O juramento de Hipócrates que todos deveriam fazer

O juramento de Hipócrates não é aplicado apenas à Medicina: ele também pode ser praticado no dia a dia! Confira quais e como.

Redação | 11 de Janeiro de 2018 às 09:00

milla1974/iStock -

Por Nancy Kalish

Os formandos em medicina ainda prometem não causar mal, e esse pode ser o legado mais famoso de Hipócrates. Mas grande parte da sabedoria do antigo médico grego se aplica a todos, não só àqueles com diploma de medicina. “Hipócrates foi um visionário que descobriu as maneiras mais importantes de manter a saúde, e todas elas foram comprovadas pela ciência moderna”, diz o Dr. David Katz, diretor e fundador do Centro de Pesquisas em Prevenção da Universidade de Yale e autor do livro Disease Proof: The Remarkable Truth About What Makes Us Well (À prova de doenças: a verdade extraordinária sobre o que nos faz bem). Eis cinco de suas regras para ter boa saúde que resistiram ao passar do tempo (cerca de 2 mil anos):

1. Andar é o melhor remédio

Hipócrates fez os primeiros estudos clínicos ao observar as pessoas e comparar seus hábitos de saúde – diz Brian Clement, Ph.D. e um dos diretores do Instituto de Saúde Hipócrates, centro sem fins lucrativos de West Palm Beach, na Flórida. Ele notou que “os corpos ficam cada vez mais relaxados e curvados […] durante uma vida sedentária”, o que provocaria várias doenças. As pessoas que andavam mais mantinham a boa saúde por mais tempo. Então ele costumava receitar exercícios.

TRADUÇÃO ATUAL: Vários estudos mostram que bastam 30 minutos de caminhada diária para reduzir o risco de diabetes, cardiopatia, osteoporose e alguns tipos de câncer. Um estudo recente do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, com mais de 650 mil participantes, concluiu que aqueles que andavam rapidamente durante apenas 150 minutos por semana ganharam em média 3,4 anos de expectativa de vida. “Não há medicamento capaz de proporcionar tal benefício”, diz Clement.

2. Saiba que pessoa a doença tem em vez de que doença tem a pessoa.

Hipócrates examinava meticulosamente a urina, as fezes, o pus e o suor dos pacientes. Mas também observava a personalidade, o ambiente doméstico, os relacionamentos, a alimentação e até as expressões faciais antes de diagnosticar e tratar. “Ele acreditava que era impossível entender a doença sem entender a pessoa como um todo”, explica o Dr. David H. Newman, diretor de pesquisas clínicas do Departamento de Medicina de Emergência da Faculdade de Medicina Monte Sinai e autor do livro Hippocrates’ Shadow: Secrets from the House of Medicine (A sombra de Hipócrates: segredos da casa da medicina).

TRADUÇÃO ATUAL: O Dr. Katz trata de muitos pacientes obesos, e uma das primeiras perguntas que faz é se têm relacionamentos desgastantes, empregos estressantes ou insônia. “Não há como perder peso sem resolver essas questões”, diz ele. “É preciso descobrir a causa do problema e depois usar a engenharia reversa para resolvê-lo. Quando tratamos a pessoa como um todo, fica mais fácil cuidar do emagrecimento e de muitos outros problemas de saúde.”

3. Que o alimento seja o teu remédio

Hipócrates observou que “os obesos têm mais chance de morrer cedo do que os magros” e reconheceu que quem comia alimentos frescos de origem vegetal desenvolvia menos doenças. Seu principal tratamento era melhorar a alimentação dos pacientes.

TRADUÇÃO ATUAL: Não importa a alimentação adotada; se for baseada em alimentos não industrializados, legumes e verduras coloridos e pouco açúcar é mais provável que a pessoa tenha boa saúde e viva mais tempo, diz o cardiologista Joel K. Kahn e autor de The Holistic Heart Book (O livro holístico do coração). Em 2013, um estudo com mais de 7 mil participantes, publicado no New England Journal of Medicine, constatou que quem adotou uma alimentação de estilo mediterrâneo era 30% menos propenso a sofrer um acidente vascular cerebral ou infarto do que quem seguiu uma dieta pobre em gordura. O vínculo entre comida e saúde tem a ver com a epigenética, o estudo de como o estilo de vida e o ambiente influenciam a expressão dos genes. Segundo o Dr. Kahn, os alimentos industrializados, ricos em açúcar, gorduras trans, gorduras saturadas de origem animal e substâncias químicas artificiais, podem ativar genes que provocam doenças e que, sem eles, talvez permanecessem adormecidos; também são pobres em nutrientes saudáveis que ativam os genes protetores.

4. Tudo com moderação

Hipócrates disse: “Tudo em excesso se opõe à natureza.” Ele percebeu que o mesmo remédio podia curar em determinada dose e ser prejudicial numa dose maior. Por exemplo, ele receitava vinho como parte de uma alimentação saudável e para combater a dor do parto. Mas observava que os pacientes desenvolviam gota se bebessem em excesso constantemente. Quando os convencia a moderar seus hábitos, a doença inflamatória desaparecia.

TRADUÇÃO ATUAL: “Todos adoramos levar as coisas boas ao extremo”, diz o Dr. Katz. “Mas exercício, água, suplementos e sono podem ser prejudiciais quando em excesso.” Até couve demais pode ser nociva, pois impede que a tireoide absorva o iodo necessário.

5. Não fazer nada também é um bom remédio.

Na época de Hipócrates, muitos charlatães convenciam os doentes a se submeter a procedimentos perigosos, desnecessários e caros. “Mas Hipócrates acreditava que só se deveria lançar mão de um tratamento se houvesse provas decisivas de que seria útil”, diz o Dr. Newman.

TRADUÇÃO ATUAL: Nestes tempos de medicina avançada, é muito difícil para os médicos não pedir exames, procedimentos e tratamentos, ainda que desnecessários. “Costumo ressaltar para meus pacientes que nossa melhor ferramenta para o diagnóstico é o tempo”, explica o Dr. Katz. “Se não sabemos o que fazer, não façamos ‘qualquer coisa’. Os médicos tendem a pedir exames e procedimentos que podem até fazer mal.” Por exemplo, uma dor nas costas costuma se resolver com remédios simples, como aplicações de gelo, calor, analgésicos de venda livre e exercícios leves. “Um paciente pode dizer: ‘Doutor, estou sofrendo, o senhor tem de fazer algo’, criando uma enorme pressão”, diz o Dr. Richard J. Baron, presidente da Fundação do Conselho Americano de Medicina Interna, entidade sem fins lucrativos criada para promover o profissionalismo dos médicos. Resultado: tratamentos inúteis, como antibióticos receitados contra resfriados. “Além de não surtirem efeito, podem provocar reações alérgicas, micoses ou diarreias perigosas, sem falar na resistência a antibióticos”, explica o Dr. Baron. Por isso é essencial que médicos e pacientes trabalhem juntos para evitar exames e medicamentos desnecessários. Se seu médico receitar remédios ao primeiro sinal de colesterol alto ou pressão elevada, sugira mudar a alimentação e praticar exercícios primeiro, aconselha o Dr. Kahn.