O caso Kyle: uma esperança para quem sofre com tremor essencial

O tremor essencial é um distúrbio do sistema nervoso que causa agitação rítmica e que pode se agravar. Confira um relato de caso médico sobre a doença.

Redação | 20 de Novembro de 2018 às 18:00

solar22/iStock -

Nós sempre nos surpreendemos com alguns relatos de casos médicos. Às vezes parecem relatos saídos de algum filme de ficção ou série médica. O caso do paciente Kyle certamente é um desses casos. Confira abaixo esta emocionante história!

PACIENTE: Kyle (nome trocado para proteger a privacidade), 37 anos, dono de uma construtora em Austin, Texas

SINTOMAS: Tremores incontroláveis em ambas as mãos

MÉDICO: Dr. Howard Eisenberg, diretor de Neurocirurgia do Centro Médico da Universidade de Maryland, EUA

O caso Kyle

Na pré-escola, Kyle não conseguia colorir dentro das linhas. Mais tarde, quando as professoras não conseguiam ler sua letra, os pais o levaram ao médico. Na época, as dificuldades do garoto foram atribuídas ao medicamento para a asma, um beta agonista que aumentava a adrenalina e, segundo o médico, atrapalhava o controle motor fino. Nos anos seguintes, toda vez que os pais perguntavam sobre o problema, o diagnóstico era o mesmo.

Mas, conforme Kyle crescia, sua capacidade de controlar as mãos diminuía. Ele não conseguia levar a bandeja do almoço pelo refeitório sem que ela tremesse incontrolavelmente; se os outros olhassem, os tremores pioravam. “Minhas mãos tremiam tanto que era difícil levar a comida à boca”, recorda Kyle. Tomar sopa de colher estava fora de questão, assim como beber algo quente ou assinar o nome diante de alguém.

O diagnóstico

No ensino médio, Kyle consultou dois neurologistas que diagnosticaram doença de Parkinson juvenil. Mas seus pais não se convenceram de que o problema fosse Parkinson, porque ele não apresentava nenhum dos sintomas característicos, como rigidez e lentidão de fala e movimentos.

Em 1997, aos 17 anos, ele consultou um terceiro neurologista, que notou que os tremores de Kyle paravam quando as mãos estavam em repouso. O diagnóstico foi tremor essencial, transtorno neurológico às vezes confundido com a doença de Parkinson.

A vida de Kyle após o diagnóstico de tremor essencial

O tratamento recomendado era um betabloqueador, que Kyle não podia tomar por causa da asma. Outra opção era um remédio para convulsões epilépticas, mas Kyle descobriu que afetava sua concentração. No fim, ele preferiu conviver com os sintomas. “Fiquei craque em escondê-los”, diz ele.

Quando começou a administrar a própria empresa e precisava se reunir com clientes, ele se automedicava com uma dose de uísque com gelo. O problema, segundo o Dr. Howard Eisenberg, do Centro Médico da Universidade de Maryland, é que o tremor essencial costuma ser progressivo.

“Os tremores afetam as extremidades superiores com mais frequência, mas se agravam e podem passar para a cabeça, as pernas e até afetar a voz.”, diz o Dr. Howard Eisenberg.

Embora seja mais comum do que a doença de Parkinson, o Dr. Eisenberg afirma que o tremor é subnotificado. “Muitos pacientes o toleram até que sua vida seja alterada e eles não consigam mais cumprir tarefas simples”, diz ele.

E foi assim que ele conheceu Kyle. Em 2017, a mãe de Kyle viu na TV informações sobre um novo procedimento não invasivo com ultrassom. A técnica só fora aprovada para o tremor essencial pela FDA (agência federal americana do Departamento de Saúde e Serviços Humanos) em 2016, e mesmo assim só para um lado do cérebro. “Fizemos o procedimento em pouco mais de cinquenta pacientes”, diz o Dr. Eisenberg. “Basicamente, matamos células num local definido do cérebro. Não restauramos nada, apenas reequilibramos o sistema tirando algo que não funcionava.”

Alguns pacientes têm melhora modesta; outros veem a vida mudar. O caso de Kyle foi este último. Durante o procedimento de duas horas, Kyle entrou e saiu de uma máquina de ressonância magnética de seis em seis minutos; cada vez que saía, pediam-lhe que realizasse determinadas tarefas (como segurar uma garrafa d’água); cada vez, o tremor diminuía. Finalmente, sumiu. “As pessoas ficam bastante emocionadas, em especial quando o tremor desaparece por completo”, diz o Dr. Eisenberg. “Para elas, é um momento mágico.”

Poucas horas após o tratamento, Kyle saiu andando do hospital e foi passear com a família. “Eu me sinto um garoto outra vez”, disse ele duas semanas depois. “Hoje de manhã, me servi de uma xícara de café… e não houve tremor algum.”

por Sydney Loney