Por que as novas tecnologias e as fake news estão na mira da OMS?

O desenvolvimento tecnológico dos últimos 10 anos teve grande impacto sobre a saúde pública – não somente no que diz respeito a procedimentos e técnicas

Ana Marques | 17 de Janeiro de 2020 às 10:00

gorodenkoff/iStock -

O desenvolvimento tecnológico dos últimos 10 anos teve grande impacto sobre a saúde pública – não somente no que diz respeito a procedimentos e técnicas para prevenir, diagnosticar e curar doenças, mas também no que tange às informações sobre o tema que circulam na sociedade, especialmente com a popularização das redes sociais.

Não por acaso, a preocupação com a disseminação de fake news e a questão regulatória de novas tecnologias são dois dos 13 “desafios urgentes” para a área, de acordo com um relatório publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), na última segunda-feira (13). 

A lista, criada com a colaboração de diversos especialistas ao redor do mundo, foi divulgada junto ao apelo do Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor geral da OMS, para que os investimentos em saúde sejam uma questão central para os governos.

Casa inteligente: como a tecnologia vai mudar a sua vida na próxima década

Novas tecnologias na área de saúde. (Imagem: sdecoret/iStock)

Por que o combate às fake news é um desafio para a saúde pública?

O relatório de desafios para a saúde pública destaca a conquista de confiança do público como uma das preocupações urgentes para os próximos 10 anos. A medida visa fortalecer o Nível Primário de Atenção à Saúde, que inclui as Unidades Básicas de Saúde (UBS) ou postos de saúde.

Desse modo, espera-se que o sistema de saúde de cada país seja efetivo e acessível para toda a população que deles dependem, reduzindo o nível de desinformação.

A publicação cita o movimento anti-vacina como uma das justificativas para a necessidade de um combate às fake news, já que as ideias propagadas pelo movimento são consideradas um dos fatores que causaram o aumento de mortes causadas por doenças que podem ser prevenidas. Um exemplo no Brasil é o sarampo, doença que havia sido erradicada, mas teve cerca de 13,5 mil casos confirmados em 2019.

A vacinação contra o sarampo foi negligenciada pela população. (Imagem: SyhinStas/iStock)

Entre os planos de ação da OMS para o combate à desinformação está a o trabalho com plataformas de mídias sociais, como Facebook e Pinterest, para prover conteúdo relevante sobre vacinação e outros problemas de saúde. Investimento em melhorias nos sistemas de acesso aos dados de saúde pública também estão previstos.

Novas tecnologias e seus impactos éticos e sociais

A evolução em biotecnologia também é uma das preocupações da OMS para a década que se inicia. De acordo com o relatório, questões como edição de genoma, a saúde digital e a inteligência artificial podem resolver muitos problemas, mas também criam a necessidade de monitoramento e regulamentação.

O grande desafio para os cientistas, médicos e para comunidade de saúde é entender profundamente os limites, impactos e possibilidades dessas tecnologia, especialmente com a possibilidade de criar novos organismos vivos.

Xenobots, os primeiros robôs feitos de células vivas

Em paralelo, também nesta semana, a repercussão do anúncio da criação dos primeiros “robôs vivos” apareceu entre os assuntos mais comentados de ciência e tecnologia. Os Xenobots são os primeiros robôs feitos de célula-tronco de sapo e têm a proposta de revolucionar o tratamento de doenças.

Os Xenobots abrem caminhos para um mundo totalmente novo na ciência, já que é o primeiro de sua espécie – um ser vivo programável, que também tem a capacidade de se regenerar.

Como a OMS pretende tratar questões que envolvam novas tecnologias?

De acordo com a lista de desafios para a saúde, a OMS já está trabalhando no entendimento de novas tecnologias para a área da ciência.

Em 2019, a organização uniu os maiores especialistas do mundo em edição de genoma humano e saúde digital para criar os novos comitês de consultoria que deverão oferecer um guia e revisão a assuntos polêmicos, como a criação de novos organismos vivos, o uso de células-tronco e outras possibilidades com engenharia genética.

A ideia para a próxima década é continuar investindo no estudo, planejamento e adoção de novas ferramentas para a criação de soluções clínicas e de saúde pública, além de apoiar a implementação de melhores regulamentações para o desenvolvimento e uso dessas tecnologias.