Mistério médico: diagnosticando uma alergia rara

Paciente: Benjamin, de 6 anos Sintomas: Urticária e anafilaxia Médico: Dr. Yuval Tal, chefe da Unidade de Alergia e Imunologia Clínica do Centro Médico

Redação | 5 de Julho de 2019 às 17:00

Ivan-balvan/iStock -

Paciente: Benjamin, de 6 anos

Sintomas: Urticária e anafilaxia

Médico: Dr. Yuval Tal, chefe da Unidade de Alergia e Imunologia Clínica do Centro Médico Hadassah, em Jerusalém, Israel


Na primeira infância, Benjamin Linderman teve infecções pulmonares e problemas respiratórios. Com 2 anos, recebeu o diagnóstico de asma. Às vezes, os sintomas dessa doença podem ser deflagrados por alergias alimentares, e como um irmão mais velho sofria disso, os pais de Benjamin fizeram exames.

O resultado mostrou que o filho era alérgico a laticínios, batata e mais alguns alimentos. Depois que eles foram eliminados da dieta, os sintomas de asma e as infecções pulmonares diminuíram.

Mas, em 2011, quando Benjamin tinha 4 anos, um novo mistério surgiu: o menino começou a apresentar erupções com muita coceira no pescoço, nos braços e em outras partes do corpo. A princípio, os pais acharam que fosse uma reação ao antibiótico que o menino tomava. Outra possibilidade seria um irritante, como o sabão de lavar roupa. Mas a erupção geralmente sumia em poucas horas, ou seja, era urticária. Cerca de uma em cinco pessoas tem urticária de vez em quando, mas em Benjamin o problema logo se tornou diário.

O alergista de Benjamin ficou perplexo

A família notou que a reação parecia piorar, principalmente na pele exposta, sempre que Benjamin brincava ao ar livre. Ele estaria reagindo à luz do sol? A urticária solar, na qual a exposição à luz ultravioleta faz certas células da pele liberarem histamina, é uma reação alérgica rara, provavelmente responsável por apenas 1% dos casos de urticária crônica.

O alergista de Benjamin ficou perplexo. “Ele disse que já tinha ouvido falar, mas que não podia ser, porque é raríssima”, recorda Matthew Linderman, pai de Benjamin.

Eles foram encaminhados a um dermatologista do Centro Médico Hadassah, em Jerusalém, que recomendou manter a pele de Benjamin coberta e usar um filtro solar de amplo espectro no corpo inteiro. Mas Benjamin continuava piorando. As reações se desenvolviam mais depressa e levavam mais tempo para sarar. Ele começou a inchar em torno dos lábios e passou a levar consigo um autoinjetor de adrenalina (EpiPen).

Os pais o vestiam com roupas escuras e compridas, e ele não participava de viagens da escola. Essas mudanças ajudaram a reduzir a urticária, mas não a impediram, o que era confuso.

“Ele ensinou muita gente a lidar com os desafios da vida”, disse o pai de Ben

Enquanto isso, outro dermatologista do Hadassah propôs um exame de luz em laboratório, no qual uma lâmpada lança luzes de diversos comprimentos de onda em áreas diferentes da pele para identificar exatamente a qual tipo o paciente é alérgico.

Para surpresa de todos, Benjamin reagia a toda a luz visível, inclusive a das lâmpadas dentro de casa. Isso explicava por que o filtro solar, que só bloqueia os raios ultravioleta invisíveis, não ajudava.

Apesar de usar roupas compridas até nos dias mais escaldantes, Benjamin raramente se queixava, diz o pai. “Ele ensinou muita gente a lidar com os desafios da vida.”

A família achou que conseguiria viver assim, mas, em certa noite de setembro, quando Benjamin tinha 6 anos, ficou claro que não. Eles tinham comemorado a festa judaica de Simchat Torah numa sinagoga que não frequentavam normalmente. “Ficamos surpresos ao ver como estava iluminado lá dentro”, diz Linderman. Em casa, Benjamin começou a passar mal e, de repente, teve falta de ar. Estava em choque anafilático.

Os pais assustados logo ministraram adrenalina e chamaram a ambulância. Benjamin foi levado às pressas para o hospital, onde lhe prepararam um quarto escuro, e a reação foi controlada com medicamentos.

Um caso raro

“Em quase todos os casos, a urticária solar não põe em risco a vida da pessoa. Ela só é incômoda”, diz o Dr. Yuval Tal, imunologista do Hadassah. “Ben era diferente e tinha uma reação sistêmica, que é raríssima.”

Tal se reuniu com a família para examinar novas ideias. Havia um medicamento imunossupressor que ajudara algumas pessoas com a doença, mas os possíveis efeitos colaterais (pressão alta e insuficiência renal, entre outros) eram violentos demais para uma criança pequena. Tentar dessensibilizar Benjamin à luz aumentando aos poucos a exposição poderia dar certo, mas seria demorado, e os benefícios talvez fossem temporários.

Tal se lembrou de um colega seu na Alemanha que recentemente experimentara, para o tratamento de alergias leves, o omalizumabe, medicamento contra a asma em adultos. Nenhum médico ministrara o medicamento a crianças, mas Tal e os pais de Benjamin concordaram que valia a pena tentar.

“Em essência, não tínhamos opção”, diz Tal, que começou ministrando uma dose baixa, monitorando cuidadosamente a criança para o caso de reação adversa. “Fiquei nervosíssimo quando dei a primeira dose. Só faltou amarrar o menino à minha perna; andei com ele o dia todo!”

Uma solução surpreendente

Embora tolerasse bem o medicamento, Benjamin não melhorou. Mas, depois de receber uma dose mais alta duas semanas depois, o inchaço e a coceira diminuíram. Foi a primeira melhora real desde o surgimento da alergia à luz. A dose foi aumentada mais duas vezes, até os sintomas praticamente desaparecerem.

Cinco anos depois, Benjamin, com 12 anos, cumpre um regime de injeções de três em três semanas. Embora ainda apresente sintomas no fim de cada ciclo de tratamento, o pai diz que não é nada comparado ao que o menino sofria: “Agora Ben pode andar de bermuda e camiseta, e brinca com as crianças na escola.”

Os pais de Benjamin são gratos aos médicos do Hadassah. “Eles fizeram um trabalho incrível para transformar a vida de nosso menino”, diz Linderman. “E se esforçaram ao máximo para que isso acontecesse.”

por Lisa Bendall