Reféns da atualidade

Somos reféns da internet. Essa invenção maravilhosa que nos faz checar e-mails, contas em banco e ver filmes do Adam Sandler. Você também?

Marina Estevão | 23 de Maio de 2020 às 10:00

Andrew_Rybalko/iStock -

Viramos reféns da atualidade.

Mais precisamente da internet.

Essa coisa maravilhosa.

Que nos escraviza.

Mas maravilhosa, confesso.

Em tempos de pandemia, então…

Ela nos salva pra ver filme, falar com os amigos, fazer reuniões-online-que-poderiam-ser-e-mails, ver se tem dinheiro suficiente (nunca tem) na conta, comprar quebra-cabeça de mil peças e ver pornô.

Eu amo essa palavra “pornô”, me sinto em um filme noir francês dos anos 50.

Mas talvez eu tenha que chamar de filme adulto.

Assim como os do Adam Sandler.

Para adultos que querem rir de qualquer coisa.

Assim como essa que vos fala.

Enfim. Deixemos isso para uma outra hora.

Mas o fato é que somos reféns dessa pequena energia que pode ser feita com cabo ou sem cabo.

Só por aí você já percebe que ela não é muito confiável.

Por exemplo: por que quando precisamos redefinir uma senha de um e-mail, a porcaria do site manda e-mail de redefinir uma nova senha justamente pro e-mail que não conseguimos abrir?

Os sites mais inteligentes – ou coerentes? – perguntam se você tem um e-mail de segurança.

Ou uma pergunta secreta.

Ou duas.

A Apple tem duas, no caso.

Uma vez, eu errei uma dessas respostas.

A pergunta maravilhosa era: apelido de infância?

Putz. Obrigada, Maçã do demônio.

Seria fácil se eu não tivesse vários.

“Marininha”

Resposta incorreta.

Me sobe um calorzinho pela lombar.

“Má”

Resposta incorreta.

O mesmo calorzinho sobe mais um pouco pela nuca.

“Agora vai. Nina”

O calor tomou conta do meu corpo inteiro.

De ódio.

“Desculpe, você digitou a resposta errada muitas vezes. Deseja redefinir suas respostas?”

SIM! Pelo amor da deusa do wi-fi!

“Enviamos um código de segurança para Luiza.”

O QUE?!

Mas quem diabos é Luiza e por que ela recebeu o meu código de segurança?

Será que ela é meu contato de segurança?

Mas eu não conheço nenhuma Luiza.

Só pode ter sido aquela robô da Magazine Luiza – eu penso.

Começo a perceber que estou num ciclo vicioso.

E o pior é que se eu quebrar o computador de ódio, tenho que vender meus rins e uma prótese de dente para comprar outro.

Mas vai ver que é esse o plano deles: te irritar até você ter que fazer tudo de novo.

Resetar sua vida.

Eu só queria recuperar a senha desse e-mail antigo.

Só.

É pedir muito?

Mas a partir de agora, decidi: não vou mais ser refém de nada.

Desce um filme do Adam Sandler!