Por que muitas pessoas têm obsessão pelo corpo perfeito?

Beleza é uma mercadoria de alto valor em uma sociedade obcecada pela imagem. Na verdade, basta abrir uma revista ou jornal, em qualquer dia da semana,

Julia Monsores | 7 de Novembro de 2020 às 14:00

undrey/iStock -

Beleza é uma mercadoria de alto valor em uma sociedade obcecada pela imagem. Na verdade, basta abrir uma revista ou jornal, em qualquer dia da semana, para que a mensagem nos seja transmitida alto e bom som: ser magra e jovem é o padrão de beleza. O que consequentemente gera uma obsessão pelo corpo perfeito.

Ortorexia nervosa: os perigos da obsessão por dieta

Uma pesquisa realizada pelo grupo Datastore, encomendada pelo psiquiatra Augusto Cury para embasar seu livro A ditadura da beleza, revelou que apenas duas em cada dez entrevistadas estão absolutamente satisfeitas com o próprio corpo. Em outras palavras, a maioria das mulheres ao seu redor acordou se sentindo crítica e negativa em relação à própria aparência. (Possivelmente você mesma!)

Trata-se de um pensamento sombrio. E que provoca a seguinte reflexão: como foi que esse sexo fabuloso se tornou tão obcecado pela aparência física? E por que não abrimos os olhos e nos livramos dos estereótipos?

“Se todas as mulheres do mundo acordassem, dessem um tapa na própria cabeça e dissessem: ‘Estou satisfeita com quem sou’, economias inteiras ruiriam”, diz Jane Caro, premiada autora de textos de publicidade e co-autora do livro “Como aprendemos a acreditar no feminismo”.

Os efeitos nocivos da publicidade para a obsessão pelo corpo perfeito

Jane Caro acredita que as indústrias da moda e de cosméticos possuem um interesse velado em manter as mulheres inseguras. Apresentando um ideal que ninguém jamais poderá atingir.

“A publicidade não é imoral, ela é amoral”, afirma. “Ela é sensível a onde o dinheiro e o desejo estão.” 

Do ponto de vista lógico, sabemos que muitas das imagens presentes em anúncios, revistas e filmes são versões idealizadas da realidade. Muitas vezes realçadas pelo Photoshop. Mas ainda assim nos angustiamos com as diferenças entre elas e nós, detendo-nos em detalhes mínimos.

Bodyism

“As mulheres vêem a perfeição à sua volta e fazem uma com comparação social detalhada”, diz a professora Marika Tiggemann, da faculdade de Psicologia da Flinders University. A dissecação da forma feminina na publicidade, onde bumbuns, pernas, seios e bocas são isolados e glorificados, é conhecida como bodyism.

As mulheres também isolam aspectos de seu corpo. Embora normalmente com o intuito de lhes dar atenção negativa. Uma recente pesquisa realizada pela revista HealthSmart revelou que as mulheres são mais críticas em relação às suas barrigas, coxas e bumbuns.

A mídia costuma ser retratada como o bicho-papão no debate sobre o corpo e a imagem. Mas especialistas como a professora Susan Paxton, da faculdade de Ciências Psicológicas da La Trobe University, dizem que isso é só parte do problema. Paxton observa que as mulheres recebem da família, desde muito cedo, mensagens sobre a aparência física.

Os efeitos nas crianças

“Há evidências de que por volta dos 3 anos, crianças preferem gente magra”, diz ela.

“Quando lhes é dada a opção de escolher a foto de uma criança gorducha ou de uma criança magra para ser sua amiga, elas costumam escolher a última opção.”

A forma de os pais encararem o próprio corpo também tem impacto sobre as atitudes dos filhos. “Uma mãe que vive de dieta ou que é eternamente crítica em relação ao próprio corpo está enviando uma mensagem clara para as filhas”, diz Marika Tiggemann. “Essa sensação de insatisfação é passada adiante.”

A pressão antiobesidade é, também, pouco útil. “Ela mudou o enfoque da questão, passando da saúde para o peso e a aparência”, diz Marika.

Autoestima em alta: 6 razões para amar o seu corpo

Por trás da fachada de saúde

Os resultados de um estudo de 12 anos publicado no Journal of the American Medical Association mostraram que, embora o fato de se estar acima do peso por si só diminua a expectativa de vida de uma pessoa, indivíduos que são gordos, mas que estão em forma (ou seja, que fazem 30 minutos de caminhada quase todos os dias), não correm maior risco de morrer.

Assim, podemos ser gordos, estar em forma e sermos fabulosos. O problema é que o magro é o novo belo e ser belo sempre foi valorizado. Pesquisas mostram que acreditamos que gente atraente possua características desejáveis, tais como inteligência, autoconfiança, traquejo social e virtudes morais superiores. A idéia de que “ser belo é ser abençoado” está gravada no nosso DNA.

Imagine um dia em que todas as mulheres que você conhece acordarem sorrindo. Sorrindo porque acordaram se sentindo ótimas em relação a si mesmas. Independentemente do manequim que vestem, sem uma obsessão pelo corpo perfeito…

Por Melisande Clarke