Boas maneiras não são coisa do passado

Ter boas maneiras é muito importante para a vida em sociedade, mesmo que muitas pessoas pareçam ter se esquecido delas nos dias de hoje.

Redação | 1 de Outubro de 2018 às 18:29

damedeeso/iStock -

Qual foi a última vez que você mandou um bilhete de agradecimento a um amigo depois de um convite para jantar? Não lembra? Sabe por quê? Porque ninguém mais faz isso. Agora que compartilhamos tudo que fazemos no Instagram, as regras de etiqueta mudaram. Parece que as boas maneiras andam meio esquecidas. Bom, vamos rever isso. Perguntamos a algumas pessoas quais os problemas de etiqueta que mais as incomodam. Depois, pedimos a especialistas que avaliassem o jeito certo de proceder. Ah, se gostar do que leu, fique à vontade para nos mandar uma mensagem agradecendo. Seria bem legal.

Mandar condolências

O marido de sua amiga morreu. Você não o conhecia muito bem, mas…

A questão é: todos sabemos o que devemos fazer quando perdemos algum amigo ou parente. Escreva aquele cartão de condolências e mande logo!
Mas e se você não tiver um cartão por perto? Ou se houver, mas estiver amassado? Ou se você não tiver à mão o endereço da amiga e só se lembrar tarde da noite que AINDA NÃO MANDOU AQUELE CARTÃO!!!? Seu coração bate forte, você fica agitado, cheio de remorso… mas está tão quentinho debaixo das cobertas que não vai se levantar e fazer alguma coisa.

Se ficar tentado a mandar uma carinha triste pelo celular só para se livrar do problema, não faça isso. É o mesmo que curtir posts no Facebook. Mas há um lado bom, seu preguiçoso! Na hora de exprimir empatia, “não há limite de prazo”, diz Anne Klaeysen, da Sociedade de Cultura Ética de Nova York. Na verdade, para quem chora a perda de uma pessoa querida às vezes é melhor receber o bilhete um pouco depois do surto inicial de atenção, quando a vida dos outros já voltou ao “normal”.
É aí que o bilhete enviado à amiga – sim, até por e-mail – será de fato apreciado. E o melhor tipo de bilhete, acrescenta Klaeysen, pode incluir uma historinha sobre o falecido – desde que não termine com “e ele ainda não me pagou”.

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Quem paga o pato?

Você sai para jantar com amigos e pede algo bem modesto enquanto os outros escolhem foie gras, lagosta e martínis. A conta chega. E agora?

Ah, deve ser bom morar na Alemanha, pelo menos na hora de pagar a conta. Lá, segundo a americana Siobhan Callahan, que dá aulas de inglês em Bremen, “cada um paga sua despesa”. A garçonete já chega à mesa no fim da refeição anunciando a conta de cada pessoa: “Vejamos, um café a 1,50, um hambúrguer a 15… São 16,50 para você.” “Ela faz tudo isso de cabeça”, diz Siobhan. Esse esquema aliviaria muita gente ansiosa como… eu. Gente que se prepara antes de sair para jantar, sabendo que a conta será dividida em partes iguais, embora tenha comido coisas muito mais baratas do que os outros (por todo tipo de razão psicótica/social/avarenta). Tento pensar nisso como uma taxa do entretenimento, o preço da socialização. Tento, tento e tento.

Archelle Georgiou, médica e empresária de Minneapolis, nos Estados Unidos, encontrou um jeito elegante de evitar esse constrangimento. Quando sai com amigas que gostam de beber, diz ela: “Explico à garçonete logo no começo: ‘Queremos contas separadas.’ Fica entre mim e a garçonete, mas todas escutam, e tem funcionado muito bem.” Talvez essa seja a melhor pedida. Principalmente para quem, como eu, pede só a sopa e se empanturra de pãezinhos.

Carro emprestado

Um primo, que, como todos sabem, dirige muito mal, pede seu carro emprestado por algumas horas.

Não é uma questão de generosidade; está mais para o tipo de prejuízo que seu primo e/ou seu carro conseguem suportar. Portanto, não se sinta obrigado a entregar as chaves. Se tiver tempo ou disposição, ofereça-se para levá-lo. Se tiver dinheiro, ofereça-se para pagar o Uber. Se não tiver nada disso, minta. “Diga: ‘Quinta à tarde? Ah, estarei ocupado!’”, sugere Jodi R. R. Smith, presidente da consultoria de etiqueta Mannersmith.

Independentemente do que faça, “não se sinta obrigado a emprestar a alguém uma coisa que é valiosa e importante para você”. Sentir-se obrigado a fazer algo que não queremos não é a definição de gentileza. É a definição de capacho. “Diga: ‘Sinto muito, não é possível’, e não dê mais explicações”, sugere a psicoterapeuta Tina Tessina. Mas, se você não conseguir arranjar uma desculpa plausível, evite gritar a dolorosa verdade: “Não existe seguro suficiente no mundo!” Em vez disso, Maggie Oldham, que mantém um blog sobre questões de etiqueta moderna (maggieoldham.com), sugere que você diga algo gentil mas firme, como: “Meu seguro não cobre outras pessoas.”

Criança levada

A filha de 10 anos de sua amiga é um monstro. Toda vez que vocês se encontram, sua filha da mesma idade é obrigada a brincar com ela. E você não quer mais as duas juntas.

Você pode tentar dizer à amiga que sua filha não pode se encontrar com a pestinha porque ela está ocupada lavando o cabelo até o dia em que for para a faculdade… mas é bem provável que não cole. “Quando eu era criança, uns amigos de meu pai tinham um filho que toda vez quebrava meus brinquedos”, recorda a psicoterapeuta Tina Tessina, autora do livro It Ends with You: Grow up and out of Dysfunction (Termina com você: cresça e amadureça sem disfunções). “Então minha mãe me ajudou a esconder os brinquedos bons antes que o garoto chegasse.” Aí vemos uma mãe e uma filha imperturbáveis, que entendiam perfeitamente o problema. (Talvez por isso Tina Tessina tenha se tornado terapeuta.)

Mas algumas sementes ruins podem provocar o que há de pior nas pessoas. Evite passar algum tempo com elas. Planeje eventos em que as crianças não interajam, como ir ao cinema. Outra técnica é ter uma conversa de adulto com o pequeno delinquente – na frente dos pais dele. “Só quero me assegurar de que você conheça as regras da casa para que ninguém se machuque”, é como começa a Dra. Georgiou. “Temos muito vidro aqui. Se você esbarrar na mesa e o tampo se quebrar, você terá de ir para o pronto-socorro receber um monte de pontos feios.” Em outras palavras, ela descreve comportamento que espera dele e pinta um quadro nítido das consequências da desobediência; assim, faz a criança e os pais também quererem esse comportamento. (E agora todo mundo está com medo da mesa.)

Jantar com dieta

Você vai sair para jantar com alguém que está tentando emagrecer.

“O segundo dia da dieta é sempre mais fácil do que o primeiro. No segundo dia, você desiste”, diz o antigo lamento de quem faz dieta. O fato é que ninguém jamais saiu da dieta porque o amigo pediu um X-tudo com muito molho, diz o psiquiatra Forman. Há comida em toda parte. Não importa se você devora o X-tudo diante do amigo ou não; ele sempre pode comer o dele em outro lugar. Mas, segundo Jodi R. R. Smith, da Mannesmith, você pode fazer uma gentileza: não pedir a sobremesa.

A sobremesa é uma coisa que vem com duas colheres. Ninguém espera que você ofereça uma mordida de seu X-tudo, mas é raro pedir o bolo de chocolate com coulis de frutas vermelhas sem 1) lembrar-se de procurar o que é coulis no dicionário; e 2) oferecer uma provinha (mesmo que de má vontade) a todos na mesa. Outra gentileza é evitar dicas de dieta. Nada de perguntar: “‘Ah, você não vai pedir o molho separado?’ ou ‘Tem certeza de que quer comer isso?’”, diz a advogada Karen Yankosky, que tem um podcast sobre relacionamentos. “Não importa se você saiu na capa da revista Boa Forma; fique de boca calada.”

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O pet do amigo

Seus amigos de outra cidade vêm fazer uma visita. Na última hora, eles telefonam e perguntam se podem levar o cachorro.

“Se aprendi alguma coisa na vida foi que ninguém fica do lado de quem é contra cachorros”, explica o Dr. Forman. “Se seus amigos decidiram trazer o animal de estimação, pergunte apenas: ‘Onde quer que o cachorro durma e que comida podemos dar a ele?’ Os cães são importantíssimos para algumas pessoas.” Por outro lado, se você for alérgico ou se sua casa for cheia de bibelôs, tapetes persas e cactos, mencione isso aos amigos e torça para que eles entendam a indireta. “Você não é dono de um canil”, diz Crystal L. Bailey, diretora do Instituto de Etiqueta de Washington, que, como se pode adivinhar, não gosta muito de cachorros.

Mas talvez a tática mais eficaz seja mostrar que você só se preocupa com o bem-estar do animal. Quando convidados perguntaram à Dra. Georgiou se podiam levar seus três – sim, três! – cachorros, ela respondeu: “É claro!” Mas acrescentou que não achava que os cães fossem se divertir, já que ela tem um cachorro temperamental e os animais dos hóspedes teriam de ficar presos na lavanderia. Além disso, não poderiam sair muito: “Como tínhamos planejado muitos programas para o fim de semana, seria difícil incluir os cães.” Em outras palavras: pobres cachorrinhos! A Dra. Georgiou ficou parecendo uma anfitriã que gosta de cães e que tentou, mas não conseguiu, conciliar os planos do fim de semana com os preciosos animais de estimação. Fez o que queria desde o início sem ferir os sentimentos de ninguém.

Por Lenore Skenazy