Deliciosa e versátil, é assim que a abóbora, ou melhor, as abóboras podem ser chamadas. Saiba mais sobre este fruto tão popular no Brasil!
Estamos naquela época do ano em que, em alguns países de língua inglesa, os tons de laranja, amarelo e marrom da estação ocupam o centro do palco. Eu me sinto amada como o fruto que representa o papel principal no Halloween.
Mas vamos esclarecer algumas coisas, porque há confusão entre minhas muitas variedades com nomes diversos. Há abóbora-moranga, de pescoço, cheirosa – e ainda a abobrinha. É mesmo confusa a quantidade de tipos incluídos numa única categoria de fruto. Deixe algumas de minhas variedades secar no caule e me transformo numa cabaça.
Essa minha última variedade é que me trouxe até onde estou hoje. A maioria das espécies de alimentos domesticadas chamou a atenção dos seres humanos por ser comestível, mas vocês começaram a gostar de mim porque eu era muito útil quando não comestível. É provável que eu seja a única planta a ter sido usada no mundo inteiro por povos pré-históricos e a primeira a ser domesticada.
Sou realmente versátil
Por quê? Porque, seca e oca, sou versátil: sirvo de balde, de câmara de ressonância de instrumentos musicais (como marimbas e chocalhos), de boia em cais flutuantes e redes de pesca, de decoração, de utensílio de mesa e até de cachimbo. Os nativos americanos me usavam como casa de passarinho; até hoje apreciadores de pássaros fazem isso. Sou tão versátil que acompanho as pessoas por toda parte. (No entanto, os motociclistas nigerianos descobriram para que não sirvo, quando o país baixou uma lei que obrigava a usar capacete e muitos evitaram comprá-lo aproveitando cabaças.)
Foi no México, há cerca de 9 mil anos, que finalmente me cultivaram como alimento, e dei outra volta ao mundo, dessa vez como comida.
Na verdade, tornar-me palatável exigiu cruzamentos para eliminar o excesso de cucurbitacina, que me dá um sabor muito amargo. Ainda contenho vestígios dessa toxina que, em grande quantidade, deixa vocês, humanos, muito doentes e faz o cabelo cair. Mas não se preocupe com isso quando me comprar no supermercado; o nível de cucurbitacina só é alto quando há polinização cruzada acidental com cabaças selvagens. (Mas, atenção, hortelões: se a abóbora que plantaram em casa tiver gosto amargo, não coma.)
Como e quando você deve me comer?
Ora, aqui no Brasil, durante praticamente o ano inteiro: colha abobrinhas verdes e amarelas que estejam tenras e não sejam muito grandes, e não esqueça a cambuquira, minha linda flor laranja-amarelada, que fica ótima em tortilhas ou recheada de queijo e refogada.
Bolota, cheirosa, espaguete, cabotiá e muitas outras – qualquer que seja o nome ou a variedade, todas podem ser comidas com ou sem casca. A moganga (ou moranga ou mogango), a abóbora-cheirosa e a cabotiá podem ser cortadas ao meio para remover as sementes e levadas ao forno até ficarem macios. Polvilhe açúcar para obter uma crosta caramelizada. Você também pode me rechear como os franceses gostam, com arroz ou pão dormido e carne, e terá um prato principal bonito e saudável.
Como fico mais doce quanto mais bronzeio e caramelizo, não tenha medo de me assar em temperatura alta (220°) e não me tire do forno cedo demais.
Se fizer uma sopa, asse e doure os pedaços de abóbora e, depois, amasse a polpa para obter uma doçura mais intensa.
Ah, se vir uma cabotiá verde ou laranja na feira, compre. Parece uma moranga, mas é mais doce e deliciosa.
E para quem está interessado na sobremesa, minhas versões cozida com acúcar e coco ou cristalizada são irresistíveis.
POR KATE LOWENSTEIN E DANIEL GRITZER