O que saber antes de dizer sim ou não para a prótese do joelho

Antes de marcar sua cirurgia, confira esses cinco pontos que você deve levar em consideração ao optar (ou não) pela prótese de joelho!

Julia Monsores | 16 de Agosto de 2019 às 21:00

gzorgz/iStock -

O joelho humano é especialmente vulnerável ao desgaste. Cada passo, cada pulo, cada cruzada de pernas força a articulação. Quando combinamos a vida ativa da população com mais de 50 anos à duração maior da vida, não admira que um número crescente de pessoas sinta dor no joelho. Há muitos remédios de curto prazo, como emagrecimento, fisioterapia, joelheiras, injeções e suplementos, mas a solução para o joelho artrítico, ou que dói o tempo todo, é substituí-lo por uma prótese.

Em termos simples, a prótese ou joelho artificial funciona como uma dobradiça multidirecional que liga a ponta interior do fêmur (o osso da coxa) à tíbia (o osso da canela). Para instalá-la, os cirurgiões removem a cartilagem e o osso danificados e conectam o joelho artificial aos ossos. A cirurgia leva cerca de uma hora, envolve uma equipe de quatro a oito profissionais de saúde que auxiliam o cirurgião principal e é feita com o paciente sob anestesia local ou geral.

Os médicos podem escolher entre mais de 150 tamanhos e variedades de prótese. A maioria é feita de titânio polido ou liga de cromo-cobalto e plásticos de alta resistência, podendo durar décadas. Para a maioria dos pacientes, é provável que o tipo de prótese seja irrelevante, dizem muitos especialistas.

O que saber antes de dizer sim ou não para a prótese do joelho

Não se esqueça destes cinco pontos antes de marcar a cirurgia de prótese de joelho.

1. Não há padrão claro

Talvez surpreenda que não haja critérios definitivos para determinar se a pessoa deve se submeter à cirurgia, explica Daniel Riddle, professor de fisioterapia da Virginia Commonwealth University. Os médicos avaliam três variáveis: dor, limitação das atividades diárias e indícios visíveis de lesão óssea. Só esta última pode ser medida de forma objetiva.

Peça ao médico que compare seus sintomas com os de outras pessoas, usando uma escala padronizada que possa ser comparada com as pesquisas. O questionário Knee Injury and Osteoarthritis Outcome Score [pontuação de lesão e osteoartrite do joelho] é um exemplo.

“Eu gostaria de saber se meus sintomas são considerados leves, moderados ou graves e o que posso esperar daqui a um ano”, diz Riddle.

2. O marketing costuma ser inexato

É provável que os cirurgiões lhe digam que, depois da operação, você terá de reduzir a atividade física geral. Mas muitos hospitais promovem a cirurgia com anúncios mostrando pessoas em boa forma praticando esportes. Os próprios cirurgiões podem ser envolvidos pelo entusiasmo. “Nas reuniões profissionais, sempre há alguém exibindo fotos de pacientes surfando ou escalando montanhas”, diz o Dr. Kelly. “Todos gostamos de apoiar nossos pacientes que praticam atividades malucas.”

O Dr. Hadler aconselha a nem falar com um cirurgião antes de ter uma conversa minuciosa com um clínico geral que tenha menos interesse em operar.

Confira: 7 segredos que os cirurgiões não contam

E, mesmo que seja encaminhado a um cirurgião, mantenha a mente aberta. A maioria dos cirurgiões concorda que a prótese total de joelho não deve ser considerada com leviandade, mesmo com o histórico geral de sucesso.

“É uma grande cirurgia”, diz o Dr. Joshua Jacobs, professor e diretor do Departamento de Cirurgia Ortopédica do Centro Médico da Universidade Rush, em Chicago. “Só se deve pensar nela depois de examinar outras opções.”

3. A expectativa varia

Num estudo europeu, 93% dos pacientes estavam satisfeitos em geral cinco anos depois da cirurgia. Mas a maioria também disse que esperava mais. Só um terço dos que consideravam importantes os esportes ou as atividades recreativas estava satisfeito com o resultado.

E cerca de 20% dos pacientes terão dor a longo prazo, indica uma revisão de estudos. Ralph Gabriel, hoje com 73 anos, é um deles. Depois da cirurgia, sente dor constante, diz ele, e nada do que tentou até agora – fisioterapia prolongada, estimulação elétrica, analgésicos vendidos sem receita – ajudou.

Faça a seu cirurgião perguntas detalhadas e específicas sobre seus passatempos e atividades cotidianas, sobre o que você deve esperar ou não depois da cirurgia. A maioria dos cirurgiões diz que é preciso abrir mão de tudo o que exija movimento lateral e gere alto impacto (como tênis individual), porque isso reduz prematuramente a vida da prótese.

4. A recuperação leva tempo

“É preciso se esforçar muito para melhorar dessa operação”, diz o Dr. Kelly. Serão seis a oito semanas de reabilitação e fisioterapia para recuperar o alcance do movimento e reconstruir os músculos e ligamentos que estabilizam e sustentam o joelho.

Mesmo com as técnicas de reabilitação modernas, um estudo verificou que um terço dos pacientes não teve melhora mensurável da dor seis meses após a cirurgia. Outro constatou que um em oito pacientes sentia dor moderada a forte um ano após a operação. Neste último estudo, porém, quase todos os pacientes estavam satisfeitos com a operação cinco anos depois.

Pergunte se seu hospital tem um programa educativo com encontros com profissionais de saúde para que os pacientes entendam o que vai acontecer na cirurgia e na recuperação. O Dr. Kelly recomenda que pacientes ansiosos também consultem um fisioterapeuta antes da cirurgia para conversar sobre a reabilitação.

Confira: 6 passos para ajudar na recuperação de uma cirurgia

Nem todos os médicos são iguais.

A pesquisa indica que é melhor contratar um cirurgião que faça mais de 50 cirurgias de prótese de joelho por ano. Os cirurgiões com volume maior ou menor mostraram resultado semelhante no alívio da dor, segundo um estudo. Mas os que fazem seis ou menos instalações de prótese por ano em hospitais de pouco volume podem ter menos habilidade na recomposição delicada dos tecidos móveis necessária para obter movimento e funcionamento normais.

Nesse mesmo estudo, os pacientes de cirurgiões com pouco volume tiveram o dobro da probabilidade de desempenho baixo em fatores como a extensão total do joelho dois anos depois da cirurgia.

Peça ao cirurgião seus dados sobre resultados, complicações, infecção e reinternação. Não aceite médias nacionais como resposta do cirurgião: você quer a média dele. O número deve ficar perto de 2% ou menos.

5. O risco é pequeno, mas grave

A probabilidade de ter uma complicação na cirurgia de prótese de joelho é relativamente pequena. Poucos supõem que estarão na fração daqueles que enfrentam complicações mais graves, como tromboses. “É por isso que a discussão sobre os riscos precisa ser mais substancial do que apenas assinar um formulário de consentimento”, diz Riddle. “É preciso uma conversa detalhada com o médico.”

Quanto mais cedo as complicações possíveis forem discutidas com o médico, melhor, diz o Dr. Hadler. “Quando a mentalidade é ‘Preciso disso’, você não ouve o risco, só o benefício”, diz ele.

Quando a cirurgia não é solução

Poucos negariam que, em geral, as próteses de joelho são segura. E, na maioria dos casos, adequadas. Mas nem todos os médicos estão convencidos de que a prótese seja a melhor solução para muitos pacientes.

Um estudo examinou o nível de dor e o funcionamento do joelho relatados pelos pacientes, além de indícios radiográficos de artrite, que fizeram a cirurgia para a instalação da prótese total. Conclusão: cerca de um terço dos procedimentos foi “inadequado”, segundo o sistema-padrão de classificação desenvolvido na Espanha.

Um estudo de acompanhamento feito em 2015 constatou que as cirurgias classificadas como inadequadas tiveram pouco ou nenhum benefício no alívio da dor ou na melhora do funcionamento. Ou seja, os pacientes com joelhos não muito ruins tiveram muito menos a ganhar com a cirurgia do que aqueles com dor grave ou artrite com contato entre os ossos.

“Ninguém pula da cama logo depois”, diz o Dr. Nortin M. Hadler, professor emérito de medicina do campus de Chapel Hill da Universidade da Carolina do Norte. “Além dos riscos inevitáveis da cirurgia, a pessoa terá de fazer meses de reabilitação.”

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por Richard Laliberte, da AARP The Magazine