Primeiros socorros para a voz

A voz é um dos instrumentos mais importantes do dia a dia, e também o menos notado em relação aos cuidados. Confira como melhorar a saúde da voz!

Redação | 2 de Abril de 2018 às 13:00

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Quando vou a uma reunião de família, os parentes aumentam o volume dos aparelhos auditivos. No verão passado, trabalhei numa joalheria; cumprimentava alegremente os fregueses e depois ficava em dúvida: eles me ignoravam ou não me ouviam? Nas festas, é comum me pedirem que repita o que disse até sorrirem e desistirem. Isso me apavora, porque a vozinha da minha mãe acabou ficando tão baixa que os telefonemas se tornaram torturantes e, depois, impossíveis.

Embora os problemas de visão e audição tenham destaque em muitas discussões sobre a velhice, geralmente ninguém fala do envelhecimento da voz. Na verdade, depois dos 65 anos cerca de três em dez pessoas têm tanta dificuldade de falar que são diagnosticadas com transtorno da fala. Os problemas podem começar com a aposentadoria, com a menopausa ou até mais cedo em pessoas com determinadas doenças ou que forçam demais o aparelho fonador porque sua profissão exige que fale o tempo todo em ambiente barulhento. Felizmente, há várias maneiras – desde dicas fáceis de manutenção a cirurgias – para não ficar com voz envelhecida nem perder a capacidade de ser ouvido.

Rouca demais para falar

A fala incansável em volume alto faz parte do trabalho de funcionários de centrais telefônicas, advogados e, principalmente, professores. De acordo com certas estimativas, metade dos professores sofre problemas vocais em algum momento da carreira. Kaysi Hamilton, de 39 anos, professora de matemática do Texas que se descreve como “faladeira”, raramente para de falar durante um dia de aulas. Em abril de 2016, quando ficou rouca, ela imaginou que fosse apenas uma alergia. Continuou trabalhando, mas não conseguia elevar a voz, que às vezes sumia por completo, e os músculos do pescoço ficaram tão tensos que engolir se tornou difícil. Quando chegaram as tão esperadas férias, a situação não melhorou.

“Se a voz não se recuperar durante uma semana, é provável que haja um problema vocal permanente que exija tratamento, como lesões nervosas ou espessamento das cordas vocais”, diz Ingo Titze, diretor do Centro Nacional de Voz e Fala, nos Estados Unidos.

Os pólipos podem ocorrer com a exposição prolongada a substâncias irritantes, como fumaça de cigarro ou vapores químicos, além de alergias crônicas e uso excessivo da voz.

Alguns meses depois, em julho, Kaysi consultou, Kaysi consultou otorrinolaringologistas, que acharam um pólipo (um inchaço da mucosa das cordas vocais) do tamanho de uma ervilha que pendia como um balão. Os pólipos podem ocorrer com a exposição prolongada a substâncias irritantes, como fumaça de cigarro ou vapores químicos, além de alergias crônicas e uso excessivo da voz. O médico recomendou fonoterapia para que Kaysi aprendesse melhores hábitos, e provavelmente uma cirurgia para remover o pólipo.

A terapia de Kaysi se concentrou em massagear e relaxar os músculos da garganta e do pescoço que estavam tensos. Ela aprendeu várias técnicas para usar melhor as cavidades naturais da cabeça a fim de criar volume sem forçar a garganta. Um exercício comum: juntar os lábios e emitir o som brrrr (como os bebês gostam de fazer). Outro é cantar por um canudinho (uma série de notas ou uma música predileta).

Depois da cirurgia de remoção do pólipo, seguida por sete dias difíceis de recuperação nos quais não pôde falar absolutamente nada, Kaysi teve boa reação aos novos exercícios: em poucas semanas, suas cordas vocais estavam funcionando bem. Hoje ela é mais cuidadosa, bebe bastante água e descansa a voz várias vezes durante o dia. Desse modo, não teve de recorrer ao uso de microfones de cabeça para das aulas e acredita que continuará faladeira até uma idade avançada.

Voz baixa demais

Bruce Lyon, 74 anos, achava que sua mulher, Kathie, estava ficando surda. Ou não prestava atenção no que ele dizia, porque perguntava “O que você disse?” várias vezes. Mas, depois que os filhos adultos e até o neto se queixaram, Bruce admitiu que o problema era dele.

“Era difícil projetar a voz, principalmente em restaurantes ou lugares com ruído de fundo”, diz Bruce, administrador universitário aposentado do estado americano da Geórgia. Seu otorrino o encaminhou ao Centro Emory da Voz, no Hospital Universitário Emory, onde o aparelho fonador de Bruce foi filmado com uma sonda enquanto ele fazia exercícios vocais.

Diagnóstico: atrofia das cordas vocais, ou presbifonia. As cordas vocais podem enfraquecer com a idade, principalmente depois da menopausa em mulheres ou quando os músculos vocais não são muito usados; Bruce, por exemplo, passara a falar bem menos após se aposentar.

Quando os músculos perdem volume, força e coordenação, é preciso mais esforço para as cordas se fecharem e, às vezes, quando atrofiam, isso piora e elas não se fecham mais.

Na fala, as cordas vocais vibram, tocando-se e separando-se rapidamente com a passagem do ar. Quando os músculos perdem volume, força e coordenação, é preciso mais esforço para as cordas se fecharem e, às vezes, quando atrofiam, isso piora e elas não se fecham mais. O resultado é uma voz mais baixa, que exige muito mais esforço para se tornar audível. “A presbifonia é um problema duplo, porque acontece ao mesmo tempo que os amigos perdem a audição devido à idade”, diz Edie Hapner, diretor de patologia da fala do Centro de Voz Emory.

Com Hapner, Bruce fez uma série de exercícios. Em casa, treinava em duas sessões diárias de 15 minutos, sustentando uma vogal com energia, subindo e descendo o tom, gritando frases simples em voz alta e usando um aparelho de resistência respiratória para melhorar o fôlego. Deu certo.

No entanto, como em qualquer tipo de condicionamento muscular, a melhora só dura com a prática constante. O problema vocal de Lyon foi considerado leve a moderado, mas em alguns casos a curvatura das cordas vocais é tão extrema que elas não se tocam nem com a fonoterapia. “Nesse caso, uma das possibilidades é injetar um enchimento para aumentá-las” diz a Dra. Elizabeth Guardiani, professora de otorrinolaringologia e cirurgia de cabeça e pescoço da Escola de Medicina da Universidade de Maryland.

Quanto a mim, a conversa com um especialista não revelou nada muito anormal em minha voz. Estou decidida a adquirir o hábito de beber mais água e usar mais a voz. Se não melhorar, com certeza não hesitarei em consultar um profissional. Bruce diz que gostaria de ter procurado ajuda três anos atrás.