Descubra como reduzir o risco de cálculos biliares

Cálculos biliares, conhecidos como “pedras na vesícula”, são depósitos de substâncias na vesícula biliar. Saiba como evitar esse distúrbio.

Rayane Santos | 11 de Setembro de 2021 às 12:00

kirisa99/iStock -

Os cálculos biliares, também chamados de “pedras na vesícula”, são depósitos de substâncias na vesícula biliar. O principal componente dos cálculos é o colesterol. Para formá-los, a bile armazenada na vesícula biliar tem de estar supersaturada com colesterol e conter níveis relativamente baixos de ácidos biliares, que são essenciais para manter o colesterol em solução.

As pedras na vesícula são o distúrbio mais comum da vesícula biliar e uma das “doenças da abundância” associadas ao estilo de vida ocidental. A obesidade é o maior fator de risco dessa doença. Os cálculos podem ser reduzidos, mas não eliminados por completo. Para isso, é preciso manter o peso corporal ideal e fazer refeições regulares, ricas em fibras e com baixo teor de gordura saturada e açúcar refinado.

A relação entre obesidade e cálculos biliares

Pessoas com sobrepeso têm concentrações de colesterol muito aumentadas na bile, mesmo que a elevação dos níveis sanguíneos seja pequena. O risco de cálculos biliares é diretamente proporcional ao grau de obesidade. Isso é mais evidente em mulheres com aumento do IMC e em homens com elevada razão cintura-quadril. Essa razão é calculada dividindo a medida da cintura pela do quadril.

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O valor acima de 1 no homem, ou 0,8 na mulher, indica risco. A gordura abdominal é um fator de risco muito importante, pois os cálculos biliares são mais comuns em homens com abdome proeminente, mesmo que não estejam acima do peso.

Emagrecer é o primeiro objetivo das pessoas que têm cálculo biliar e estão com sobrepeso. Durante o processo, há supersaturação temporária de colesterol na bile, mas, uma vez estabilizado o peso, a concentração cai, reduzindo o risco de formação de cálculos no futuro.

O papel da bile

Os principais ácidos biliares sintetizados pelo fígado a partir do colesterol associam-se a água, pigmento, colesterol e outros componentes e são secretados pelas células hepáticas na forma de bile, que é transportada para a vesícula biliar. Esse órgão atua como um reservatório, armazenando a bile até que seja necessária para a digestão. A bile liberada da vesícula biliar para o trato gastrintestinal ajuda a digerir a gordura dos alimentos. 

Parte dos ácidos biliares secretados e do colesterol da bile é reabsorvida no intestino delgado e, por fim, reconduzida ao fígado. Durante esse processo, os ácidos biliares são convertidos em uma forma derivada, impedindo a síntese de outros ácidos biliares pelo fígado. 

A ausência de bile suficiente para manter o colesterol em solução permite que ela se acumule na vesícula biliar, o que pode promover a formação de cálculos. A reabsorção tende a ser mais bem-sucedida quando a alimentação é pobre em gordura, o que reduz o tempo que o alimento permanece no sistema gastrintestinal.

O que consumir para prevenir cálculos biliares?

Fibras

A alimentação rica em fibras aumenta a excreção de ácidos biliares nas fezes e impede sua reabsorção na parte inferior do trato gastrointestinal. Isso estimula o fígado a aumentar a síntese de ácidos biliares e reduz a concentração de colesterol na bile, diminuindo o risco de sua precipitação e a formação de cálculos.

Os vegetarianos têm menos cálculos biliares, pois a farta ingestão de hortaliças aumenta a quantidade de fibras e reduz o tempo de trânsito gastrintestinal. Confira estas dicas de uma nutricionistas de como aumentar o consumo de fibras.

Colesterol e gordura saturada

A formação de cálculos ricos em colesterol não é promovida pela alta ingestão de colesterol, mas está associada a dietas ricas em gordura saturada, que tendem a estimular a captação do colesterol plasmático e tecidual e levar à excreção de maiores quantidades na bile.

Assim, busque ingerir menos gordura saturada, fazendo trocas no dia a dia. O leite semidesnatado, por exemplo, contém mais cálcio do que o integral, e engorda menos. Vale ressaltar que é importante não cortar a gordura por completo. Você deve ingerir a quantidade indicada para sua idade.

Carboidratos refinados

Estudos realizados em animais de laboratório mostraram que dietas ricas em carboidratos refinados inibem a produção de ácidos biliares e, portanto, também podem estar associadas aos cálculos biliares. Os dados dos estudos em seres humanos são menos conclusivos. O alto consumo de açúcar contribui indiretamente para o maior risco de cálculos biliares, pois promove a obesidade, um fator de risco importante.

Vitamina C

As pesquisas em andamento investigam a possibilidade de que o maior consumo de vitamina C reduza o risco de cálculos biliares. Testes em animais mostraram que a vitamina C regula a conversão do colesterol em ácidos biliares. No entanto, as pesquisas realizadas até hoje só mostraram relevância no sexo feminino, provavelmente em virtude da maior incidência desses cálculos nas mulheres (o que torna maiores os tamanhos das amostras), mais do que à ausência de benefícios da vitamina C nos homens.

Cafeína

Embora não costume ser aconselhada, a ingestão diária de quatro xícaras de café ou mais foi associada à redução da doença da vesícula biliar em homens, mas não em mulheres. Não foram feitas observações semelhantes com o café descafeinado. Os médicos formularam duas teorias para explicar isso: as bebidas que contêm cafeína promovem o esvaziamento regular da vesícula biliar e diminuem o risco de cálculos, ou a cafeína reduz a capacidade da vesícula de absorver líquido, o que diminui a concentração de colesterol na bile.

Álcool

O consumo moderado de álcool protege contra a formação de cálculos porque reduz a concentração de colesterol na bile. Em mulheres, a ingestão diária de uma unidade de álcool é capaz de reduzir o risco em até 40%, embora não existam observações semelhantes em homens. Os eventuais efeitos benéficos do álcool, entretanto, devem ser equilibrados com as calorias das bebidas alcoólicas, que podem impedir a redução de peso.

Mudanças simples para combater riscos

Modificar o estilo de vida e conhecer alguns fatores de risco para o desenvolvimento de cálculos biliares pode ser de grande valia na prevenção. Muitas dessas mudanças são facilmente incorporadas ao dia a dia.

Alimentação saudável

Siga uma alimentação balanceada, rica em frutas e hortaliças. Se tiver vontade de beliscar, coma frutas frescas. A verdade é que uma dieta equilibrada traz inúmeros benefícios à saúde. A prevenção de cálculos biliares é apenas um deles.

Refeições regulares

A concentração de colesterol na bile varia durante o período de 24 horas, sendo maior à noite. Portanto, a permanência da bile noturna na vesícula biliar por longos períodos favorece a formação de cálculos. O café da manhã estimula a liberação de bile no intestino delgado, reduzindo essa tendência. Da mesma forma, a regularidade das refeições ao longo do dia não permite a estagnação da bile na vesícula.

Atenção ao peso

Em geral, o risco de cálculos biliares é maior nas mulheres, e ainda maior nas grávidas. Uma razão cintura-quadril superior a 0,8 nas mulheres, ou maior do que 1 nos homens, é sinal de que a alimentação precisa ser mais saudável, reduzindo o consumo de alimentos gordurosos e doces, e exercitando-se regularmente para queimar mais calorias.

Dieta para portadores de cálculos biliares

Tradicionalmente, os portadores de cálculos biliares são aconselhados a seguir uma dieta quase sem gordura, às vezes aderindo a regimes muito rigorosos durante anos a fio. O motivo dessa orientação é que a gordura dos alimentos estimula a contração da vesícula para liberar bile, o que exacerba a dor aguda associada aos cálculos.

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Embora verdadeiro, esse não é o único estímulo associado à dor, e já existem indicações significativas de que ela é possível mesmo quando não há passagem de alimentos pelo trato gastrintestinal. 

Tais dados sugerem, portanto, que é preciso reavaliar a orientação de restrição da gordura na alimentação. Provavelmente não é aconselhável ingerir menos de 10 g de gordura por dia, mesmo no caso de cálculo biliar.

É sensato recomendar aos portadores de cálculos biliares uma alimentação saudável, sobretudo em caso de sobrepeso. Também convém modificar a quantidade e o tipo de gordura ingerida, de acordo com as orientações gerais para alimentação saudável.

É muito importante que quem tem cálculos biliares siga a recomendação geral de cinco porções diárias de frutas e hortaliças frescas, e evite alimentos com alto teor de gordura e açúcar. Os alimentos gordurosos podem provocar dor.

Devem-se encorajar refeições regulares, incluindo o café da manhã, com longos intervalos entre as refeições. A consulta a um nutricionista pode beneficiar qualquer portador de cálculos biliares.