Empatia: saiba que nosso cérebro também tem coração

Você é capaz de sentir empatia, mesmo que não tenha passado por uma situação, pois o fato de imaginar a dor alheia ativa nossas próprias redes da dor.

Elen Ribera | 4 de Julho de 2020 às 20:00

Halfpoint/iStock -

Sem o apoio de um confidente, um amigo ou um cônjuge, quem poderia enfrentar os sofrimentos da existência? A empatia é a capacidade eminentemente humana de saber que o outro sente, e que ele chora, ri, e admira o pôr do sol. 

Compartilhando as emoções 

A empatia é a faculdade de compreender o que o outro pensa e sente. A simpatia de define como o fato de compartilhar os mesmos pensamentos e sentimentos com as outras pessoas. “Sinto simpatia por ele” significa “Me identifico em parte com o que ele pensa e sente, não me contento em compreender o que está acontecendo e estou com ele nisso”. A simpatia conserva certa distância que se anula com a compaixão: nesse último caso, o confidente sente um sofrimento real em contato com o sofrimento alheio. 

Da empatia à simpatia e à compaixão

O que determina a passagem da empatia à simpatia e, depois, da simpatia à compaixão é o grau de distância com relação às emoções do outro. O cérebro é dotado de estruturas que permitem identificar as emoções e reproduzi-las em nós. Ele pode aceitá-las totalmente ou distanciar-se para se proteger. 

Podemos distinguir então três graus de “contágio emocional”. Quando ele é controlado, como ocorre na empatia, ele permite saber o que o outro sente, mas sem ser contagiado por isso. Um psicoterapeuta pode sentir empatia diante de seu paciente, mas não necessariamente simpatia ou compaixão. Em certos casos, podemos até mesmo procurar identificar as emoções dos outros para fins destrutivos: a crueldade ou o ódio supõe que se conheça a dor sentida pelo inimigo e que se saiba como aumentá-la. 

Um interesse nem sempre desinteressado 

O altruísmo, paradoxalmente, não implica necessariamente a emoção. O altruísmo humanista de Kant, por exemplo, é uma postura filosófica de princípio que recomenda não fazer aos outros aquilo que não desejamos que façam conosco. 

Os biólogos e psicólogos distinguem geralmente quatro tipos de altruísmo:

1. O altruísmo de parentesco,

que nos leva a nos decidir àqueles que compartilham uma parte de nosso patrimônio genético (uma mãe por seu filho);

2. O altruísmo recíproco,

no qual o comportamento altruísta induz a uma contrapartida (eu o ajudo para que você me ajude mais tarde);

3. O altruísmo guerreiro,

que conduz certos indivíduos a arriscar sua vida por seu grupo, sua pátria ou suas ideias;

4. O altruísmo”publicitário”,

um comportamento que eleva nosso prestígio e nossa imagem junto aos outros (as celebridades que fundam organizações de caridade e as divulgam junto a seu público). Nesse caso, o indivíduo retira indiretamente benefícios de seu comportamento. 

Um homem pode se tornar altruísta na rua se ele vê uma bela mulher sorrir, pois, graças à sua aprovação, ele terá uma melhor imagem de si mesmo e seu ego se sentirá valorizado. Para conceber um altruísmo  puro, devemos nos voltar para as grandes mensagens filosóficas ou para a compaixão emocional espontânea, pregada, por exemplo, pelo budismo. 

O altruísmo é, assim, uma postura complexa, sujeita a mil influências. Ele age, certamente, e em conjunto com a empatia, mas também com o desejo de se valorizar ou de regular suas próprias emoções. Essencialmente, seu sentimento de culpa. 

Questão de distância

Os neurônios-espelhos estão na base biológica da imitação, um mecanismo essencial do aprendizado, em particular nas crianças pequenas. Foto: Martinan/iStock.

A compreensão da empatia progrediu muito desde a descoberta dos neurônios-espelhos, situados na área frontal pré-motora, esses neurônios possuem a particularidade de se ativarem de modo idêntico quando vemos alguém realizar uma ação ou quando nós mesmos a realizamos. 

Alguém está chorando

Quando vemos alguém chorar, nos preparamos para chorar também, mas sem necessariamente fazê-lo. O mimetismo está presente em potencial, mas a passagem ao ato depende das barreiras que opomos ao sentimento de tristeza. Os neurônios-espelhos estão na origem de um mimetismo de ação, não de um sentimento. Percebemos os movimento do rosto de nosso interlocutor, e os neurônios-espelhos os reproduzem à maneira de um mímico. Ora, sabemos que imitar uma emoção pode conduzir a sentir seus primeiros sinais.

Cada um está livre para deixar essa emoção explodir ou retê-la para manter uma relação mais distante com seu interlocutor. 

Os dois centros cerebrais que nos permitem compartilhar a emoção de outro sem sermos totalmente pelos seus sentimentos foram identificados. Trata-se do lobo fronto polar mediano e do córtex parietal inferior direito, que nos permitem não cair numa rede idêntica à de nosso interlocutor e assim preservar alguma distância. 

O poder da imaginação

De acordo com com alguns neurobiólogos, os neurônios-espelhos e o mimetismo não são os únicos fundamentos da empatia. Também temos acesso aos sentimentos e às emoções dos outros por um exercício de abstração. É ele que torna possível imaginar a dor sentida por outra pessoa numa situação nunca vivida por nós.

Ninguém precisa cair do 4º andar para saber que se machuca

Não podemos compartilhar esse sofrimento pela reatividade mimética de uma experiência idêntica, pois nunca a experimentamos. Assim, é necessário um trabalho da imaginação que não solicite diretamente os neurônios-espelhos, mas que ative em particular uma região situada na parte anterior do cérebro, o córtex pré-frontal ventromediano.

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