Dá mesmo para ser amiga de um ex-namorado?

Confira essa crônica de Rita Lobo sobre amizades com ex-namorado. E pergunte a si mesmo: você ficaria amiga de um ex-namorado?

Julia Monsores | 15 de Novembro de 2019 às 14:00

Ivanko_Brnjakovic/iStock -

Sempre achei curioso ex-namorados que permanecem amigos. Pessoalmente, preferia que os meus tivessem morrido. Ok, morrido não, mas mudado de continente, ou pelo menos de país. Como é que alguém consegue digerir a frustração de um relacionamento que não deu certo? Com tantas pessoas no mundo, por que ficar amiga justamente de um ex-namorado? Além do mais, não há como não haver constrangimento quando surgir um novo amor.

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O fato é que, independentemente de quem tenha terminado, de quantos anos tenham se passado, sempre me sinto derrotada diante da existência de um ex-namorado.

Minha amiga Fernanda e eu estávamos passeando perto de casa, quando a vitrine de uma loja de sapatos nos obrigou a entrar. Era uma sapatilha dourada que nós duas precisávamos ter.

Meu ex-namorado

Pedi à vendedora que trouxesse dois pares para mim, sendo um 37 e o outro 38. Claro que o menor ficou pequeno e o maior gigante. Quando é que vão começar a investir nas pessoas que não calçam número cheio? Aposto que, como eu, milhares de mulheres calçam 37,5. Enquanto conversávamos, uma mulher, sentada na nossa frente, à espera de um par de calçados, perguntou: “Rita?”

Fiquei olhando com ar de interrogação, tentando reconhecê-la. Quatro, cinco, seis segundos e nada. “Eu sou a Ana Maria, irmã do Renato. Você está tão diferente de cabelos curtos, demorei para te reconhecer.” Renato foi o meu último ex-namorado. Aliás, ainda éramos namorados quando conheci Roberto. Mas não comecei a namorar Roberto enquanto namorava Renato. Não por algum tipo de pudor, apenas começamos a namorar uns meses depois. Mas essa é outra história. Um dia, o namoro acabou. Eu terminei e ele aceitou. Que imbecil! Como pôde me perder?

“Nossa, eu também não te reconheci… Você voltou para o Brasil?” Ela conta que sim, que, depois de Chicago, morou em Paris, depois em Milão, depois em Roma e, quando engravidou, ela e o marido – como chamava o marido? William, é William o nome dele – decidiram voltar para São Paulo. Digo que a mãe dela deve estar babando. Ela concorda e acrescenta que o “avô” também.

Conto que também tenho filhos. Ela responde que sabia que eu tinha um filho. Respondo que tenho dois… Até então, não havia perguntado sobre o irmão dela, mas a eterna sede de vingança enxergou naquele momento uma oportunidade. Eu sabia que ele tinha casado e que estava tentando ter filhos há algum tempo.

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“Mas me diga, e o seu irmão, teve filhos?” E ela responde como esperado: “Não, ainda não.” E emenda: “mas ele tem um cachorro que é tratado como filho!” A bola ficou quicando por no máximo dois segundos. “Ah!, então está na hora mesmo de ter um bebê, não?”

Confesso que uma pequena, tão pequenina e insignificante maldade foi capaz de me trazer uma enorme satisfação. De repente, a sapatilha dourada nem estava tão apertada. Talvez a minha pequenez tenha diminuído o meio-ponto do meu pé. Nos despedimos, puxei a Fernanda e fomos em direção ao caixa. Decidi comprar a sapatilha que me possibilitou pisar na minha sensação de derrotada. “Mas você não disse que ficou apertada?”

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Respondo para Fernanda que sim, mas só um pouquinho e, de qualquer maneira, aquela sapatilha é um clássico: se eu não usar, a Dora vai. “Mas espera um pouco? Quanto a Dora calça?” Explico que algum dia ela vai calçar 37. A minha filha usando as minhas coisas, esse simples pensamento, faz com que eu me sinta, de verdade, vitoriosa. Ando em direção à porta, me despeço de Ana Maria abanando a mão e tento deixar para trás qualquer ressentimento, pelo menos, até a próxima oportunidade.

Por Rita Lobo