Savantismo: por dentro da síndrome do sábio

Como alguém pode ser capaz de calcular quase instantaneamente o dia da semana em que cai uma data qualquer e, no entanto, não saber somar dois mais dois?

Thaís Garcez | 16 de Junho de 2020 às 19:00

Deagreez/iStock -

Como alguém pode ser capaz de calcular quase instantaneamente o dia da semana em que cai uma data qualquer e, no entanto, não saber somar dois mais dois? Ou executar uma difícil peça clássica ao piano, depois de ouvi-la uma única vez, sendo retardado mental?

Tais indivíduos sofrem da síndrome do sábio, ou savantismo. A síndrome intrigou os neurologistas desde que o Dr. J. Langdon Down (que deu o nome à síndrome de Down) descreveu pela primeira vez, em 1887, esses gênios mentalmente retardados, chamando-os “sábios idiotas”.

Conhecendo o savantismo

Cem anos mais tarde, sabemos bem acerca dos “retardados sábios”. Tais indivíduos possuem uma forma de memória altamente apurada e eficaz, que lhes permite visualizar pinturas ou uma série de datas, ou fixar uma melodia. Tais aptidões podem existir ao nascer ou ser adquiridas depois de uma lesão ou doença do sistema nervoso central. O estado pode ser causado por anomalias genéticas. Mas além disso, isolamento sensorial ou imperfeições em certas áreas do cérebro que executam tarefas intelectuais, como o hipocampo (uma estrutura com a forma de um cavalo-marinho, ligada aos receptores sensoriais e à memória).

Há uma probabilidade seis vezes maior de os sábios idiotas serem do sexo masculino e as suas aptidões podem surgir e desaparecer de repente. O autismo, uma doença que faz o indivíduo voltar-se para si próprio, também tem sido relacionado com a síndrome do sábio idiota. Cerca de uma em cada dez crianças autistas apresenta tais aptidões. 

Uma das primeiras descrições de um “calculador-relâmpago” foi feita em 1789, pelo Dr. Benjamin Rush. Seu paciente, Thomas Fuller, mentalmente retardado, viera como escravo para a Virgínia, em 1724. Precisou de apenas 90 segundos para calcular que um homem com 70 anos, 17 dias e 12 horas tinha vivido 2.210.500.800 segundos – incluindo os anos bissextos no cálculo. Apesar dessa incrível aptidão, Fuller morreu em 1790 sem saber ler nem escrever.