Conheça a cafeteria dos gatos de Paris

Acompanhe um dia na cafeteria em Paris onde os gatos são moradores ilustres.

Redação | 4 de Janeiro de 2019 às 11:00

ANTOINE DOYEN -

Cafeterias com gatos estão bombando e não é de hoje. Conheça o charmoso café em Paris onde os gatos são os ilustres moradores:

Yoda gosta de uma vida divertida. Da confortável posição estratégica de um colo amigo, o gato sem pelos da raça Sphinx observa o lugar.

Há a Doudou, deitada em uma rede na janela e que não para de falar. Doudou adora conversar consigo mesma. Um casal de humanos, um macho e uma fêmea, se sentam perto dela, escutando atentamente como se pudesse entender o que a gata diz. Yoda ri sozinho. Esses humanos que vêm nos visitar – eles nos amam demais, mas não fazem ideia do que realmente pensamos!

E o que mais acontece no local? Em uma das mesas, uma fêmea humana segura um grande copo de leite com creme no topo. Yoda lambe os lábios. Ele provavelmente vai descobrir o que é aquilo logo, logo. Ele sabe que não deve tocar na comida dos humanos, mas é difícil resistir ao chantili.

Yoda então vê Mouchou no alto de uma prateleira. Ele está muito interessado em uma fêmea humana abaixo com uma grande pilha de papéis perto dela. Sem falar de uma bolsa bastante convidativa. Será irresistível para Mouchou. Adolescente típico, ele adora uma brincadeira. Yoda boceja novamente e coça o peito rosado. Talvez seja hora de um outro cochilo…

É sexta-feira à tarde no Chat Mallows Café, em Paris, e as cerca de 12 mesas estão começando a ficar ocupadas com os clientes.

Eles entram silenciosos, sussurrando. As regras dizem que não façam barulho. Alguns dos 16 gatos que vivem ali estão dormindo, e não devem ser incomodados. Os clientes são predominantemente mulheres, apesar de haver alguns casais mistos. Em uma mesa perto da janela, Chloé Lardy e Maxime Lamoureux sussurram algo para uma bola de pelos que ronrona em uma rede. É a terceira visita de Chloé à cafeteria. Ela ama gatos, diz, e tem dois em casa. No entanto, é a primeira vez de Maxime. Quando ele era criança, tinha medo de gatos, conta ele, mas superou isso.

Lauranne Bohère com Yoda, o Sphinx pelado que mora no Chat Mallows Café.

Em outra mesa, Clémence Fontaine também parece nervosa, mas por um motivo diferente. Um gato Sphinx rosa e sem pelos, com orelhas de morcego, pulou sobre a mesa e está de olho no seu milkshake com cobertura de creme. Muito chantili nas sobremesas é uma especialidade aqui, principalmente sobre as exóticas Délice Doudou e Délice Mimi, em homenagem aos gatos residentes. É a segunda visita de Clémence.

“Gosto daqui porque é aconchegante, e eu amo gatos”, diz ela.

Do outro lado, a Dra. Pauline Delahaye, especialista em semiótica animal na Sorbonne, tem uma pilha de pastas sobre sua mesa e está ocupada tomando notas em um livro.

“Já estive aqui quatro ou cinco vezes”, conta ela. “As pessoas precisam falar baixo por causa dos gatos, de modo que este é um local tranquilo para trabalhar. E se você pode comer e beber aqui, então é melhor do que uma biblioteca. Quando me mudei de Lille para Paris, infelizmente não pude trazer meu gato. Estou acostumada a ter um gato perto de mim quando trabalho, então me sinto bem de trabalhar aqui.”

Mouchou está de olho na Dr. Pauline Delahaye, no Chat Mallows Café.

O trabalho da Dra. Delahaye diz respeito à expressão emocional nos animais. Será que ela pode nos dar uma ideia do que os gatos estão pensando neste exato momento? “No meu campo de estudo, temos um ditado: o gato para o behaviorista é como o ornitorrinco para o biólogo – sabemos que ele existe, mas não compreendemos como. O que eles estão pensando agora? Algo do tipo ‘Posso transformar esta pequena bolsa na minha casa’.” Ela ri enquanto um grande gato peludo tenta entrar na sua bolsa.

Por todo lado na cafeteria há imagens de gatos e, se há uma vaga atmosfera japonesa de Hello Kitty no lugar, não é coincidência.

Apesar de Taiwan reivindicar a criação do primeiro café com gatos do mundo, o Cat Flower Garden, inaugurado em 1998, foi no Japão que a moda realmente pegou. Em um país onde as pessoas geralmente não têm espaço ou tempo para cuidar de seus animais de estimação, a possibilidade de passar momentos com gatos em um café se provou difícil de resistir.

Nos últimos dez anos, mais de 150 cafés com gatos foram abertos no Japão, com mais de 40 só em Tóquio.

E agora o restante do mundo está adorando essa febre de cafeterias com gatos, com novos estabelecimentos que abrem quase toda semana, de Wellington, na Nova Zelândia, a Washington, DC, e de Estocolmo a Saskatchewan, no Canadá. E aqui em Paris – sem falar também do restante da Europa.

“Na França, todos amamos gatos”, revela Lauranne Bohère, assistente da gerência no Chat Mallows Café, que abriu em 2015.

“Gatos são animais relaxantes, e aqui é um lugar tranquilo, onde fica fácil descansar – o que é bom para os franceses, porque temos a tendência de nos estressar muito, principalmente em Paris!”

Ela cita a teoria de que a vibração do ronronar de um gato tem efeito calmante e benéfico em humanos. Ela é conhecida como “ronron therapie” (terapia do ronrom).

Lauranne ajuda a preparar os pratos, serve às mesas e também cuida dos gatos. É seu emprego dos sonhos. “Amo gatos desde meus quatro anos de idade”, diz ela. “Minha casa não fica longe daqui, então, quando soube do café, pensei: ‘É perto de casa e há muitos gatos lá. Preciso trabalhar nesse café!’ Tenho meu próprio gato em casa, e ele é ciumento. Ele cheira as minhas roupas quando chego em casa e me olha como se dissesse: ‘Ah, você viu outros gatos além de mim.’ Os gatos daqui não são meus, mas eu os amo.”

Porém, o Chat Mallows Café não é a primeira cafeteria com gatos que surgiu na capital francesa.

Essa honra vai para o Le Café des Chats, que abriu as portas em 2013, na região do Marais, antes de se mudar para a Bastilha. Ele foi fundado por Margaux Gandelon, uma estudante de Ciências Políticas e Relações Internacionais que queria dar um propósito à sua vida profissional, e cujas paixões eram animais e cozinhar.

Ela ouviu falar dos cafés de gatos no Japão, mas queria que seu estabelecimento fosse mais um restaurante do que uma cafeteria. Ela oferece pratos tradicionais produzidos no local. A atmosfera do Le Café des Chats tem estilo boêmio shabby-chic (que mistura elementos antigos com modernos), e poderia ser uma cervejaria parisiense típica se não fosse a dezena de gatos que fazem dele o seu lar.

Como pioneira de uma cafeteria com gatos na França, Margaux também passou por dificuldades. “Tive de esperar por uma resposta oficial do Ministério da Agricultura antes de saber se poderia funcionar”, diz ela sorrindo.

A seguir, teve de lidar com as preocupações sobre bem-estar animal. Ela recebeu muitas visitas de integrantes de sociedades protetoras dos animais da França. “Eles não me conheciam e queriam garantir que os gatos seriam bem-tratados”, diz ela.

O bem-estar dos animais é prioridade.

Como no Chat Mallows Café, regras rígidas são aplicadas no Le Café des Chats. Os clientes devem passar álcool em gel nas mãos antes de entrar e precisam obedecer a três regras principais: não acordar os gatos se eles estiverem dormindo, não alimentá-los e não usar flash nas fotos.

Os gatos são escolhidos por serem sociáveis, mas têm seu próprio quarto, onde os clientes não podem entrar se eles quiserem ficar sozinhos.

Todos os gatos no Le Café des Chats são resgatados da rua, e cada um tem uma história. Lucky, por exemplo, é um Chartreux cinza que foi encontrado em um estacionamento. O gerente Florent L’Hommée acha que ele talvez tenha sido abandonado por um criador ilegal, porque há algo de errado em seus movimentos. Lucky adora escalar, então está à vontade no Le Café des Chats, com suas muitas prateleiras altas, que permitem que os gatos vigiem o seu domínio.

Às vezes, porém, um gato pode se cansar da vida no café. “Você percebe uma mudança no humor, e ele começa a dormir mais”, diz Florent. Quando isso ocorre, ele é mandado para a casa de um funcionário ou de um cliente assíduo do café. Uma vez que faça parte da família felina, sempre será cuidado.

Hoje, a trupe está ocupada, entretendo os últimos visitantes.

“Viemos porque amamos gatos e achamos que podia ser interessante ver o conceito”, conta Marjorie Richard, que está visitando Paris com a filha. “É legal porque faz com que as pessoas conversem entre si”, complementa ela, destacando outra característica das cafeterias com gatos: elas aproximam as pessoas.

“A gente escuta várias línguas aqui – pessoas vêm do mundo todo”, diz Florent. “Enquanto estão aqui, elas fazem parte de uma única comunidade. Todos vêm por causa dos gatos.”

Com seu senso de comunhão e atmosfera de reverência silenciosa, é ir longe demais sugerir que os cafés com gatos têm algo em comum com uma igreja? Talvez não. Afinal, os egípcios adoravam uma deusa gato. Pergunte ao Yoda – afinal, ele é um Sphinx.

Um gato siamês cumprimenta Marjorie Richard e a filha no Le Café des Chats.

Chat Mallows Café: 30 rue des Volontaires, Paris 15; chatmallowscafe.fr
Le Café des Chats: 9 rue Sedaine, Paris 11; lecafedeschats.fr.

Por TIM HULSE