Vamos caçar imagens?

Confira as observações da escritora Cláudia Nina sobre o romance juvenil "Caçadores de Imagens" de Ricardo Labuto Gondim.

Julia Monsores | 3 de Janeiro de 2020 às 14:00

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Quando bati os olhos no título deste livro – Caçadores de imagens – e vi que era um romance juvenil, logo me imaginei fazendo um filme, que seria o da minha infância, mas deparei com a dificuldade de encontrar as imagens que mais significassem. A memória porosa, cheia de falhas, não me devolvia o melhor que vivi. Meu filme seria um fracasso diante da minha história, pensei. Aí eu teria que inventar, caçar imagens, a fim de conseguir fazer o filme da minha infância a partir de cenas roubadas. Ou será que eu conseguiria fazer um filme totalmente diferente de tudo isso, um filme de aventura, por exemplo?

Este livro é uma brincadeira, uma aventura de um grupo de jovens cineastas que, na casa de Carlinhos e da Tia Nadir, o lar dos Caçadores de Imagens, a velha construção Mansão Wayne, resolvem colocar em prática a produção de um filme. O cenário histórico é o subúrbio carioca dos anos 1980. Renata, Carlinhos, Zé Henrique, Éder e Dalmo são os Caçadores de Imagens. Eles fotografam histórias nos velhos slides e depois exibem para a criançada do bairro. Após o sucesso de “King Kong no espaço”, decidem se arriscar em um concurso de cinema adulto e se lançam na tal aventura de produção.

O filme? O submarino fantasma.

“Naquela tarde vermelha de sábado, uma turma animada fazia fila entre o portão da casa do Carlinhos e a carrocinha do pipoqueiro. A cerimônia era simples, a ocasião era grande. Sobre o velho cavalete de pintura, o cartaz feito a mão anunciava a estreia da nova produção dos Caçadores de imagens” – é o anúncio da Avant-Première.

Quando se é jovem, há menos filtros e tudo parece possível. 

Este livro deliciosamente bem escrito e cheio de nostalgia pela irrecuperável década de 1980 acena para a possibilidade de que fazer um filme é caçar imagens; é ousar criar livremente a aventura que se tem na mente. Quando se é jovem, há menos filtros e tudo parece possível. Fica, então, a sugestão latente: se pudéssemos juntar nossos amigos de infância ou juventude na criação de uma história de imagens que cenas escolheríamos?

Eu pensei na infância, porque não sei se teria fôlego para ir ao fundo do mar ou a mundos intergalácticos caçar imagens… Mas aí, como escrevi no início, volto com a dúvida: que imagens eu escolheria?

Estou dentro de um Fusca amarelo com meu pai, no Centro do Rio de Janeiro, em um domingo de jogo voltando para casa depois de uma tarde com a minha avó. O carro, ao contrário do submarino dos Caçadores de Imagens, não ia muito longe, pois fico parada em um engarrafamento monstro, vendo meu resto de domingo desaparecer na janela. Logo depois de pensar na cena, volto para o livro.

Não, eu não iria fazer um filme sobre minha infância sem graça… Melhor seria eu me juntar a essa turma e ir para a casa do Carlinhos pensar em como caçar imagens e aventuras.

 por Claudia Nina