As perguntas impossíveis do zen-budismo

O objetivo da escola de zen-budismo é ir além das palavras e ideias, de forma que o discernimento original do Buda possa ser trazido de volta à vida.

Julia Monsores | 21 de Outubro de 2019 às 19:00

Nick-Ferreira/iStock -

Certo dia, um mestre de zen-budismo passeava à beira de um rio quando viu o que seria uma visão surpreendente e miraculosa: um dos seus discípulos caminhava sobre a água. 

“O que você está fazendo?”, perguntou o mestre. “Atravesso o rio”, respondeu o discípulo. “Venha comigo”, ordenou o mestre de zen-budismo. Juntos, percorreram uma grande distância sob um sol escaldante, até encontrarem um barqueiro. Ao subirem no barco, o mestre afirmou, sem rodeios: “É assim que se atravessa um rio”. 

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Esta breve história é típica do aparente absurdo que permeia o zen-budismo, introduzido na China pelo monge indiano Bodhidharma no ano 520 d.C. Entre todos os meios humanos para investigar o que subjaz ao mundo do quotidiano, o zen parece o menos lógico e o menos científico. O objetivo da escola zen de budismo é ir além das palavras e ideias, de forma que o discernimento original do Buda possa ser trazido de volta à vida, e a verdadeira iluminação, por oposição à doutrina, possa ser experimentada. 

Aprendendo por um modelo

Um mestre zen não ensina os seus discípulos. Eles apenas o contemplam, na esperança de descobrir o segredo da sua serenidade e da espontaneidade com que age. Esse momento de esclarecimento é designado satori. Não existe um modo determinado para o alcançar, mas quando o satori é atingido, o discípulo sabe – não através da razão, mas da intuição – e compreende.  

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Enigmas do zen-budismo

O aspecto mais desconcertante do zen talvez seja o koan: um problema sem solução intelectual. Se existe resposta, ela não tem nenhuma relação lógica com a pergunta. “O que é o Buda?”, pergunta um koan. A resposta mais apreciada pelos mestres zen é: “Um quilo e meio de linho”. Interrogado sobre a proveniência de todos os Budas, um mestre respondeu enigmaticamente: “A Montanha Oriental caminha sobre a água.”

Alguns koans envolvem impossibilidades lógicas: “Como é o som de uma mão aplaudindo?”, por exemplo, ou “Quando os muitos são reduzidos a um, o um deve ser reduzido a quê?”

Filosofia de base

Por trás dessa aparente insensatez encontra-se, porém, uma filosofa profundamente lógica. Um dos propósitos inerentes a tais enigmas é ensinar a inutilidade de usar a lógica ou a linguagem na obtenção de algo tão inexprimível como a iluminação espiritual. Outro é encorajar reações totalmente espontâneas a acontecimentos e problemas, de forma que o adepto responda instantânea e intuitivamente da maneira mais apropriada às circunstâncias.