Conheça o mistério médico que intrigou especialistas

Alguns casos intrigam até mesmo os médicos mais experientes. Fique por dentro de mais um mistério médico que entrou para a história!

Redação | 1 de Abril de 2020 às 01:01

Motortion/iStock -

Alguns casos intrigam até mesmo os médicos mais experientes. O caso médico abaixo certamente está nessa lista de mistérios médicos que intrigam os especialistas.

PACIENTE: Rosa (nome alterado para proteger a privacidade), dona de casa de 42 anos
SINTOMAS: Dor forte em ambas as mãos
MÉDICO: Dr. Isaac Shturman Sirota, cirurgião plástico cosmético e reconstrutor do Hospital Angeles Lomas, na Cidade do México

Em 2006, Rosa começou a sentir dor leve e formigamento na mão direita. As articulações do anelar e do mínimo estavam rígidas, e a sensação era de que as mãos estavam inchadas, embora parecessem normais. Algumas semanas depois, o mesmo incômodo começou na mão esquerda. Durante muito tempo, a mãe ocupada de dois meninos conseguiu levar a vida cotidiana.

Mas, nos anos seguintes, as mãos ficaram mais fracas. Inesperadamente, um livro ou uma caneca caía de seus dedos. A dor se intensificou aos poucos até ficar insuportável.

“Parecia que minhas mãos queimavam”, recorda Rosa. Tarefas de rotina, como ligar a seta do carro, viraram uma tortura. “À noite, eu chorava de dor”, diz ela. Rosa foi de um especialista a outro. Fizeram exames, sempre com o mesmo resultado: aparentemente, não havia nada errado.

Desconforto no quarto e no quinto dedos é sintoma típico de irritação e compressão em algum ponto do nervo ulnar, que vai do cotovelo à mão, e pode se desenvolver com o dobrar repetitivo do cotovelo ou mesmo com a pressão constante das mãos no guidom da bicicleta. Na maioria das vezes, é possível corrigir a compressão do nervo ulnar com cirurgia.

No entanto, a doença costuma causar algum grau de dormência nos dedos – Rosa só sentia dor – e, quando ela fez um exame de neurocondução para diagnosticar a compressão, o resultado foi negativo.

Para aliviar a agonia, os médicos de Rosa receitaram anti-inflamatórios, que não adiantaram. A dor só sumia quando ela usava talas rígidas no punho. “Todo mundo dizia que eu estava bem, que não havia nada anormal nos exames”, conta ela, embora mal conseguisse usar as mãos. “Eu estava triste e sentia muita dor. Achei que ficaria assim para sempre.”

A primeira consulta com o Dr. Isaac Shturman Sirota

No verão de 2016, dez anos depois do início dos sintomas, Rosa marcou uma consulta com o Dr. Isaac Shturman Sirota, cirurgião do Hospital Angeles Lomas, na Cidade do México, que tratara parentes seus. Os exames de Rosa não indicaram compressão, mas um sintoma não escapou à atenção de Shturman Sirota: a fraqueza nas mãos e o formigamento quando ele percutia o punho dela, sinal de que o nervo estava irritado. Além disso, quando Rosa mantinha os punhos flexionados vários segundos pressionando as costas das mãos uma contra a outra (a chamada manobra de Phalen), a dor era a mesma, mas aumentava.

Shturman Sirota achou que ela precisava de cirurgia. “Não dou muita importância aos exames”, revela ele, “porque já vi muitos exames positivos quando não havia problema nenhum e negativos quando o problema existia.”

O médico teve de convencer a paciente de que aquela era a ação correta. “Basicamente, eu não tinha opção, mas não gostava da ideia”, diz Rosa, que fica ansiosíssima antes e depois de procedimentos médicos. “Tinha medo de que algo desse errado. Afinal de contas, estamos falando de minhas mãos.” O fato de o médico admitir que não tinha certeza absoluta do que encontraria não ajudava.

Algumas semanas depois, Shturman Sirota operou o punho direito de Rosa. Por dentro, parecia quase perfeitamente normal. “Não encontrei nenhum segmento do nervo com alterações causadas por compressão”, conta ele. A única irregularidade era um lipoma (tumor gorduroso benigno) com menos de um milímetro de largura aninhado contra o nervo ulnar. Ele o removeu e o mandou para exames, achando que fosse a causa dos sintomas. Embora pequeno demais para causar muito impacto, não havia outra explicação.

Uma nova vida após a cirurgia

A teoria foi reforçada pelo fato de que, após a cirurgia, Rosa se transformou. Em 24 horas, os sintomas melhoraram 90%, e continuaram a diminuir conforme ela se recuperava. “A dor sumiu completamente”, diz ela, que também recuperou a força na mão.

Dois dias depois da operação, o relatório surpreendente da patologia contou a história completa. Sob o microscópio, aquele pequeno lipoma não tinha nada de ordinário. Na verdade, estava coberto de corpúsculos de Pacini, estruturas extremamente sensíveis com terminações nervosas. Normalmente, eles são encontrados na pele e aprimoram o sentido do tato. Nesse caso, tornaram sensibilíssimo o tumor gorduroso.

Shturman Sirota não sabe por que isso aconteceu com Rosa. Em casos raríssimos, sabe-se que os corpúsculos podem ter um crescimento anormal depois de uma lesão, como uma mordida de cachorro num dedo. Mas em Rosa era estranho. “Não achamos nada a respeito na literatura”, diz o médico. Cinco meses depois, quando Rosa juntou coragem para outra cirurgia, ele removeu um lipoma igual do punho esquerdo.

Talvez não seja o fim da história. Embora os sintomas iniciais de Rosa não tenham voltado, no fim do ano passado ela notou formigamento e sensibilidade no polegar, no indicador e no dedo médio de ambas as mãos. “Meus dedos não doem com a mesma intensidade, não perdi a força e não me incomoda todo dia”, diz Rosa. “Mas foi assim que começou na outra vez.”

Shturman Sirota desconfia que Rosa tenha corpúsculos de Pacini no nervo mediano, em outra parte do braço, e precise de mais cirurgias. Pelo menos, não é mais um mistério, e agora ele sabe como tratar o problema.

POR LISA BENDALL