Medicina Nuclear: o que é e como pode auxiliar no combate à Covid-19

Você já ouviu falar na Medicina Nuclear? Essa especialidade médica usa materiais radioativos, chamados de radiofármacos, com finalidade diagnóstica e

Julia Monsores | 30 de Abril de 2021 às 12:30

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Você já ouviu falar na Medicina Nuclear? Essa especialidade médica usa materiais radioativos, chamados de radiofármacos, com finalidade diagnóstica e terapêutica, em baixas doses no organismo. Ela tem sido uma importante aliada no combate à Covid-19, uma vez que utiliza tecnologia avançada e substâncias capazes de identificar diversas patologias, como a embolia pulmonar.

Para explicar o que é a Medicina Nuclear, se há riscos em sua utilização e como ela pode ser utilizada no diagnóstico e no tratamento de doenças, conversamos com o Dr. George Coura Filho, médico nuclear e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear (SBMN). Confira a entrevista!

O que é a Medicina Nuclear e qual é o seu intuito? 

A descoberta da radioatividade, em 1896 por Antoine Henri Becquerel, foi a propulsora do desenvolvimento dessa especialidade que teve seu reconhecimento aqui no Brasil no ano de 1949 — após a criação do projeto para instalação da primeira unidade de radioisótopos na América Latina, designada como Laboratório de Isótopos da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Mas afinal, o que é a Medicina Nuclear? E como ela atua?

“A Medicina Nuclear é a especialidade médica que utiliza pequenas quantidades radioativas para tratamento e diagnóstico de diversas doenças. Ela pode ser utilizada nos mais diversos sistemas e órgãos do corpo humano. Assim como para diversos tipos de doenças”, explica o Dr. George Coura Filho.

O médico cita algumas das principais doenças que podem ser diagnosticadas ou tratadas com a Medicina Nuclear:

Quais são suas vantagens em relação às outras vertentes da Medicina?

As substâncias radioativas utilizadas na Medicina Nuclear fornecem informações específicas sobre o corpo humano — informações essas que muitas vezes outros métodos de análise não são capazes de fornecer.

Além disso, enquanto na Radiologia é o aparelho que emite a radiação para obter as imagens de diagnóstico, na Medicina Nuclear o processo é outro: o paciente recebe a substância radioativa e quem capta a radiação são os detectores das máquinas. E assim, traz resultados mais definidos.

Com o avanço da Medicina Nuclear, cada vez mais traçadores específicos ligados a isótopos radioativos estão sendo desenvolvidos para detecção de diferentes tipos de câncer. E assim, além do diagnóstico, há mais possibilidades de tratamentos.

“A principal vantagem, em comparação a procedimentos diagnósticos da Radiologia convencional, é o fato de que as substâncias radioativas utilizadas na Medicina Nuclear têm a capacidade traçadora de uma função específica, de um sistema que tenhamos interesse em estudar. Assim, conseguimos detectar precocemente algumas das alterações das principais doenças antes de haver alterações anatômicas associadas”, explica o Dr. George Coura Filho.

Além disso, o tratamento realizado com radiofármacos também são muito efetivos. “Quando falamos de tratamentos com Medicina Nuclear temos a possibilidade de tratamentos dando-se altas doses de radiação em pequenos espaços devido à concentração molecular dos nossos tratamentos”, explica.

Há riscos à saúde? 

Por serem administrados em doses baixíssimas, os radiofármacos utilizados na Medicina Nuclear possuem uma taxa quase nula de efeitos colaterais. Além disso, vale ressaltar que alguns exames populares, como a Tomografia Computadorizada, utilizam doses bem maiores de radiação.

“Como as atividades radioativas utilizadas são muito pequenas, nos procedimentos diagnósticos os riscos são mínimos. Inferiores, por exemplo, aos riscos associados de utilizar-se de uma aspirina. Já nos tratamentos, em que as doses de radiação são um pouco maiores pode haver riscos de eventos adversos, mas também não costumam ser superiores ao risco de eventos adversos de tratamentos oncológicos”, explica o Dr. George Coura Filho.

Como são feitos os tratamentos com a Medicina Nuclear

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Os tratamentos feitos com radiofármacos são administrados em doses baixas, controladas e não-contínuas.

“Em geral, esses radiofármacos são aplicados por via endovenosa, oral ou subcutânea intradérmica. Costuma haver apenas uma aplicação para procedimento diagnóstico. No caso das terapias, a aplicação pode ser em doses únicas ou em múltiplas doses, porém não são utilizadas de forma contínua”, explica.

O tipo de radiação utilizada na Medicina Nuclear é o gama – y, que não costuma permanecer no corpo por muito tempo. Além disso, esses radiofármacos podem ser associados a outros medicamentos durante o tratamento.

“Tanto para diagnóstico por imagem quanto para terapias para Medicina Nuclear é possível a associação com outros medicamentos não radioativos para otimização dos resultados. No entanto, a avaliação entre associação entre medicações é realizada de maneira individual com cada paciente, devendo sempre haver um médico nuclear responsável pelo procedimento”, explica o Dr. George Coura Filho.

Crianças podem fazer uso de radiofármacos?

Os procedimentos realizados na Medicina Nuclear não possuem restrições de idade. No entanto, ao serem realizados em crianças, é importante ter atenção redobrada à dose de radiofármacos utilizados, que no geral costuma ser menor devido ao comprimento do organismo da criança.

“Há diversos procedimentos da Medicina Nuclear que são utilizados na pediatria, alguns deles com doses de radiação inferiores a procedimentos que se utilizam de raio x”, conclui.


Fonte: Dr. George Coura Filho, presidente da SBMN.