O efeito placebo e o poder da sugestão

Há o efeito placebo e o efeito nocebo, estudos científicos confirmam esses fenômenos. A expectativa do paciente em relação ao tratamento influencia seu efeito.

Redação | 6 de Fevereiro de 2018 às 18:00

JamieWilson/iStock -

É bem conhecido o fato de que um placebo – uma substância inerte administrada como medicamento – pode ter efeito benéfico sobre a saúde de uma pessoa, e milhares de estudos científicos confirmam esse fenômeno. Menos conhecido é seu sinistro primo, o efeito nocebo, no qual a expectativa de danos traz consequências negativas para a saúde.

No Alabama da década de 1930, um feiticeiro amaldiçoou Vance Vanders e disse que sua morte era iminente. Ele ficou muito doente, não respondia aos tratamentos, e parecia estar morrendo. Por fim, seu médico inventou uma história – disse que havia se encontrado com o feiticeiro e arrancado à força o segredo da maldição: um lagarto estava devorando Vanders por dentro. Depois que o médico induziu um acesso de vômito e, lançando mão de um truque, fez surgir um lagarto, o paciente recuperou-se com rapidez. Essa história, confirmada por médicos, demonstra o efeito nocebo.

Está tudo na mente

Os cientistas começam a reconhecer o poder do efeito nocebo. Uma revisão feita na Alemanha em 2012 afirma que ele é responsável pelas taxas de abandono nos grupos de controle dos estudos clínicos – as pessoas acreditam que o medicamento falso que estão tomando é o medicamento verdadeiro e, portanto, apresentam os possíveis efeitos colaterais.

Um estudo italiano informou a pessoas com e sem intolerância à lactose que elas receberiam lactose para avaliar o efeito em seu intestino. Metade das que tinham intolerância e um quarto das que não tinham intolerância relataram sintomas desagradáveis depois que todas elas haviam tomado uma inofensiva dose de glicose. Um participante do estudo clínico de um medicamento teve uma diminuição perigosa da pressão arterial por superdosagem do que ele pensava ser um antidepressivo – sua pressão arterial só se normalizou quando ele soube que havia tomado uma substância inerte.

Feiticeiros modernos

A expectativa do paciente em relação ao tratamento influencia seu efeito. Os autores de um estudo alemão observaram que pacientes vulneráveis, enfermos ou feridos eram suscetíveis à sugestão negativa, e que as sutilezas da linguagem usada pela equipe médica ao falar com os pacientes – das palavras como dor, risco ou sangramento – podiam ter efeitos inesperados. Os médicos são treinados a falar com autoridade aos pacientes, e o jaleco e o estetoscópio reforçam simbolicamente essa impressão, do mesmo modo que o traje dos xamãs e feiticeiros inspira reverência.

Já o poder da sugestão positiva explica parte do sucesso de terapias complementares – de fitoterapia até homeopatia. A maioria dos profissionais conversa com os pacientes para alimentar sua crença na eficácia do tratamento, enchendo-os de otimismo sobre os resultados. Quanto mais um paciente acredita no tratamento, maior é a probabilidade de que ele seja de fato eficaz.

Acentue o que é positivo

Conhecer o poder da sugestão – para o bem ou para o mal – ajuda em todas as esferas da vida. Resistir ao nocebo em favor do pensamento positivo traz bons resultados para a saúde, o trabalho e os relacionamentos. Eis algumas maneiras de pôr em prática esse conhecimento:

Tenha informações abalizadas
Antes de fazer um tratamento ou tomar medicamentos, procure orientação confiável. A Internet é um vasto repositório de informações, mas nem todas elas são fidedignas. Se você tem tendência à hipocondria, navegar pode ser mais prejudicial que útil, pois se sabe que o efeito nocebo de algumas informações influencia mais as pessoas pessimistas.

Controle sua reação aos especialistas em saúde
Concentre-se nas frases de incentivo, como “a maioria das pessoas tolera bem esse tratamento” ou “isso não vai doer”. Procure ignorar os comentários negativos, como “isso pode doer” ou “esse tratamento pode causar enjoo”.

Mobilize sua mente
Use a imagética criativa para se manter positivo durante a recuperação de uma doença. Se estiver com dor, por exemplo, você pode imaginar que seus músculos tensos estão sendo massageados, visualizar as fibras se separando e relaxando e se concentrar na sensação de calor. Durante essa visualização, procure prestar atenção na respiração e imagine que está relaxando sob o sol ou boiando em uma piscina.

Mantenha o pensamento positivo
Há indicações muito fortes de que as pessoas com um processo de cura mais rápido mantêm uma atitude positiva, consideram-se responsáveis pela própria saúde e concentram-se em melhorar. O autoconhecimento também ajuda, sobretudo em relação a atitudes que podem prejudicar a saúde.

Use o poder do toque
Estudos mostraram que o toque de um parceiro, amigo ou profissional de saúde pode trazer resultados positivos em vários distúrbios, como asma, artrite, hipertensão arterial e enxaqueca. A terapia do toque também alivia a dor e acelera a cicatrização de feridas. Mesmo que isso se deva, como afirmam alguns, a um efeito placebo, o que importa é o resultado final.

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