5 vacinas que os adultos precisam tomar e talvez você não saiba

Numa sexta-feira do verão passado, María Menéndez notou uma erupção surgindo em sua pele, mas não deu muita importância. No sábado, a urticária se

Douglas Ferreira | 10 de Setembro de 2020 às 11:00

Natali_Mis/iStock -

Numa sexta-feira do verão passado, María Menéndez notou uma erupção surgindo em sua pele, mas não deu muita importância. No sábado, a urticária se espalhou e, no domingo, formou grupos de bolhas que doíam e coçavam. Apesar da dor e do desconforto, María foi trabalhar na segunda-feira, mas, na hora do almoço, a dor foi tanta que teve de ir ao pronto-socorro.

“Assim que viu, o médico fez o diagnóstico: herpes-zóster”, conta María, de 57 anos, de Vigo, na Espanha.

Existem duas vacinas contra herpes: a Zostavax e a Shingrix. Elas são indicadas mesmo para aqueles que já desenvolveram a doença, o que pode poupar María de mais sofrimento.

Vacina também é coisa de adulto

As vacinas podem prevenir diversas doenças infecciosas, e não só em crianças: entre as vacinas recomendadas para adultos, estão as que previnem herpes-zóster, gripe, doença pneumocócica. Atualmente a Covid-19 está na mente de todo mundo e há uma corrida para encontrarem uma vacina contra o novo coronavírus, mas, enquanto isso não acontece, é bom saber que muitas pessoas podem se beneficiar das que já estão disponíveis.

(Imagem: Choreograph/iStock)

Vamos tirar a carteirinha de vacinação da gaveta. “A maioria dos adultos não faz ideia de como anda sua vacinação; eles dependem do médico para isso”, diz a Dra. Katherine O’Brien, diretora de imunização, vacinas e medicamentos biológicos da Organização Mundial da Saúde, em Genebra. “Eles supõem que, mesmo quando não menciona alguma coisa, o médico sempre sabe tudo.”

Na maioria dos países da União Europeia, por exemplo, acompanhar a vacinação é responsabilidade de cada um, o que talvez dificulte manter as vacinas em dia. “É dificílimo acompanhar o que já se tomou e quando… ainda mais quando há mudanças de endereço – e as pessoas se mudam muito – e troca de profissionais de saúde”, esclarece a Dra. Kari Johansen, especialista em doenças preveníveis com vacinas do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês), em Estocolmo. “As informações sobre as vacinas já tomadas nem sempre acompanham as pessoas.”

Eis o que você deveria saber sobre vacinas para adultos:

1. Herpes-zóster

Se você teve catapora na infância, o vírus nunca deixou o seu corpo. Ele pode sair da hibernação e se manifestar como herpes-zóster, que afeta os nervos sob as áreas onde surgem as bolhas, causando dor intensa.

Embora tomasse medicamentos para tratar o herpes depois do diagnóstico, María teve sintomas desagradáveis. “Os três primeiros dias foram muito dolorosos, e as roupas não podiam tocar minha pele”, diz ela.

A área afetada pela doença também pode continuar dolorosa depois da recuperação. “O período pós-herpético pode durar meses”, diz o Dr. William Schaffner, diretor médico da Fundação Nacional de Doenças Infecciosas dos EUA e professor de medicina preventiva e doenças infecciosas da Escola de Medicina da Universidade Vanderbilt, em Nashville, no estado americano do Tennessee.

“O objetivo da vacina contra herpes é, em primeiro lugar, prevenir as lesões na pele, que às vezes podem afetar os olhos e ameaçar a visão e/ou a audição. Depois, igualmente importante, a vacina previne essa dor pós-herpética.”

Em 2006, a Agência Europeia de Medicamentos aprovou a vacina Zostavax contra o herpes e, em 2018, a Shingrix, que dá um nível de proteção ainda maior, mas poucos europeus estão protegidos; somente seis países da União Europeia (Áustria, República Tcheca, França, Alemanha, Grécia e Itália) e o Reino Unido recomendam a vacinação contra herpes.

“Qualquer um pode comprar Zostavax”, diz a Dra. Johansen. No entanto, ela acredita que o motivo para muitas pessoas não se vacinarem é que, na maior parte do continente, algumas vacinas são gratuitas, e as pessoas só tomam essas.

No Brasil, apenas a Zostavax tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A recomendação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) é para pessoas a partir de 50 anos. Essa vacina de dose única faz parte do Calendário de Vacinação do Adulto (20-59 anos), mas o fato de não ser oferecida pelo SUS dificulta o acesso a essa proteção.

2. Gripe

(Imagem:dragana991/iStock)

Todo ano, de 4 milhões a 50 milhões de pessoas se vacinam contra a gripe na União Europeia e no Espaço Econômico Europeu e de 15 mil a 70 mil pessoas morrem de gripe, de acordo com o ECDC. Pessoas de todas as idades podem ser afetadas, mas os maiores de 65 anos têm mais probabilidade de ser internados ou desenvolver complicações. Por essa razão, todos os países da União Europeia recomendam a vacina anual contra gripe para todos os adultos de 65 anos ou mais; alguns a oferecem a todos os adultos a partir dos 55 ou dos 60 anos. Mas, mesmo com a recomendação, o modo como cada país implementa seu plano varia, e alguns países não financiam a vacina.

No Brasil, as pessoas com mais de 60 anos devem se vacinar contra a gripe anualmente. Em 2020, porém, em decorrência da Covid-19, o Ministério da Saúde estendeu a recomendação para 55 anos de idade. A cobertura da Campanha Nacional de Vacinação contra a influenza este ano atingiu 90% desse público, isto é, mais de 53 milhões de pessoas foram vacinadas.

A vacina contra a gripe não destina apenas a idosos frágeis; há vantagens para todos. “Se você tomar a vacina e mesmo assim ficar gripado, há uma boa probabilidade de que a infecção seja menos grave, ou seja, que não haja complicações como pneumonia, ida ao pronto-socorro, internação – e a  probabilidade de morrer em decorrência de uma complicação diminui”, explica o Dr. Schaffner. “E há um benefício adicional: é menor a probabilidade de transmitir o vírus da gripe, e, como gosto de dizer, ninguém quer ser um disseminador da doença.”

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3. Doença pneumocócica

Cinco anos atrás, Judy Segaloff teve pneumonia pneumocócica, uma infecção bacteriana, e não percebeu que a doença tinha voltado no ano passado. Foram necessárias três consultas médicas para receber o diagnóstico. “Eu sentia dor nas costas o tempo todo e tosse seca”, diz Judy, de 60 anos, de Karnei Shomron, em Israel. “Tenho asma, e os médicos acharam que essa era a causa da tosse.”

A vacina pneumocócica, geralmente recomendada para adultos com 65 anos ou mais, pode ser tomada por adultos mais jovens com determinadas doenças, como as pulmonares, mas os médicos de Judy não a prescreveram. “Não dá para exagerar a importância da vacina pneumocócica para adultos idosos, principalmente quando há doenças preexistentes, porque a probabilidade de mais complicações é grande”, diz Godwin Oligbu, pesquisador da divisão de imunização e contramedidas da agência Public Health England, em Londres. “Os idosos têm o sistema imunológico fraco e em declínio, e isso os torna mais suscetíveis a infecções.”

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No Brasil, a vacina pneumocócica polissacarídica 23-valente (VPP-23), combinada à vacina pneumocócica conjugada 13-valente (VPC-13), está disponível gratuitamente nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) e é recomendada para pessoas com mais de 60 anos com indicação médica. A VPP-23 é aconselhada também para crianças a partir dos 2 anos e adultos portadores de certas enfermidades crônicas, como doença pulmonar, infecção por HIV e diabetes.

“Os pneumococos são bactérias que podem provocar septicemia, meningite, otite e pneumonia, e a vacina não atua apenas contra esta última”, revela a Dra. Johansen. Tomar essa e outras vacinas ajuda a manter a boa saúde.

“A pneumonia pneumocócica é uma das principais complicações da gripe”, alerta o Dr. Schaffner, “e tomar as duas vacinas, a de gripe e a pneumocócica, é uma ótima maneira de se prevenir. A pneumonia costuma ser muito perigosa em idosos.”

4. Sarampo

(Imagem: Inside Creative House/iStock)

Se você nasceu antes do início da década de 1960, é quase certo que teve o exantema vermelho (erupções na pele) revelador do sarampo e portanto está protegido contra a doença.

No entanto, embora os países europeus tenham começado a vacinar contra o sarampo na década de 1960, alguns países pararam na década de 1970 e início da de 1980, de acordo com a Dra. Johansen, e outros só deram uma dose da vacina nesse período, quando eram necessárias duas. Em anos mais recentes, os pais contrários à vacinação preferiram não vacinar os filhos, o que causou a queda da imunidade de rebanho e picos de casos de sarampo em toda a Europa nos últimos anos. Por essas razões, às vezes alguns adultos jovens têm sarampo.

No Brasil, a vacina chegou nesse mesmo período, mas só foi efetivamente implementada após a criação do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em 1973. Nos últimos anos estamos vendo um aumento significativo de casos registrados, deixando as autoridades de saúde em alerta para uma doença que já havia sido controlada e voltou a ser um problema por causa das baixas coberturas vacinais.

“O sarampo é o vírus mais transmissível que conhecemos, muito mais do que o coronavírus”, por exemplo, adverte o Dr. Schaffner. “Era uma doença universal das crianças do mundo ocidental e continua a ser um problema no mundo em desenvolvimento.”

Alex Sauer, 38 anos, de Colônia, na Alemanha, foi vacinado quando criança e ficou surpreso quando teve sarampo dois anos atrás. Ele trabalha no pronto-socorro de um hospital, onde pode ter sido exposto à doença. Nele, o sarampo causou febre alta, fadiga e conjuntivite, que prejudicou sua visão; por causa da doença, hoje ele usa óculos.

“Passei quatro semanas doente”, conta ele. “Desde então, nunca mais fui o mesmo.”

Se não tiver certeza de estar protegido, você pode pedir ao médico um exame de sangue, “mas acho que muitos médicos preferirão dar logo a vacina”, diz a Dra. Johansen. “Não há perigo em tomar uma terceira dose. Se tiver anticorpos e estiver protegido, você neutralizará o vírus que há na vacina. Se não tiver anticorpos, o vírus se expandirá um pouco e induzirá a formação deles.”

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5. Tétano, difteria e coqueluche

As crianças de hoje tomam a vacina tríplice bacteriana, que protege contra tétano, difteria e coqueluche. Mas, quando eram crianças, os adultos de hoje podem ter sido protegidos contra essas doenças com várias vacinas, e é possível que nem tenham sido vacinados contra uma ou mais de uma delas, dependendo de onde nasceram (e se nasceram antes da década de 1940).

“Quem era adolescente ou adulto quando se iniciaram as campanhas de vacinação infantil de rotina talvez não tenha tomado essas vacinas”, diz Mark Slifka, professor da Escola de Medicina da Universidade de Saúde e Ciência do Oregon, em Portland. “Se não tiver certeza de seu histórico clínico, converse com o médico e veja se ele recomenda doses de reforço.”

Alguns países da União Europeia recomendam o reforço para adultos a cada cinco, dez ou vinte anos a fim de proteger de tétano, difteria e/ou coqueluche. Outros países não recomendam o reforço, seguindo as orientações da OMS.

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Um estudo recente confirmou que as doses de reforço não mudam a incidência de tétano e difteria. O estudo de 2020 examinou a incidência de difteria e tétano num período de 15 anos em milhões de pessoas de 31 países da Europa e da América do Norte, dos quais alguns recomendavam o reforço, outros não. Não houve diferença na incidência das doenças, com ou sem reforço, indicando que a proteção contra elas deve ser vitalícia, desde que a vacina necessária tenha sido tomada na infância.

“Apesar de não haver doses de reforço em nove a dez países europeus, não ocorreu aumento da incidência dessas duas doenças raras”, diz Slifka, um dos autores do estudo.

No Brasil, porém, a orientação do Ministério da Saúde é para que seja aplicada a dose de reforço a cada 10 anos, por toda a vida.

Tomar as vacinas recomendadas para sua faixa etária pode proteger sua saúde, ainda mais na idade madura.

“As pessoas devem cuidar de si mesmas”, aconselha a Dra. O’Brien. “Precisam saber quais são as recomendações em seu país e, se o médico não lhes orientar em relação a essas vacinas, devem questioná-lo para ter certeza de que ele está atento.”

Vacine-se antes de viajar

(Imagem: hyejin kang/iStock)

Na próxima vez que planejar uma viagem, descubra que vacinas tomar antes de ir. Dependendo do destino, talvez seja preciso se proteger de hepatite A e B, febre amarela, febre tifoide, cólera e outras doenças. 

Não há vacina contra malária e nenhum medicamento que ajude a preveni-la recomendado pelo Ministério da Saúde. No site da Anvisa você fica sabendo quais vacinas são exigidas de acordo com os países. Por lá você também fica sabendo como adquirir seu Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia (CIVP), expedido pela agência.

É bom se vacinar bem antes da viagem, mas de última hora é melhor do que nada. “Em geral, são necessários 15 dias para desenvolver a resposta imune, por isso é melhor se vacinar pelo menos duas semanas antes de viajar”, diz a Dra. Johansen. “Mas, mesmo que seja na véspera, vacine-se.” Não é o ideal, “mas pelo menos oferece alguma proteção”.

POR LISA FIELDS