O exemplo japonês de reciclagem que o Brasil deveria seguir

A cidade de Yokohama tem agora mais dez categorias de lixo. Os moradores da cidade receberam um livreto de 27 páginas com instruções de como classificar

Redação | 25 de Junho de 2019 às 21:00

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A cidade de Yokohama tem agora mais dez categorias de lixo. Os moradores da cidade receberam um livreto de 27 páginas com instruções de como classificar seus detritos – havia detalhes sobre cerca de 518 itens!

Batom está na categoria dos incineráveis. Antes de jogar fora a chaleira, prepare a fita métrica: se ela tiver menos de 30 cm, fica na categoria dos metais pequenos, porém, se for maior, vai para a de “refugos volumosos”. Meias? Um pé apenas é incinerável. O par vai para roupas usadas. Mas só se as meias “não estiverem rasgadas e os pés direito e esquerdo combinarem”.

“No começo era muito difícil”, confessa Sumir Uchiki, 65 anos, cujo bairro peleja com as dez categorias como parte de um projeto-piloto. 

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Para qualquer pessoa que luta para classificar seu lixo em apenas algumas categorias, o Japão pode dar um gostinho do que será o dia-a-dia no futuro. Numa campanha nacional para reduzir a quantidade de resíduos e aumentar a reciclagem, bairros, prédios comerciais, cidades grandes e pequenas estão elevando ainda mais o número de categorias de classificação do lixo – às vezes para números exorbitantes. 

Na verdade, Yokohama, com 3,5 milhões de habitantes, parece negligente em comparação com Kamikatsu, cidadezinha com 2.200 pessoas em Shikoku, a menor das quatro principais ilhas do Japão. Não satisfeitos com as 34 categorias de detritos definidas quatro anos atrás, os residentes de Kamikatsu decidiram elevar gradualmente esse número para 44. 

No Japão, o esforço a longo prazo para classificar e reciclar tem como objetivo reduzir a quantidade de lixo que chega aos incineradores. Nesse país com escassez de terra, a proporção de lixo incinerado chega a 80%. O processo de classificar e reciclar o lixo, que é mais “amigável” ao meio ambiente, pode ser mais caro do que jogá-lo em aterros sanitários, dizem os especialistas, mas o custo é comparável a incinerá-lo. 

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“A classificação do lixo não é mais cara do que a incineração”, afirma Hideki Kidoshi, pesquisador do Centro para a Estratégia de Emergência do Intituto de Pesquisa no Japão. “Aqui, classificar e reciclar ainda vão evoluir mais.” Em Yokohama, o objetivo é reduzir o lixo incinerável em 30% nos próximos anos. 

Hoje, cada domicílio de Kamikatsu tem uma unidade coletora que recicla o lixo orgânico e o transforma em adubo. Na Estação de Reciclagem, os moradores depositam de tudo: de tampas plásticas a hashis descartáveis. 

Masaharu Tokimoto, 77 anos, dirigiu seu caminhão até a estação e pôs as garrafas de cor marrom e as de vidro transparente nas caixas adequadas. Verificou o rótulo das latas para saber se eram de alumínio ou aço. Cerca de 15 minutos depois, Tokimoto havia terminado. “A cidade está muito mais limpa com a nova política do lixo”, disse. “É uma chatice, confesso. Mas não posso jogar os lixos nas montanhas. Seria uma infração.”