O que adolescentes deveriam saber sobre condicionamento físico

Confira as recomendações de um professor de Educação Física sobre condicionamento físico para adolescentes.

Douglas Ferreira | 5 de Junho de 2020 às 17:00

SeventyFour | iStock -

Confira o relato de um professor de Educação Física e as recomendações para adolescentes sobre condicionamento físico:

O dia estava fresco, soprava uma brisa agradável na quadra da escola.

Começamos a aula com o aquecimento de hábito: uma corridinha leve. Não se passaram nem dois minutos antes que Pedro, 13 anos, gritasse: “Professor, estou morto!”, seguido por Ana e Carolina, da mesma idade: “Professor, minhas pernas estão doendo muito!” e “Acho que vou desmaiar!” e, por fim, um coro de outras vozes: “Ai, professor, não aguento mais!”

Sendo professor de educação física e trabalhando com crianças e adolescentes há alguns anos, sempre me espantou o fato de muitos alunos ficarem ofegantes e demonstrarem um cansaço anormal com alguns exercícios e brincadeiras simples. Comecei a perceber que isso acontece com a maioria dos alunos e há alguns anos passei a pesquisar sobre o estilo de vida jovem. Minha conclusão é que as coisas não vão nada bem…

Afinal, as doenças cardiovasculares, principal causa de morte no Brasil e no mundo e que representam aproximadamente 70% dos gastos do SUS, têm origem na infância e adolescência. Diversos estudos realizados em vários lugares do mundo apontam que o estilo de vida jovem é altamente determinante para a saúde e qualidade de vida adulta.

Atualmente, a inatividade física predomina entre os jovens; sendo um dos principais motivos do aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes. Além de constituir um sério fator de risco para o surgimento de diversas doenças crônicas como hipertensão, diabetes e alguns tipos de câncer.

Excesso de tecnologia, violência e escassez de locais apropriados para a prática esportiva são razões para as crianças e adolescentes passarem grande parte dos dias inativos.

Sabemos que os jovens de hoje já não brincam mais de queimada e piques. Um estudo de 2016, onde foram avaliados 1.139 estudantes, constatou que 947 alunos (83,1%) tinham comportamento sedentário e 696 (65,3%) apresentavam prática insuficiente de atividade física.

Uma das mais graves consequências da inatividade física é o baixo nível de aptidão aeróbica. A aptidão aeróbica se relaciona com a capacidade de realizar exercícios em intensidade moderada a intensa por períodos prolongados de tempo; e está associada a outros fatores de risco cardiovascular como hipertensão e diabetes. Um estudo realizado na África constatou que em 2012 as crianças apresentavam níveis de aptidão aeróbica mais baixos do que em 1992.

Além dos baixos níveis de aptidão aeróbica, a falta de atividade física acarreta inúmeros agravos para a saúde que muitas vezes são assintomáticos; quando descobertos, a doença já está num estágio avançado e a cura requer mudanças significativas no estilo de vida. O que não é fácil.

É fundamental haver incentivo à prática esportiva jovem.

Nadar, correr, brincar, jogar bola, andar de bicicleta, pular corda são apenas alguns exemplos de atividades que os jovens podem e devem fazer. É essencial que a criança experimente diversas práticas esportivas e que escolha aquela que lhe proporcione prazer.

A frequência semanal deve ser de 150 minutos de atividade física em intensidade moderada; ou 75 minutos de atividade física intensa. Esta recomendação proporciona inúmeros benefícios à saúde não somente do jovem como também do adulto.

Portanto, digo a meus alunos: movimentem-se! Brinquem, corram, joguem bola, andem de bicicleta. Afinal de contas, JOVEM ATIVO = ADULTO SAUDÁVEL.

Por ANDRÉ LUIS MESSIAS,  graduado em Educação Física pela UFRRJ; pós-graduado em Ciências da Performance Humana pela UFRJ e em Educação pelo Colégio Pedro II; e aluno do Mestrado Profissional em Ciências Cardiovasculares do Instituto Nacional de Cardiologia.