A nutricionista e o bolo de aniversário

Há alguns dias, eu estava numa festa de aniversário. Num pátio ao ar livre, com álcool em gel nas árvores. À beira de um boteco fuleirinho.   Tinham

Marina Estevão | 28 de Agosto de 2021 às 10:00

Say-Cheese/iStock -

Há alguns dias, eu estava numa festa de aniversário.

Num pátio ao ar livre, com álcool em gel nas árvores.

À beira de um boteco fuleirinho.  

Tinham uns brinquedos velhos em volta.

Uma escada também velha que ia pra Santa Teresa.

Eu me sentia no recreio do Carandiru.  

E aí tinha umas pessoas que eu conhecia, alguns amigos, uns fantasmas e uns desconhecidos.

Até que no meio da multidão eu avisto uma pessoa que me parece familiar.

Eu já tinha visto aquela garota.

À época, ela tinha cabelo mais curto, mas era o mesmo rosto, mesmo tom de pele e mesmo sorriso.

Como pode?

Só poderia ser um pesadelo dos quilos na minha cabeça.

Era a minha nutricionista.

Na verdade, uma das 84 que eu visitei nos últimos 20 anos.

A última que eu tinha ido, uns anos atrás.

Eu não sei se ela lembrava de mim, mas eu lembrava dela com muita clareza.

Eu tinha que cortar o açúcar.

Obviamente, só consegui por um tempo.

E então, o inesperado aconteceu.

Fomos cantar parabéns e a moça foi cortar o bolo.

Eu, obviamente, estava na fila porque não sou boba de deixar passar um bolinho.

Ela cortou um pedaço e olhou dentro dos meus olhos

— Quer bolo?

Nesse momento, eu esperava o momento UEPA do programa do Ratinho, ou o João Kleber gritando PARA, PARA, PARA!

Mas não.

Não havia câmeras, não era um teste de fidelidade à minha insulina.

Era eu e a menina, que tinha a minha idade, e tinha suspendido meu mate com limão.

Olhei para ela com a mesma intensidade.

Soaram os tambores.

— Quero sim – respondi, sorridente.

Chama o Samu!