O perigo como inspiração

Sempre em busca do perigo como tema, Graham Greene teve uma vida cheia de aventuras que podem ser lidas em sue inúmeros romance

Redação | 23 de Fevereiro de 2019 às 15:22

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Seu primeiro livro de sucesso foi O Expresso do Oriente (1932). Em seus romances, Graham Greene retrata pessoas que encontrou e lugares onde viveu. Muitos de seus livros foram levados ao cinema.

“Um jogo com 16% de chances de se perder”, era assim que Graham Greene encarava a sua experiência com um revolver carregado com uma única bala, que encontrara no armário do irmão mais velho. Greene não tinha qualquer motivo aparente para correr o risco de se matar — era um bom aluno em Oxford, editava uma revista de estudantes e levava uma vida ativa. Mas, como um amigo explicou, “ele não jogava roleta-russa para morrer, mas para ter emoções fortes”.

À procura de locais perigosos

Graham Greene sempre sofreu de tédio e o fascínio da morte foram os fatores determinantes da carreira. Assim que deixou de brincar com revólveres, sentiu-se irresistivelmente atraído pelos lugares mais perigosos da Terra. Da Guerra Civil Espanhola ao conflito no Congo Belga, das guerras no Vietnã ao corrupto regime do Haiti; da Cuba de Fulgêncio Batista à Nicarágua pré-sandinista e do canal de Suez, em plena Guerra dos Seis Dias, às ruas de Belfast. Greene percorreu o mundo perseguido pelo tédio.

Para livrar-se de seu mal, ofereceu-se para ser enviado ao que ele chamava de “limite perigoso das coisas”. Os regimes instáveis o fascinavam, e ele viu muitos caírem. Mas Greene não foi um mero observador distante: também se deixou envolver pelas situações. Tais impulsos levaram-no a transportar agasalhos para os revolucionários cubanos escondidos nas montanhas e munição para os sandinistas da Nicarágua; por ter ridicularizado Papa Doc, ditador do Haiti, o governo haitiano o acusou de pervertido e, o que é ainda mais inverossímil, torturador.

Destilando experiência 

Os romances de Graham Greene foram muitas vezes tirados de suas experiências pessoais; de fato, o escritor viajou muitas vezes à procura de temas. Para escrever A Burnt-out Case (Um caso liquidado), Greene passou três meses numa colônia de leprosos no Congo. Assim como precisava viajar, também tinha necessidade de escrever. Para ele, as duas coisas  eram formas de ação. Assim, escrever era uma maneira de dar sentido à “loucura e melancolia” da existência humana. Também afirmava ser incapaz de compreender como outros conseguiam viver sem interpretar suas vidas através da escrita, da pintura, da música ou da pintura.

É curioso como Greene, mesmo concebendo a vida dessa forma, sempre temendo o tédio, tenha conseguido entreter, intrigar e encantar milhões de leitores.

Mais curioso, ele também escreveu  quatro livros infantis; O Pequeno Comboio (1946), O Pequeno Carro de Bombeiro (1950), O Pequeno Ônibus a Cavalos (1952) e O Pequeno Rolo Compresor a Vapor (1953).