Que livros você mostraria às pessoas para elas te conhecerem melhor?

Essa semana vi uma corrente em uma rede social e decidi trazê-la para cá. Nela, havia um pedido muito simples: colocar quatro capas de livros que você

Lucas Rocha | 1 de Junho de 2021 às 11:56

Deagreez/iStock -

Essa semana vi uma corrente em uma rede social e decidi trazê-la para cá. Nela, havia um pedido muito simples: colocar quatro capas de livros que você apresentaria às pessoas para que elas te conhecessem melhor.

Foi um exercício um tanto complicado para o meu lado mais indeciso: por que apenas quatro? Existem dezenas de livros que eu poderia mostrar! Então tive que pensar na diferença essencial entre livros que gosto e indico e livros que, de alguma maneira, influenciaram na minha formação.

Os livros exercem influência em nossa formação

Isso me fez relembrar de todos os momentos em que li esses livros importantes para mim. E me fez pensar em como somos tão diferentes de outras pessoas e de nós mesmos, dependendo da idade que temos, das experiências que vivemos e da forma como nos comportamos ao longo de nossa história.

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Os livros que tiveram influência na minha formação só ocupam esse lugar porque foram lidos na hora e no lugar certos. Talvez se eu tivesse lido o mesmo livro em qualquer outro momento da vida, poderia odiá-lo.

A literatura tem muito disso: não é porque a gente não gosta de um livro que não pode amá-lo daqui a cinco anos. Ou, pelo contrário, não é porque amamos uma história que não possamos relê-la e descobrir que, na verdade, ela não é tão boa assim quanto imaginávamos em um primeiro momento. Livros e pessoas são muito parecidos nesse aspecto.

Não fiz a escolha desses livros por ordem de importância. Nem coloquei apenas livros que li na adolescência, porque acredito que a formação é algo sempre constante. Tenha a idade que você tiver, sempre é possível ler um livro que mude a sua vida de algum jeito.

1) Cem anos de solidão – Gabriel García Márquez

Divulgação: Record

Minha mãe foi a primeira pessoa que me falou desse livro. “Muito ruim”, disse ela. “Todo mundo tem o mesmo nome. Muito confuso”.

Isso despertou em mim dois sentimentos conflitantes: o primeiro, de que eu nunca seria capaz de ler uma história como aquela; o segundo, de que aquele era um desafio que eu tinha bem ali, nas minhas mãos. Depois de alguns meses deixando o livro parado na estante, decidi abri-lo e me aventurar pela cidade fictícia de Macondo e pela família Buendía. Realmente, há muitos nomes iguais.

Mas há também uma beleza de ler uma história mágica como aquela pela primeira vez, com o mesmo gosto de uma casa de vó cheia de tios e primos (porque é assim que é a casa da família Buendía). Acho que li com uns dezesseis anos. Provavelmente não absorvi nada sobre as críticas de Gabriel García Márquez aos governos totalitários do século XX.

Tudo o que consegui admirar era sua prosa cirúrgica, quase uma poesia sem versos, e os personagens em situações mágicas encaradas de forma não natural que era impossível não se admirar. Aprendi com essa história que é possível se admirar com a magia das pequenas coisas.

2) Tieta – Jorge Amado

Divulgação: Companhia das Letras

Li esse livro no ano passado. Em formato de folhetim, acompanhamos as aventuras dos cidadãos de Santana do Agreste e a volta de Tieta — que, no passado, foi expulsa da cidade pelo seu pai depois de ser pega dormindo com um homem. Tieta volta, rica e cheia de contatos, com a promessa de trazer progresso ao Agreste e se vingar de todos os que não a ajudaram quando ela era mais nova.

Essa é uma história que tem tudo: romance, traições, fofocas de cidade pequena, discussões sobre progresso e ambientalismo, tudo amarrado em um texto que sempre nos dá vontade de continuar lendo. Aprendi com essa história que é possível criar um grande número de personagens e fazer com que o leitor se importe com cada um deles.

3) Ensaio sobre a cegueira – José Saramago

Divulgação: Companhia das Letras

Uma epidemia de cegueira afeta todas as pessoas ao mesmo tempo, menos uma. Nessa nova configuração social onde todos podem fazer o que quiserem e ninguém pode ver, somos apresentados às formas pelas quais a natureza humana pode se manifestar em situações extremas.

Esse é um livro difícil, muito menos pela forma como é contado (Saramago não usa nenhuma marcação de texto além de pontos e de vírgulas), mas pela construção dos personagens e de como a trama se desenrola. Aprendi com essa história que não precisamos nos ater às regras formais da língua se tivermos uma boa história para contar. Ela pode ser transmitida de diversas maneiras.

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4) Tipo uma história de amor – Abdi Nazemian

Divulgação: Harper Collins

Reza, um garoto descendente de iranianos e gay, se vê no turbilhão que foi Nova York no final dos anos 1980 e início dos 1990, lidando principalmente com a epidemia de Aids enquanto tenta se conciliar com sua própria sexualidade. Esse é um livro que fala muito sobre aqueles que vieram antes de nós, mas também fala sobre a esperança por um futuro melhor.

Cheio de referências a ídolos pop importantes para o movimento LGBTQIA+, descobrir esse livro com uma temática pesada e tão parecida com o meu primeiro livro foi um refresco. Aprendi com essa história que é possível conciliar tristeza e esperança em uma mesma história, dando a devida importância a cada um desses sentimentos.

E você? Quais livros apresentaria às pessoas para que elas te conhecessem melhor?