Ser gordo é tão ruim assim para a saúde?

Estar acima do peso pode não ser tão perigoso assim. Segundo especialistas, praticar exercício e se alimentar bem é mais importante.

Douglas Ferreira | 21 de Julho de 2021 às 15:00

Deagreez/iStock -

Se você está acima do peso, qualquer médico lhe dirá para perder alguns quilos. E, sim, manter um peso sadio é certamente muito bom para seu coração e para sua saúde geral. Mas, assim como acontece com a relação de colesterol e doença cardíaca, a história por trás do peso e doença cardíaca não é assim tão clara e direta como já pareceu. Acontece que estar em forma, ou pelo menos fisicamente ativo, pode ser mais importante do que estar magro.

Empenhar-se em um estilo de vida ativo e saudável é muito importante, independentemente do seu peso. Pesquisas impressionantes indicam que estar acima do peso, mas ativo, é melhor para a saúde do que ser um sedentário magro.

Exercício e boa alimentação são mais importantes do que peso

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Se a ideia de que você possa estar acima do peso e saudável parece difícil de engolir, considere isto: em 2008, uma pesquisa com a população americana publicada no periódico Archives of Internal Medicine indicou que metade dos americanos que eram considerados acima do peso em termos de seus índices de massa corporal (IMC) não tinha qualquer risco maior de doença cardíaca, a não ser a alegada desvantagem de estar acima do peso. Eles tinham baixo LDL (o colesterol “ruim”) e elevado HDL (o colesterol “bom”), níveis sadios de açúcar no sangue (o que significa um risco baixo de diabetes), pressão arterial normal e apenas quantidades modestas de gordura visceral, a gordura que se acumula profundamente no abdome, envolvendo os órgãos internos e aumentando enormemente o risco de doença cardíaca. Espantoso? Sim. Mas não inexplicável.

O elemento-chave que a maioria das pessoas do estudo tem em comum é um estilo de vida ativo e saudável. Apesar de carregarem alguns quilos extras, eles saem e se exercitam, e tentam comer bem. Surpreendentemente, o que isso significa é que fazer o esforço para perder peso pode simplesmente ser tão benéfico quanto realmente perdê-lo. 

Isso também significa que não fazer o esforço para comer corretamente e se exercitar pode ser perigoso mesmo para pessoas que não estão acima do peso. De fato, cardiologistas da Clínica Mayo descobriram algo chocante quando observaram um grupo de pessoas com IMC normal, mas cujas contagens de colesterol estavam perigosas e cujo controle de açúcar no sangue era precário: essas pessoas de “peso normal” eram clinicamente obesas de acordo com outra medição, sua porcentagem de gordura corporal. Pelo menos um terço do corpo delas consistia em gordura! Pior, elas normalmente carregavam a gordura extra na seção média do corpo, na forma de gordura visceral.

Vida sedentária e dieta pobre: os principais vilões da saúde

Os pesquisadores apontaram estilos de vida sedentários e dietas pobres como os prováveis culpados. A falta de exercício certamente explicaria a quantidade de gordura visceral que essas pessoas “secretamente gordas” carregam: como essa gordura é tão ativa metabolicamente, ela é uma das primeiras a murchar quando você começa a se exercitar. Como é possível carregar tanta gordura visceral e ainda ter um IMC normal? É simples: músculo pesa mais do que gordura, e esse grupo, os pesquisadores descobriram, tinha pouca massa muscular, que era substituída por gordura.

Praticar exercício e se alimentar bem é mais importante do que peso. (Imagem: DragonImages/iStock)

Nada disso é novidade para o Dr. Steven Blair, um pesquisador que, por anos, trabalhou com a Clínica Cooper em Dallas, um instituto devotado à pesquisa sobre exercícios aeróbicos e perda de peso, para destrinchar os perigos reais de se estar acima do peso e como o exercício poderia reduzir esses riscos.

Há 30 anos ele publica resultados que sugerem que nosso foco está no problema errado. O Dr. Blair rastreou mais de 80.000 pessoas, medindo seus níveis de aptidão física e seus pesos e alturas, e descobriu que pessoas magras e de peso normal que não se exercitam são duas vezes mais propensas a sofrer de doença cardíaca, AVC ou morte prematura por outras causas do que pessoas com sobrepeso que se exercitam regularmente.

E quanto às pessoas com sobrepeso que se exercitam?

Pessoas com sobrepeso que possuam uma vida ativa e saudável, têm marcadores de saúde cardíaca de se invejar: colesterol normal, HDL elevado, pressão arterial saudável, excelente proporção cintura-quadril. Por quase todas as medidas, exceto uma – peso –, elas são saudáveis. Essa é a razão pela qual o Dr. Blair, um homem que se descreve como gordinho, argumentaria que o peso, na companhia de um estilo de vida saudável quanto ao resto, é bem menos nocivo do que o mundo faria você acreditar.

Pessoas magras que não se exercitam são duas vezes mais propensas a sofrer doença cardíaca do que pessoas com excesso de peso que se exercitam.

Qualquer esforço leva muito tempo

Se a sua preocupação é com a saúde, você deve focar mais em levar uma vida saudável do que em perder peso. Em vez de ficar obcecado com a balança, busque formas simples e agradáveis de obter prazer em refeições mais saudáveis e pratique mais atividade física. Perdendo peso ou não, a cada exercício e refeição saudável que fizer, você se aproximará mais da boa saúde cardíaca. 

A propósito, você pode parar de procurar a dieta perfeita. As dietas da moda são apenas dietas para resultados rápidos e passageiros e não resolvem o problema; o ideal é buscar uma reeducação alimentar.

Na última década, pesquisadores confrontaram variados planos de perda de peso uns contra os outros em diversos estudos, alguns durante 6 meses, outros com duração de até 6 anos. Apesar de todo tempo e esforço, eles não descobriram diferenças entre métodos conflitantes, tais como: Atkins, Ornish, baixo teor de gordura, baixo teor de carboidratos e Paleolítico. Todas as dietas saíram praticamente empatadas em termos de quilos perdidos. Houve alguma evidência de que um método com poucos carboidratos e rico em proteína realmente ofereceu uma leve vantagem, mas mesmo nesse plano as pessoas perderam uma média de apenas 6 quilos em um ano e meio.

Mas, calma, qualquer perda de peso – ou mesmo a manutenção do peso atual – que venha de bons hábitos alimentares e de exercícios regulares é muito boa para seu coração e a saúde geral. Vários estudos indicaram que perder 10% do peso corporal proporciona a maioria dos benefícios para a saúde que uma pessoa de peso normal desfruta, mesmo se você começou com excesso de peso e ainda está nessa categoria. Perder apenas 5 quilos pode resultar em um decréscimo significativo na pressão arterial e no risco de doença cardíaca.