O passado repercute no presente

Praticar atividade física e manter-se ativo ao longo dos anos pode fazer uma grande diferença diante de alguma doença inesperada.

André Messias | 5 de Agosto de 2021 às 18:00

William Rodrigues dos Santos/iStock -

Bob, 57 anos, foi skatista durante a adolescência e juventude, e na época chegou a participar de algumas competições. Depois de adulto continuou a praticar este esporte por alguns anos. Além disso, ele sempre gostou de fazer caminhadas – o que se intensificou quando foi morar na região dos lagos, em frente ao calçadão. Há anos Bob caminha diariamente e ainda faz suas manobras no skate. Vez ou outra, ele me pede algumas orientações sobre exercícios de fortalecimento e quase sempre leva um puxão de orelhas por sua alimentação: sempre com enorme quantidade de gordura e pouca ingestão de frutas, legumes e verduras. Em sua defesa, ele alega que durante décadas trabalhou numa grande empresa e que lá a alimentação era extremamente saudável.

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Há cerca de 1 ano, ele foi fazer exames de rotina e foi diagnosticado com câncer. Obviamente foi um soco no estômago e todos fomos pegos de surpresa (incrível como mesmo que já tenhamos passado por inúmeras situações, a vida ainda consegue nos deixar congelados por alguns instantes quando estamos diante de uma notícia dessas). Porém, como no skate, Bob sabia que toda queda exige força para se levantar e seguir em frente em busca do maior dos desafios: ficar de pé. Sendo assim Ellen, esposa de Bob, disse que desde o primeiro dia, ele sempre teve pensamento positivo (Bob é um pouco dramático e bastante carente, então nos primeiros dias queria se sentir extremamente acolhido) e disse que iria se dedicar e fazer o que fosse necessário.

Uma das perguntas que Bob se fazia era em relação às suas caminhadas. Com seu organismo debilitado em virtude dos tratamentos, seria difícil e cansativo caminhar?

Mas a principal pergunta era: será que posso?

Antes de abordar a pergunta acima, é necessário citar a enorme importância (eu diria que foi vital) que o passado e presente ativos de Bob tiveram para que seu organismo sofresse inúmeras adaptações fisiológicas positivas que impediram maiores danos à sua saúde. Diversos artigos científicos corroboram com essa afirmação e apontam que pessoas ativas apresentam maiores chances de sobreviver caso tenham alguma doença crônica. Os benefícios no organismo de Bob estarão sempre presentes.

Voltando à pergunta se Bob poderia caminhar, a resposta se dá com outra pergunta: por que não? Bob não apenas pode como deve caminhar. Claro que será necessário caminhar com menos intensidade e volume, alternar os dias e interromper a caminhada em qualquer sinal de mal-estar.

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Eu o orientei e informei que seria necessário melhorar sua alimentação e cuidar de outros pilares da saúde: sono, hidratação e humor. Bob sempre fora uma pessoa engraçada, divertida e confiante. Um dos hobbies dele era tocar instrumentos. Então, era mais uma opção para que ele fosse ativo e animado.

O tempo passou. Bob fez muitos tratamentos. Seus resultados mais recentes apontam que ele está bem. O perigo parece estar distante. Ele está feliz e eufórico pelo skate ter virado esporte olímpico. Mas Bob também sente gratidão pelo skate e pela caminhada. Ele sabe que essas duas práticas, tão presentes em sua vida, tem enorme importância por ele estar de pé após a queda que sofreu.

Assim como no skate, nós iremos sofrer muitas quedas. Temos de ter força, coragem e esperança para levantar e seguir em frente. Sofrer quedas faz parte da vida. Cabe a nós escolhermos entre ficar caído ou levantar.