Você costuma comer “coisas estranhas”? Cuidado, pode ser alotriofagia

Você já ouviu falar na alotriofagia (Pica)? Esse transtorno alimentar é caracterizado pela ingestão de substâncias estranhas. Confira!

Julia Monsores | 9 de Abril de 2021 às 17:00

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Você já ouviu falar na alotriofagia? Esse transtorno alimentar, que também pode receber o nome de síndrome de pica ou picanismo, é caracterizado pela ingestão de substâncias estranhas — como barro, fezes e cabelo, por exemplo. Caso não seja tratado, por meio de psicoterapias e/ou remédios, pode trazer prejuízos ao corpo, como intoxicação e obstrução intestinal.

O que é a alotriofagia?

Entenda o que é esse transtorno alimentar (Crédito: Halfpoint/istock)

“Também chamada de síndrome de pica, ou picanismo, a alotriofagia é um transtorno alimentar em que as pessoas fazem ingestão de substâncias sem valor nutricional ou que não fazem parte do cardápio humano, como cabelo, fezes, barro, madeira, dentre outros”, explica o Dr. Gregor Osipoff, que é psicanalista e pós-graduado em neurociência.

Mas além de ser definido como um transtorno alimentar, a Dra. Cristina Saavedra, psiquiatra de São Paulo, explica que a alotriofagia também pode se manifestar como um sintoma.

“Embora seja considerado um transtorno alimentar, a síndrome de Pica não é muito comum, sendo mais observada como sintoma — especialmente em algumas condições, como pessoas com autismo e com retardo mental”, completa.

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Causas

A alotriofagia tende a surgir com mais frequência em quadros de carência nutricional, como a anemia. No entanto, quando a ingestão de substâncias estranhas ao hábito alimentar tradicional não ocorre em razão de um desequilíbrio nutricional pode-se estudar, também, outras possibilidades.

“Muitas vezes esse transtorno alimentar pode surgir por questões psicológicas. Como quadros de depressão, transtorno obsessivo compulsivo, dentre outros”, explica o Dr. Gregor Osipoff.

Mas além disso, também pode-se observar a alotriofagia na gestação e na infância.

Substâncias consumidas na alotriofagia

Qualquer substância sem valor nutricional pode ser fonte de desejo de ingestão por quem desenvolve a síndrome de Pica. No entanto, os mais comuns são:

Alotriofagia em gestantes

A alotriofagia também pode se manifestar em gestantes (diignat/iStock)

A síndrome de pica também pode se manifestar durante a gestação. Normalmente, nesses casos, o desejo de consumo de alimentos desprovidos de substâncias nutritivas ocorre por um reflexo das necessidades fisiológicas da mulher.

A deficiência de ferro, por exemplo, pode levá-la a ter o desejo de consumir barro. Nesses casos, é importante que a mulher comunique à sua equipe médica, para que possam ser feitos exames para checar uma possível anemia. Além disso, a alotriofagia também pode ser reflexo da falta de zinco ou vitamina B12 em seu organismo.

“Se não houver nenhuma causa relacionada à carência nutricional é importante aliar a terapia comportamental junto à medicação para controlar esse comportamento”, explica a Dra. Cristina Saavedra.

Alotriofagia em crianças

photosvit/iStock

Normalmente, quando são ainda bem pequenas, as crianças podem passar pela fase de experimentação de substâncias estranhas. No entanto, isso é normal? Ou os pais devem se preocupar?

Segundo a Dra. Cristina Saavedra, especialmente em países mais pobres, é comum que crianças tenham parasitoses intestinais que causem uma deficiência nutricional — e assim, manifestem o picanismo, com o desejo de comer barro ou terra, por exemplo.

“Essas crianças com anemia começam a comer barro e outras substâncias, então já suspeitamos de uma parasitose intestinal, de uma deficiência de vitamina ou de ferro. Não é motivo de desespero para os pais, mas é sim motivo para procurar ajuda, uma vez que em alguns casos essa ingestão pode ser bem alta e levar a algumas complicações, como obstruções intestinais. E até mesmo outras que necessitam de uma intervenção cirúrgica”, explica.

Mas além disso, a alotriofagia na infância pode ser um reflexo — embora não seja algo tão usual — da curiosidade da criança.

“Às vezes, quando as crianças são muito pequenas, tentam experimentar terra e areia. Isso é algo que faz parte do desenvolvimento de querer conhecer e descobrir, e tende a sumir com a idade. No entanto, é importante que os pais sempre estejam presentes e entendam que isso não é uma prática comum e que não deve ser incentivada. Os pais têm que se preocupar sempre com a alimentação das crianças. Até mesmo para que eles possam orientá-los a respeito de quais alimentos são possíveis e necessários ao nosso desenvolvimento. E assim, mostrar para a criança o que deve e não deve ser ingerido”, explica o Dr. Gregor Osipoff

Além disso, o psicanalista explica que se essa tentativa de ingestão de substâncias estranhas não parar, tornando-se algo contínuo e que não desaparece com a idade, os pais devem procurar um especialista que dê andamento e ajude a aconselhar a criança.

Tratamentos

Crédito: KatarzynaBialasiewicz

Para estipular o melhor tratamento para a alotriofagia é necessário, antes, determinar a causa desse transtorno. Caso o picanismo esteja surgindo em razão de um transtorno mental, como a esquizofrenia, por exemplo, deve-se tentar controlar esse quadro, de modo que a alotriofagia desapareça.

“Há muitas possibilidades de tratamentos. E por isso é importante que o indivíduo passe primeiro por uma avaliação, para entender a motivação da ingestão dessas substâncias. Dentro da alotriofagia existem algumas subdivisões, e dependendo dessa divisão às vezes há uma motivação e um tratamento adequado, que pode ser médica, psicológica ou psiquiatra”, explica o psicanalista Gregor Osipoff.