Por uma visão de moda mais inclusiva no Brasil

O olhar para o mundo da moda começou a tomar uma forma mais inclusiva no ano de 2015. Rozi Marinho, booker (agente de modelos) há 24 anos e proprietária

Julia Monsores | 6 de Fevereiro de 2020 às 14:00

Seleções Brasil -

O olhar para o mundo da moda começou a tomar uma forma mais inclusiva no ano de 2015. Rozi Marinho, booker (agente de modelos) há 24 anos e proprietária da agência Becs Model, que fica em Niterói (RJ), já estava acostumada a revelar nomes para o mercado. Porém, ao receber uma mensagem de texto em uma rede social, viu que era possível fazer mais.

A jovem Taiane Quintanilha, portadora de deficiência auditiva, a procurou e revelou que tinha vontade de ser modelo, de seguir com o sonho de ser fotografada para editoriais de moda e de desfilar, mas, por causa da deficiência, as portas estavam sempre fechadas para ela, ninguém se mostrava disposto a investir em sua carreira.

“Aquilo mexeu comigo. E eu resolvi conhecê-la, saber quem era aquela menina. Marcamos um encontro e recebi a Taiane com todo carinho. Vi que ela tinha um futuro promissor. Bastava alguém dar a oportunidade – e foi o que eu fiz. E ela se tornou uma grande modelo”, explica Rozi.

Hoje, Taiane acumula no currículo mais de 50 trabalhos e já esteve à frente de campanhas para noivas, tutoriais para marcas de maquiagem, diversos editoriais de moda e desfiles de moda praia. Recentemente, ela abriu o desfile de uma nova marca de roupas de praia, sendo um dos destaques do evento.

A atitude da booker fez a diferença na vida de Taiane e de outras meninas. Depois de revelar a primeira modelo com deficiência auditiva da sua agência, Rozi Marinho não parou mais. Tanto que, até agora, já lançou para o mercado mais 16 modelos com algum tipo de deficiência.

“Eu notei que o mercado não tinha visão para esse nicho. Mas é preciso ter, os deficientes precisam estar presentes. Afinal, eles são consumidores de diversas marcas e produtos. Por que não os incluir?”, questiona.

Em suas mãos muitos jovens conseguiram alcançar a inclusão. Um exemplo é Ane Caroline (amputada até a coxa da perna direita). A modelo também participou de editoriais de moda e de alguns desfiles, como o do encerramento do curso superior de designer de moda da Universo.

Sensação maravilhosa

Quem “causou” este ano no maior evento do país, a São Paulo Fashion Week, na edição de agosto, foi a modelo Rebeca Costa, que tem nanismo. A jovem finalizou o curso de direito e se tornou modelo com a ajuda de Rozi Marinho.

“Foi um sucesso a participação dela no evento. A Rebeca voltou da São Paulo Fashion Week com a agenda lotada de compromissos. Tornou-se palestrante e hoje motiva os jovens contando a sua história. Ela ainda escreve para o próprio blog: Look Little”, conta Rozi.

Quando olha para trás e vê tudo que trilhou até aqui, Rozi afirma que faltam palavras para explicar a sensação que experimenta quando vê a felicidade das meninas. “É assim que eu me sinto ao ver o brilho no olhar de cada uma delas. É uma sensação maravilhosa incluir e dar oportunidade a quem quer e precisa. Isso não tem preço”, diz.

E ela deixa um recado: “É possível mudar! Já estamos mudando. A maior barreira que existe é o preconceito. Quando os empresários de diversos segmentos enxergarem os deficientes como consumidores, numa visão totalmente inclusiva, essa realidade muda. É só querer”, finaliza

por Márcio Gomes