Como encolher a nossa pegada plástica

Veja como o Brasil se posiciona,comparado a outros países que combatem com mais afinco a crise ambiental causada pelo plástico.

Redação | 8 de Abril de 2022 às 16:00

©Shutterstock -

Todo ano, 500 bilhões de sacolas plásticas descartáveis entram em circulação no mundo. Em média, cada sacola é usada 12 minutos, mas leva mil anos para se decompor. Se não mudarmos de hábito, em 2050 haverá 12 bilhões de toneladas de lixo plástico na Terra e, de acordo com um relatório de 2016 produzido pela Fundação Ellen MacArthur e pelo Fórum Econômico Mundial, mais plástico do que peixes no oceano.

Mas há esperança. Em 2018, 127 países implementaram políticas para regular o uso de sacolas plásticas; em 2019, 170 países prometeram “reduzir significativamente” o plástico até 2030. E, em novembro passado, na COP26, a Conferência de Mudança Climática de Glasgow, a Universidade de Plymouth, do Reino Unido, inaugurou seu Centro Global de Política para os Plásticos que visa a encontrar soluções para esse tipo de poluição.

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Seja com a proibição de sacolas descartáveis, seja pela criação de alternativas sustentáveis ou pela volta de hábitos tradicionais, países do mundo inteiro têm feito um esforço significativo para eliminar o plástico de nossa vida.

Brasil: à espera de uma lei nacional

Desde 2020, encontra-se em análise o Projeto de Lei 4186/20, que dispõe sobre a proibição, em todo território nacional, da fabricação, comercialização e uso de produtos plásticos de único uso.

Enquanto não há uma legislação nacional, cada estado adota suas próprias medidas. No Rio de Janeiro, por exemplo, em 2019 entrou em vigor a lei que prevê a substituição das sacolas plásticas tradicionais nos supermercados pelas retornáveis. Desde então, 4,3 bilhões de sacolas plásticas deixaram de ser distribuídas no estado, segundo dados da Asserj (Associação dos Supermercados do Estado do Rio de Janeiro).

No Pará, desde o ano passado, sacolas plásticas descartáveis com compostos de polietilenos ou similares estão proibidas em estabelecimentos comerciais.

Costa Rica: um futuro com zero desperdício

Em 2019, a Costa Rica recebeu o prêmio Campeões da Terra, a maior distinção ambiental das Nações Unidas. O país centro-americano foi um dos primeiros do mundo a prometer eliminar todos os plásticos descartáveis, como sacolas, garrafas, talheres, canudos e colherinhas de café. Para cumprir essa missão ainda em andamento, o governo ofereceu incentivos às empresas e investiu na busca de alternativas. (As opções já adotadas incluem sacolas feitas de mandioca e embalagens para viagem de cana-de-açúcar.) Outro objetivo: substituir 80% das embalagens plásticas descartáveis por materiais renováveis que se biodegradem em seis meses.

Luxemburgo: política antiga de sacolas ecológicas

Desde 2004, o governo de Luxemburgo faz parceria com a Valorlux, entidade de gestão de resíduos sem fins lucrativos, para substituir as sacolas plásticas descartáveis do país pela Öko-Tut, uma ecobag reutilizável. A adoção das Öko-Tuts permitiu que o país de 632 mil habitantes eliminasse mais de 1,1 bilhão de sacolas plásticas descartáveis.

Guatemala: de volta aos métodos ancestrais

Seis anos atrás, uma aldeia na Guatemala decidiu liderar um movimento contra os plásticos descartáveis. Na política de tolerância zero, a comunidade maia de San Pedro La Laguna sancionou a primeira lei municipal contra os plásticos descartáveis do país. O governo forneceu à população alternativas reutilizáveis ou biodegradáveis, além de cestas de borracha. Desde então, os aldeões retornaram ao método ancestral de usar hoja de maxán (folhas de calateia-charuto) para embalar carne e guardanapos de pano para levar tortilhas. Essa troca inspirou outros municípios a também implementar a proibição.

México: foco nos materiais locais

Em todo o México, os cidadãos têm se esforçado para substituir o plástico. Em 2018, por exemplo, o governo de Baja California Sur aprovou uma lei que restringe os descartáveis; as alternativas criadas incluem canudos feitos de fibra de agave e talheres de caroço de abacate. Até hoje, mais de 85% dos estados do país aprovaram leis que proíbem as sacolas plásticas descartáveis; na Cidade do México, em 2020, a proibição trouxe de volta os cones de papel tradicionalmente usados para embalar grãos e temperos no ato da compra.

Índia: reaproveitar, reusar

Apesar das várias restrições locais, as sacolas plásticas descartáveis ainda estão disponíveis em muitos estados, principalmente desde a pandemia. Mas o governo central do país anunciou que a proibição da maior parte dos plásticos descartáveis entrará em vigor em julho deste ano. Para muitos fornecedores, será um ajuste difícil, mas outros se prepararam: no estado de Kerala, a tradição é servir as refeições em folhas de bananeira em vez de pratos plásticos; no Rajastão, não é raro ver sáris reciclados usados como sacolas de compras. E, no resto do país, a juta, uma fibra comum na Índia, tem sido considerada o material ideal para substituir o plástico das sacolas.

Tailândia: supermercados na liderança

Uma iniciativa ambiental da cadeia de supermercados tailandesa Rimping viralizou em 2019, quando surgiram fotos de hortaliças embrulhadas em folhas de bananeira em vez de plástico. Embora as folhas sirvam de envoltório e prato em várias culturas, esse foi o primeiro registro de uma cadeia de supermercados que adotou a prática. No ano seguinte, 75 dos principais varejistas do país pararam de dar sacolas plásticas aos clientes.

Antígua e Barbuda: isenção de impostos para alternativas ecológicas

Em 2016, Antígua e Barbuda deram a partida na eliminação de plásticos descartáveis no Caribe ao proibir as sacolas plásticas de compras. Para aliviar o fardo financeiro dos cidadãos, o governo isentou de impostos as alternativas ecológicas, como os produtos derivados de cana-de-açúcar, bambu, papel e amido de batata. Além disso, sacolas reutilizáveis feitas por costureiras e alfaiates locais foram distribuídas gratuitamente nos principais supermercados.

Ruanda: o primeiro passo na África

Hoje, a proibição de sacolas plásticas é comum na África: existe em 34 dos 54 países. Em 2008, Ruanda foi o primeiro do continente a implementar as medidas; onze anos depois, também foi o primeiro a proibir completamente os plásticos descartáveis. (Dito isso, a proibição de Ruanda não é a mais estrita; no Quênia, importar, fabricar ou vender sacolas plásticas gera multa de 40 mil dólares para as, enquanto indivíduos podem ser multados em 500 dólares pelo uso.) Muitas vezes considerado o país mais limpo da África, Ruanda tomou outras decisões para merecer o título, como instituir a faxina obrigatória uma vez por mês. 

Bali: dando ouvidos à juventude

Com meios não ortodoxos, em 2013, a Bye Bye Plastic Bags, iniciativa de duas jovens irmãs, convenceu o governo da ilha indonésia de Bali a eliminar sacolas e canudos de plástico. Primeiro, houve um desfile de modas envolvendo lixo reciclado; depois, uma campanha para uma aldeia se livrar das sacolas plásticas; faxinas anuais da ilha; e, finalmente, o lançamento de uma empresa social que contrata moradoras locais para fazer sacolas sustentáveis. O governo central da Indonésia seguiu o exemplo de Bali e se comprometeu a reduzir o lixo plástico marinho em 70% até 2025.

Jamaica: sem importar plástico descartável

Há três anos, a Jamaica proibiu a importação, a fabricação e a distribuição de sacolas e canudos plásticos descartáveis. No ano passado, a importação de canudos presos a caixinhas e embalagens de suco e bebidas também foi proibida. Para cobrir a lacuna, empresas locais criaram alternativas sustentáveis, como talheres de bambu e vasilhas de casca de coco descartada.

Nova Zelândia: indo mais além

Quando o governo neozelandês proibiu as sacolas plásticas descartáveis em 2019, as empresas do país já pensavam em alternativas. Um ano antes, doze delas, inclusive a rede local de supermercados Foodstuffs e a multinacional Unilever, se comprometeram a usar embalagens 100% recicláveis até 2025. Convencidos de que é preciso mais, os líderes eleitos foram adiante: em 2022, a proibição do plástico descartável será expandida para itens que contenham plástico, como lenços umedecidos e copinhos de café.

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Por Lola Méndez, com reportagem local de Rayane Santos