Apesar de raro, o escorbuto ainda faz vítimas

Conheça a história do engenheiro que sofria com fadiga e dor em uma perna até receber o diagnóstico de escorbuto.

Redação | 23 de Janeiro de 2019 às 19:00

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Conheça a história de Frank (nome trocado para proteger a privacidade), engenheiro de software de Ontário de 46 anos, que sofria com fadiga e dor em uma perna até receber o diagnóstico de escorbuto:

Em setembro de 2012, Frank desceu do avião na Inglaterra com a perna direita inchada e dolorida e foi direto para o pronto-socorro do hospital St. Joseph.

Tanto ele quanto os médicos de plantão suspeitaram de um coágulo – um risco depois de ter ficado sentado imóvel num espaço limitado por longo período –, mas a ultrassonografia não revelou nada, e Frank foi mandado para casa.

Os sintomas continuaram, e três semanas depois ele voltou, mas foi mandado para casa outra vez. No fim de outubro, Frank foi de novo ao hospital. Nisso, o joelho direito estava vermelho, inchado e quente ao toque. Ele foi internado com o diagnóstico de celulite infecciosa – infecção bacteriana da pele – e medicado com antibióticos de amplo espectro. Em dois dias, teve alta.

Três meses depois do surgimento dos sintomas, a perna de Frank piorou outra vez. Ele se sentia letárgico e tinha dificuldade para andar. Surgiram hematomas na parte posterior das pernas. Os médicos tentaram extrair líquido do joelho, um sinal de infecção. Mas só encontraram sangue.

O paciente estava um pouco anêmico e apresentava pequenas manchas de sangue (petéquias) nas pernas. Isso indicava hemorragia, mas, em geral, transtornos hemorrágicos provocam sangramento profundo ou superficial, não os dois ao mesmo tempo.

“Os sintomas não se encaixavam”, conta o Dr. John Neary, que era residente na ocasião. “Eu disse a meu orientador: ‘Talvez seja escorbuto.’”

Quando examinaram o paciente com mais atenção, os médicos notaram que as petéquias se concentravam em torno dos folículos dos pelos das pernas e que os pelos tinham se enrolado como saca-rolhas, ambos sintomas de fragilidade dos tecidos. De repente, o diagnóstico de Neary ficou mais plausível.

O escorbuto é causado por deficiência grave de vitamina C, nutriente essencial para a integridade da pele, do tecido conjuntivo, dos ossos, das gengivas e da parede dos vasos sanguíneos. Comum nas longas viagens marítimas do século 17, a doença ainda é diagnosticada em idosos, anoréxicos, alcoólatras e famílias de baixa renda (sem acesso a frutas e hortaliças frescas). Neary e seu supervisor perguntaram a Frank seus hábitos alimentares. “Ele comia as mesmas coisas todo dia. Tudo industrializado.”

Era preciso fazer exames de sangue para medir a vitamina C, mas o resultado poderia demorar até três semanas. Assim, em vez de esperar o resultado, eles deram ao paciente um suplemento de 500 mg de vitamina C. Dois dias depois, os hematomas começaram a sumir e o inchaço no joelho diminuiu. No terceiro dia, Frank conseguiu andar com conforto e voltar para casa.

O resultado do exame mostrou que o nível de vitamina C de Frank estava abaixo do limite que o laboratório era capaz de medir.

Sem tratamento, o escorbuto causa icterícia, edema, dor nas articulações, hematomas, sangramento das gengivas e problemas cardíacos potencialmente fatais.

Os sintomas de Frank melhoraram na primeira internação não por causa do antibiótico que ele recebeu, mas pela comida do hospital. “É difícil ter escorbuto porque, basicamente, é preciso não comer nada fresco”, diz Neary, embora sua equipe tenha tratado seis casos desde então.

Frank se recuperou completamente e prometeu seguir uma alimentação mais saudável e variada, mas também toma um multivitamínico e um suplemento diário de vitamina C, só para garantir.

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Por SYDNEY LONEY