A íntima relação entre dieta e longevidade

Imagine um lugar em que as articulações doem menos. Nesse mesmo lugar, a longevidade predomina, a memória se mantém forte, existem poucos problemas de

Julia Monsores | 9 de Agosto de 2019 às 11:00

monkeybusinessimages/iStock -

Imagine um lugar em que as articulações doem menos. Nesse mesmo lugar, a longevidade predomina, a memória se mantém forte, existem poucos problemas de digestão, uma boa noite de sono é normal e todos têm a disposição de um jovem, mesmo aos 90 anos ou mais. Imaginou?

Lá, o câncer é praticamente desconhecido. As artérias das pessoas funcionam tão bem aos 85 anos quanto aos 18, e as chances de um infarto do miocárdio ou AVC são as mais baixas do mundo. Isso existe hoje na ilha mediterrânea de Creta; em Okinawa, no Japão; e até nos lares modernos dos adventistas do Sétimo Dia, nos Estados Unidos. O que essas pessoas têm em comum? Primeiro, um comportamento saudável e uma dieta ainda mais saudável.

Os alimentos que as pessoas comem todos os dias nesses Shangri-lás da longevidade podem impressionar. Durante um único dia em Okinawa, uma pessoa come quase doze porções de frutas e legumes; sete porções de macarrão, arroz e grãos, além de tofu, peixe, algas e chá-verde. Laticínios e carne vermelha quase nunca são vistos – nem comidos. À noite, os amigos tomam um copo ou dois de uma bebida alcoólica feita com pimenta.

O cardápio é parecido em Creta. Mas aves e peixes substituem os alimentos à base de soja como principal fonte de proteínas, e as pessoas bebem vinho tinto caseiro. O mesmo ocorre com os adventistas do Sétimo Dia. Porém, a maior parte das proteínas consumidas por eles vem de ovos e nozes. Muitos são vegetarianos que também não consomem álcool, tabaco nem café.

A dieta deles não tem litros de refrigerante, sobremesas amanteigadas, alimentos industrializados e bifes suculentos. Qual é a recompensa?Adventistas do Sétimo Dia com uma alimentação saudável vivem 9,5 anos a mais do que a média dos americanos. Isso é o que dizem pesquisadores que acompanharam a dieta e o histórico clínico de mais de 34 mil membros dessa seita cristã.

Os habitantes de Okinawa têm uma das maiores expectativas de vida do mundo. Os homens vivem, em média, até os 77 anos, e mulheres, até os 85 anos. E em Okinawa há mais pessoas com mais de 100 anos do que em qualquer outro lugar.

Uma pesquisa feita por quatro anos em Creta mostrou que as pessoas com alimentações mais saudáveis tinham 25% menos chance de morrer do que seus compatriotas que optaram por refeições mais modernas. Mesmo se sua alimentação foi pouco saudável até hoje, você pode compensar isso com mudanças relativamente pequenas.

De acordo com um estudo feito por oito anos com mais de 26 mil homens e mulheres gregos, aqueles que seguiram regularmente uma dieta mediterrânea tradicional – usavam azeite de oliva, comiam muitas frutas e legumes, consumiam mais peixe e menos carne vermelha e bebiam quantidades moderadas de álcool – tiveram menor probabilidade de desenvolver câncer. A pesquisa, publicada no British Journal of Cancer, descobriu que adotar apenas dois aspectos da dieta mediterrânea pode diminuir o risco de câncer em 12%.

Apenas consumir azeite de oliva já reduzia o risco em 9%. Isso mostra o quanto a alimentação é importante para o risco do câncer.

“A dieta é fundamental na longevidade das pessoas dessas partes do mundo e no tempo em que elas se mantêm saudáveis, ativas, independentes e felizes”, diz o Dr. BradleyWillcox, médico do Pacific Health Research Institute, em Honolulu, e pesquisador-chefe do estudo sobre a longevidade em Okinawa.

“Uma dieta com poucas calorias, pouca gordura e cuja base é vegetal é a chave para se aumentar a expectativa de vida e minimizar o risco de desenvolver todos os problemas de saúde debilitantes que aparecem com a idade.”

Na verdade, o que você põe no prato e na boca conta ainda mais do que se você nasceu ou não com genes para longevidade.