Key West: a ensolarada ilha do sul da Flórida

Key West é uma ensolarada cidade localizada ao sul do estado americano da Flórida. Certamente é uma ótima opção para passar as férias!

Redação | 5 de Dezembro de 2018 às 11:00

Revista Seleções -

O Sol brilha,o céu matutino é de um azul inacreditável e o Oceano Atlântico, à minha esquerda, e o Golfo do México, à direita, são colchas de retalhos de águas-marinhas cintilantes e turquesas brilhantes. Veleiros pontilham o horizonte. Barcos de pesca recreativa avançam para a vizinha Corrente do Golfo, onde vivem peixes-vela, marlins e outros pescados.

Viajo num conversível alugado pela US Route 1, a estrada litorânea de 180 quilômetros nas Florida Keys, um colar de ilhas que pende da ponta sul da Flórida continental. Meu destino: Key West, a cidade mais ao sul, mais peculiar e mais desinibida dos Estados Unidos.

Enquanto dirijo, lembro-me do que o prefeito de Key West, falou quando lhe contei que planejava visitar sua cidade natal. “É claro que você pode vir direto de avião a Key West”, disse ele. “Mas vai perder uma das estradas mais maravilhosas do mundo se não vier dirigindo.”

Ele também me aconselhou a “desacelerar” e parar pelo caminho. A velocidade máxima na US 1 é de 70 km/h, e seria impossível não desacelerar, ainda mais com aquela paisagem, desde as cafonas arapucas para turistas e os bares com temas exóticos até os hotéis elegantes e as águas azul-cobalto.

“Adoramos mergulhar, com tanques ou snorkel, e ficar na praia”, explica o famoso fotógrafo submarino e antigo morador Steven Frink enquanto tomamos um café em Key Largo, minha primeira parada.

Com 53 quilômetros, esta é a mais comprida das mais de 800 ilhas que formam o arquipélago das Keys e costuma ser descrita como “capital mundial do mergulho”. Embora talvez alguns australianos, ilhéus do Pacífico e outros discordem, Key Largo, definitivamente, está entre as dez mais do mergulho.

Frink me diz que os entusiastas subaquáticos são atraídos para o Parque Estadual dos Recifes de Coral John Pennekamp, primeiro parque submarino do país, que abriga 180 quilômetros quadrados de recifes de coral, mangues e leitos de ervas marinhas.

Este protegido país das maravilhas submarino, um dos maiores recifes de coral do mundo, é cheio de desfiladeiros coloridos e peixes.

Mergulho num parque submarino em Key West (©Bates Littlehales/National Geographic/Getty Image)

Quarenta quilômetros adiante, paro em Islamorada – do espanhol “aldeia de ilhas” –, formada por seis ilhotas ou “keys”, ligadas pela US 1. Islamorada é para a pesca esportiva. Esta é a estação central dos pescadores em busca de marlins, peixes-espada, garoupas, anchovas e outros.

Embora eu não tenha tempo para a pesca em alto-mar, alugo um caiaque na vizinha Tavernier e remo até o Golfo do México, onde me vejo cara a cara com um peixe-boi, o mamífero marinho oficial do estado da Flórida. A gerente do Kona Kai Resort, que fica ali perto, me contou que os roliços animais castanho-acinzentados, que podem pesar mais de uma tonelada, são gigantes bonzinhos.

Ela tem razão; sem ligar para mim, o peixe-boi virou-se e escapuliu debaixo d’água. Até os animais daqui são tranquilos.

Seven Mile Bridge: uma visita obrigatória

Com Key West em meu radar, entro na Seven Mile Bridge, a ponte das sete milhas. Na verdade, são 6,7 milhas (107 quilômetros). A ponte fica tão perto da água que é como dirigir sobre o oceano; não há nada além de mar aberto em ambos os lados. A vista é estonteante, e muda o tempo todo. Essa é parte da razão para ela aparecer em tantos filmes, como True Lies e 007: permissão para matar.

Esta moderna maravilha da engenharia ficou pronta em 1982. Substituiu a versão anterior, construída sobre uma antiga ponte ferroviária criada por Henry Flagler, um barão do petróleo a quem se atribui a abertura da Flórida ao mundo. O remanescente da velha ponte é adorado por ciclistas, pedestres e pescadores.

Da Seven Mile Bridge, é apenas um pulo de 60 quilômetros até Key West, passando por Big Pine Key, Lower Sugarloaf Key e Boca Chica Key.

Key West também tem opção cultural para passeio

Dei sorte. Em Key West, um dos cidadãos mais antenados da cidade se ofereceu para me levar num passeio pelos 20 quilômetros quadrados da ilha que o ex-morador Ernest Hemingway chamou de “melhor lugar onde já estive”. Para outros, é o chamado “fim da estrada” ou, como proclama um adesivo local: “Key West: pitoresca cidade alcoólica com um problema turístico”.

A casa de Hemingway em Key West (©Robert Hoetink/Shutterstock)

“Sou um Conch”, Dave Gonzales me diz quando subimos em nossas bicicletas. O “embaixador extraoficial da boa vontade” de Key West, magro, sempre sorridente e de barba branca, pronuncia “conk” e explica que esse é o nome dos nativos de Key West que descendem dos primeiros colonos das Bahamas. Vem do nome dos caramujos marinhos locais. “Nasci aqui, como meus pais e avós”, diz ele, que trabalha como diretor-executivo do Lar e Museu de Ernest Hemingway, em Key West.

Pedalamos pela via principal da cidade, a Rua Duval, lotada de tabernas, saloons e restaurantes. Paramos diante do Sloppy Joe’s, um dos bares onde dizem que Hemingway bebia. Está movimentado, embora seja pouco mais de dez horas da manhã. “Trabalhamos com afinco para sermos casuais e nos divertirmos”, diz Gonzales, sorrindo. “E sempre fomos um porto seguro para excêntricos.”

Sloppy Joe’s, bar onde Hemingway bebia (©Bruce YuanyueBi/Getty Images)

Como se ouvisse a deixa, avisto um homem de meia-idade usando bermuda, camiseta e um pássaro empoleirado no ombro direito. Ele me informa que é uma cacatua-branca. Pergunto ao homem, que se chama Lenny Roslan e reside na ilha, por que leva a cacatua no ombro.

“Porque aqui é Key West, e somos todos piratas”, responde ele, com ar de riso.

Percebo que um candidato a pirata é até bem discreto quando vejo um homem descendo a Rua Duval. Parece ter 60 e muitos anos e veste apenas uma meia estrategicamente posicionada e um par de asas azuis de anjo.

Quando pergunto ao dono de um hotel local quem é o homem quase nu, ele me diz:

“Está sempre por aí. É inofensivo.”

Como já observou o escritor Hunter S. Thompson, “é em Key West que os esquisitos viram profissionais”.

Até o cemitério da cidade tem seus excêntricos. Examine as lápides com atenção e irá encontrar inscrições como “Só estou descansando os olhos”, “Sempre sonhei em possuir um lugarzinho em Key West” e, a minha favorita: “Eu lhe disse que estava doente.”


A história de Key West

Segundo Gonzales, a história de Key West, da miséria à riqueza e de volta à miséria, tem muito a ver com sua atitude receptiva e permissiva. A ilha foi descoberta por Ponce de León em 1513 e reivindicada pela Espanha. Os Estados Unidos assumiram a posse das Florida Keys em 1822. Graças aos piratas, aos recifes perigosos e às correntes traiçoeiras perto da costa, Key West prosperou como comunidade de resgate de naufrágios, com os marinheiros locais saqueando a carga de navios afundados.

Esse lucrativo negócio de resgate fez de Key West a cidade mais rica dos Estados Unidos na década de 1850. Com a redução dos naufrágios, para sobreviver os moradores se dedicaram aos setores de esponjas e sal marinho, fabricação de charutos, contrabando e pesca. “Fomos ricos, fomos pobres, mas sempre receptivos”, diz Gonzales. “Acho que é por isso que tantos personagens fora do padrão se sentem à vontade quando se instalam aqui.”

Em 1982, um grupo de Conchs, inclusive o então prefeito, fez a proclamação jocosa de que estavam oficialmente se separando dos Estados Unidos. A recém-fundada “República Conch” declarou “guerra” à nação, mas logo se rendeu e pediu a Washington um bilhão de dólares em ajuda externa. Para marcar a ocasião, a Comemoração da Independência da República Conch acontece em abril. A bandeira do movimento declara com ousadia: “We Seceded Where Others Failed” – um trocadilho entre “Tivemos sucesso quando outros falharam” e “Nos separamos quando outros falharam”, que brinca com a derrota do Sul na Guerra de Secessão que dividiu os EUA no fim do século 19.


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Pedalamos por casas bem-cuidadas em tons pastel na Cidade Velha, muitas adornadas com rendilhados de madeira e cercadas de buganvílias, figueiras-de-bengala e palmeiras. Depois de passarmos pela Pequena Casa Branca de Harry S. Truman, onde o 33º presidente americano se afastava dos rigores de Washington, estacionamos nossas bicicletas diante do Museu Marítimo Mel Fisher. Fisher era dono de uma loja de mergulho e virou caçador de tesouros em busca de riquezas no largo de Key West.

Ele e seu pessoal acabaram recuperando tesouros no valor de mais de meio bilhão de dólares; boa parte disso vinda de um galeão espanhol que afundou perto de Key West em 1622.

Antes de terminarmos nosso passeio, pergunto-lhe sobre as galinhas.

Galo andando pela rua em Key West (©Brian Gordon Green/Getty Image)

A manhã inteira, enquanto pedalávamos pela Cidade Velha e pela extremidade sul da ilha, driblamos galinhas selvagens que serpenteavam pelo tráfego e entravam correndo em bares e restaurantes para pedir comida e comer migalhas do chão. “São galinhas ciganas”, diz ele. As aves descendem de galinhas libertadas anos antes, às quais se juntaram galos soltos depois que as rinhas se tornaram ilegais na década de 1980. Em 2004, eram tantas que a cidade contratou um caçador de galinhas. Mas os moradores, favoráveis às aves, não ficaram contentes com a captura, e o cargo foi extinto.

Hoje, as galinhas fazem parte do tecido colorido de Key West, personificando a filosofia de “viva e deixe viver”

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Passa um pouco das 19h30, e me juntei a milhares de turistas e moradores de Key West na Celebração do Pôr do Sol na praça Mallory para saudar o astro que afunda no Golfo do México, um ritual noturno que teve início no fim da década de 1960. A multidão se diverte com acrobatas, músicos, mágicos, malabaristas e outros artistas exóticos que pedem doações.

Assistindo ao pôr do sol na praça Mallory (© Shutterstock)

À medida que o sol se aproxima da linha do horizonte, a multidão começa a contagem: “Dez, nove, oito, sete…” Logo que ele some no golfo, todos aplaudem e aproveitam o calor do crepúsculo.

Dicas para quem for visitar Key West

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Por Robert Kiener