O comprador de livros

Quem disse que a diversão e a curiosidade que se pode encontrar em uma livraria estão restritas aos livros? As pessoas são igualmente fontes de humor.

Redação | 19 de Maio de 2018 às 19:33

shelma1/iStock -

Trabalhar em uma livraria é o emprego dos sonhos de muitos amantes de livros. O principal motivo, óbvio, é viver rodeado por eles o dia inteiro e quem sabe poder dar uma espiada em cada um deles de vez em quando. Mas há outros bons motivos para se querer trabalhar em uma livraria: os clientes e o humor.

Para alguém desatento, a livraria pode parecer apenas um lugar de pessoas serenas à procura de alguma distração. Mas a verdade é que a livraria é uma verdadeira miscelânea de personagens. Cada pessoa ali parece ter saltado das páginas dos livros. E os gêneros destes vieram variam bastante: vão do horror ao romance. Hoje, por exemplo, lembrei-me de um personagem de comédia. Ou seria de um suspense?

Já fazia um tempo que eu trabalhava naquela livraria, era jovem e muito animado com tudo. Adorava conversar sobre livros com os clientes. Um dia fui abordado por um senhor meio esbaforido e sorridente. Fiquei feliz em finalmente encontrar um cliente que parecia simpático e disposto a conversar. Comecei com o atendimento padrão, cumprimentando-o e perguntando em que poderia ajudá-lo. A resposta veio sem titubear:

– Preciso de um drama infantil!

– Drama infantil? – repeti, meio confuso. – O senhor quer um livro com texto de peças de teatro?

Ele balançando a cabeça em negativa e, sacudindo as mãos, disse:

– Não, não. Quero um livro infantil que conte uma história bem triste e dramática. Daquelas que fazem a gente sofrer, sabe? É para dar de presente!

Achei o pedido peculiar e resolvi fazer um comentário de brincadeira enquanto pensava em um bom título para indicar.

– Nossa! Que pedido diferente. Mas, pensando bem, muitas histórias infantis são mesmo dramáticas. A Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, vai visitar a avó que mora sozinha no meio de uma floresta perigosa. A menina, no meio do caminho, acaba encontrando um lobo sinistro. Quando chega à casa da avó, a velhinha tinha sido devorada pelo lobo que devora a menina também. Até que aparece um lenhador, mata o lobo faminto e abre sua barriga para salvar a avó e a netinha. De fato, acho que nossa infância foi superdramática.

– É isso! – exclama ele. – É esse o livro que eu quero! Muito obrigado! Você é fantástico!

Ele então pegou um exemplar na estante e saiu correndo para o caixa, feliz da vida, sem me dar tempo de explicar que eu só estava brincando. Mas a verdade é que até hoje me pergunto para quem era aquele presente…

Por Douglas Ferreira