano-Novo com presépio e tudo. Haveria pratos sazonais, como presunto e nougat; o paseo de la borriquilla, ou encenação de Jesus em seu burrico; e até a tradição espanhola de comer cada uma das 12 “uvas da sorte” a cada badalada da meia-noite. E a festa não aconteceria no frio do inverno, mas no calor do início de agosto.

A ideia era uma festa isolada, mas, segundo Padilla Gervilla, “o sucesso foi tão grande que continuamos a comemorar desde então”.

Mais de 10 mil visitantes chegam a Bérchules todo mês de agosto para participar da farra de Ano-Novo.

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Artistas de rua em Berna

BERNA, SUÍÇA

6 a 8 de agosto

Berna é uma das capitais mais sonolentas da Europa. Durante 362 dias por ano, é muito pacífica, muito civilizada, muito suíça. Mas, durante três dias de agosto, a tranquilidade da Cidade Velha de Berna é estilhaçada quando o som de música folclórica, popular, jazz e erudita enche o ar, por cortesia de cerca de 150 grupos de músicos de rua.

Solistas, miniorquestras, teatros de fantoche e grupos de comédia: todos se reúnem em torno da praça da catedral para o festival anual Buskers Bern. Além da música, há atividades para crianças e uma feira de artesanato. A festa na Buskershouse vai até a madrugada, e lá os visitantes se misturam com os artistas. Em resumo, Berna ferve. “O clima é alegre e feliz, ouve-se música por toda parte e há barraquinhas de comida com pratos do mundo inteiro”, diz Ursula Kamer, moradora de Berna e visitante entusiasmada do festival.

Quando a multidão é grande demais, Ursula tem a solução perfeita: um mergulho no Rio Aare, que corta a cidade, alimentado pela água cristalina do degelo. “Flutuar no Aare num dia de verão é a melhor sensação do mundo!”, entusiasma-se ela. E, quando a música do festival Buskers Bern vem pela água, a sensação fica ainda melhor.

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Edinburgh Fringe

EDIMBURGO, ESCÓCIA

7 a 31 de agosto

Há de tudo no festival Edinburgh Fringe: desde comediantes fazendo shows de uma hora enquanto correm sem parar na esteira até acrobatas australianos vestidos como criancinhas apresentando números impossíveis e brandindo armas que disparam torrentes de papel higiênico. E é tudo encenado em locais que vão das magníficas salas de reunião do século 18 a uma tenda com formato de vaca roxa gigante deitada de costas.

O diversificado Fringe também é extraordinário em sua escala. No ano passado, foram 3.841 espetáculos em 323 locais, com artistas de 63 países, e mais de 3 milhões de visitantes de 150 países. “Corri pela cidade e assisti a 26 espetáculos em quatro dias, uma overdose cultural que, em qualquer outro lugar, seria estranhíssima”, conta o frequentador Alex Barnard.

Gemma Armit, do blog de viagens Two Scots Abroad, chama isso de “filosofia do viciado em Fringe: acordar – Fringe – dormir – acordar – Fringe – dormir, e repetir”, acrescentando: “É garantido que você vai rir, chorar, se assustar e se espantar.”

Gemma dá uma dica de conhecedora: as acomodações na Edimburgo propriamente dita são sabidamente escassas e caras no período do festival. Os quartos são mais baratos em Leith, o distrito portuário da cidade, e nas cidades vizinhas de Dunfermline e Inverkeithing.

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Olimpíada na lama

BRUNSBÜTTEL, ALEMANHA

15 de agosto

Instalada no estuário do Rio Elba, na extremidade oeste do canal de Kiel, é preciso admitir que Brunsbüttel não é uma glamourosa cidade praiana. Em vez de praias douradas, tem charcos cinzentos. Mas, uma vez por ano, essa grande extensão de lama mole e grudenta se torna o cenário de um dos eventos esportivos mais excêntricos do mundo: a Wattolümpiade ou Olimpíada da Lama.

Equipes de toda a Alemanha e de países vizinhos competem em versões lamacentas de futebol, handebol e vôlei, além de disputas mais incomuns, como “lançamento de bota de borracha” ou deslizamento de barriga na “corrida de enguias na lama”. Muitos competidores usam fantasias, e há prêmios para as melhores.

No fim do dia, há um concerto chamado de Mudstock: o Woodstock da lama. E toda a receita do evento, do qual um dos lemas é “Esportes sujos por uma causa limpa”, é doada a pacientes com câncer e suas famílias no estado de Schleswig-Holstein. A Olimpíada da Lama já gerou mais de 440 mil euros para essa boa causa… embora talvez a conta dos concorrentes na lavanderia seja ainda mais alta.

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Festival dos Espantalhos

KETTLEWELL, INGLATERRA

8 a 16 de agosto

Como muitas comunidades rurais de toda a Europa, a aldeia de Kettlewell (350 habitantes), em Yorkshire, enfrenta o desafio de sobreviver numa época em que os jovens, principalmente, querem morar e trabalhar em cidades dinâmicas, não na tranquilidade do campo. A solução: um festival anual de espantalhos criados pelos aldeões que atrai cerca de 15 mil visitantes por ano.

Os aldeões trabalham meses para criar os espantalhos exibidos em trilhas que cruzam a aldeia. Foram destaques recentes os retratos em palha de Donald Trump e Freddie Mercury, os casamentos e funerais de espantalhos e um mamute lanudo gigantesco. James Theodosius, o vigário local, chegou a criar um espantalho de Ziggy Stardust (alter ego do cantor David Bowie), com sistema de som funcionando e tudo.

Quando os visitantes começam a chegar, os campos se tornam estacionamentos pagos, e a prefeitura da aldeia vira um café que serve bolos feitos em casa, sanduíches e quiches.

Sue Nelson, que mora em Kettlewell há mais de quatro décadas, faz dúzias de bolos às vésperas do festival. Durante o evento, ela assa 24 pães doces por noite. “É trabalho duro, mas o clima é muito bom”, diz ela.

O dinheiro obtido com o festival ajuda a financiar a escola da aldeia, a igreja, a creche comunitária e até o clube de críquete. Quando o conselho local cancelou o serviço de ônibus da aldeia, os habitantes então criaram o seu. “Se quisermos que a aldeia prospere, temos de ser proativos e nos ajudar”, explica Sue Nelson.

Por Diana Thomas