“Jogo de cena”: a tapeçaria misteriosa de Andrea Nunes

Andrea Nunes é promotora e escritora. Em Jogo de cena, cria um romance de espionagem que faz tremer o solo da pequena e imaginária cidade de Mangueirinhas.

Julia Monsores | 12 de Setembro de 2019 às 21:00

nortonrsx/iStock -

Há obras que são vários livros dentro de um mesmo objeto. Isso ocorre especialmente quando o enredo é multidisciplinar e caminha na direção de conhecimentos diversos.

Confesso que nunca seria capaz de escrever um livro assim, com um nó central comandando o núcleo da trama e várias subtramas sequenciais espraiando por áreas que vão da alquimia, passando pelo folclore nordestino até a crise do petróleo. A riqueza da trama de Jogo de cena é a prova de que a literatura de enredo forte só nasce com qualidade quando se faz uma pesquisa prévia ou quando o autor conhece os caminhos da vida que o levam à ficção. A velha ideia de que só se deve escrever sobre o que se conhece…

Inspiração literária: o que motiva os escritores?

Andrea Nunes é promotora de Justiça do Ministério Público do Estado especializada no combate à corrupção. Em Jogo de cena, ela cria um romance de espionagem que faz tremer o solo da pequena e imaginária cidade de Mangueirinhas. Imersos e imbricados no desvendamento de mortes, estão a delegada Alexandra e o filho do seu padrasto, Pedro, um historiador.

Tudo começa quando ambos tentam desvendar a morte de um boticário francês… Os crimes que surgem no meio do caminho estão relacionados às assombrações do folclore nordestino. Muitos fios de história nesta tapeçaria misteriosa. E ainda tem um raspão de romantismo. Achei interessante a forma como Andrea descreve o “transbordamento” de Pedro quando se lembrava do dia em que Alexandra flertou com o “sujeito sem graça que viria a ser um de seus primeiros namoradinhos”.

“Talvez todo bom livro seja múltiplo, mesmo que não tenha um enredo com caminhos que se bifurcam.”

“(…) estava aviltado com aquela generosidade toda dedicada a quem não tinha capacidade de apreciá-la. Então tentou fantasiar que era para ele, e não para o tal sujeitinho, que ela se derramava inteira. Porque só ele poderia absorver cada gota de sua rara essência sem que houvesse um mínimo de desperdício”. Quando uma trama é múltipla, diversos são também os olhares e as formas de leitura. De repente, percebo que talvez todo bom livro seja múltiplo, mesmo que não tenha um núcleo de enredo forte com vários caminhos que se bifurcam, como é o caso de Jogo de cena. Quanto mais se lê, maiores são os links associados ao texto. Alguém tem dúvida? Entrem neste jogo de assombração e verão…

Por Cláudia Nina

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