Intoxicação alimentar no verão

A época mais quente do ano também é o período que cresce os casos de intoxicação alimentar. Saiba o motivo e como evitar.

Pryscilla Casagrande | 7 de Dezembro de 2021 às 16:00

Prostock-Studio/iStock -

Náusea, dor abdominal, diarréia, fraqueza e vômito são sintomas da intoxicação alimentar, um problema que aumenta com a chegada do calor. O clima quente e o período de férias contribuem para a mudança na rotina e nos hábitos alimentares das pessoas, o que pode levar a uma maior exposição aos agentes causadores de problemas gastrointestinais.

Isso ocorre porque, ao longo desse período, as pessoas acabam negligenciando a rotina alimentar, seja bebendo água contaminada, comendo lanches ou outras preparações com pouca higiene, em praias e clubes, e até consumindo alimentos refrigerados que não foram conservados corretamente.

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Tudo isso pode contribuir para a intoxicação alimentar, que é um problema muito comum durante o verão. Pensando nisso, Pryscilla Casagrande, engenheira de alimentos e coordenadora do Centro de Competência de Alimentação e Saúde da PROTESTE, vou explicar tudo que você precisa saber sobre o problema e dar dicas de como evitar. Acompanhe!

O que é intoxicação alimentar?

A intoxicação alimentar é uma consequência da ingestão de alimentos ou água contaminada, explica o médico Drauzio Varella. Esse problema, também chamado de gastrointestinal, pode ser causado por bactérias, vírus, fungos, componentes tóxicos e produtos químicos.

A contaminação da água ou dos alimentos por um desses agentes pode ocorrer em diferentes processos, como na manipulação, preparo, armazenamento e conservação.

Os principais agentes da intoxicação são as bactérias. Por isso, a maioria dos casos são bacterianos, causados pela Salmonella, Clostridium, Shigella, Staphylococcus e E. coli.

Já os sintomas mais comuns são:

Em casos mais graves, a pessoa pode apresentar perda de peso, desidratação e hipotensão arterial.

O diagnóstico na maioria dos casos é clínico, a partir dos sintomas informados pelo paciente. Já o tratamento consiste em bastante repouso e reposição de líquidos. Em algumas situações, o médico pode indicar medicamentos para aliviar os sintomas e até administrar soro endovenoso para repor sais minerais e hidratar.

É importante alertar que a intoxicação alimentar não é tão inofensiva quanto parece. Em casos graves, ela pode levar a uma desidratação aguda que pode causar problemas no funcionamento dos rins.

Como ocorre a contaminação dos alimentos?

Os agentes causadores desse problema estão em toda parte, como em vegetais, hortaliças, frutas, carne, leite, ovos e até mesmo no ambiente. E não tem como saber em qual das etapas a água ou o alimento foi contaminado, já que isso pode ocorrer na plantação, produção, transporte, armazenamento e preparo.

Você sabia que as situações mais comuns que levam a contaminação e aumento dos casos desse problema acontecem no verão? Nesse período, a ingestão de frutas, vegetais e alimentos sem a correta higienização é maior. Além disso, as temperaturas e umidade elevadas favorecem a proliferação dos microrganismos. Por isso a importância de manter os alimentos refrigerados, principalmente aqueles mais perecíveis, como molhos, maioneses e preparações que levem carne, leite e ovos.

Contudo, práticas simples podem reduzir os riscos da contaminação, como lavar bem as mãos, higienizar os alimentos corretamente, entre outras.

Doenças causadas pela intoxicação alimentar

Além dos sintomas que a intoxicação alimentar causa, há uma série de doenças que podem ser desenvolvidas a partir desse problema. As chamadas Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) ocorrem pela contaminação de bactérias e suas toxinas, vírus e outros parasitas. Veja a seguir alguns dos problemas mais comuns e suas características.

Toxoplasmose

A toxoplasmose é uma das doenças que podem surgir a partir da intoxicação alimentar. Embora seja infecciosa, ela não é contagiosa e é causada pela ingestão de água ou alimentos contaminados com o protozoário Toxoplasma gondii.

A doença pode ser assintomática, e o parasita pode se manter inativo no portador ao longo da vida. Contudo, em alguns casos, o paciente desenvolve o problema e apresenta sintomas como febre, cansaço, dor de cabeça, dores no corpo e linfonodos inflamados.

Em gestantes, recém-nascidos e pacientes com o sistema imunológico debilitado, o parasita pode se espalhar pelo cérebro, fígado, coração, pulmões, músculos, ouvidos e olhos. O diagnóstico é feito por exame de sangue e o tratamento é com medicamentos, realizado apenas em pacientes que apresentam sintomas.

Procure utilizar sempre água potável e certifique-se de que sua caixa d’água está bem fechada e com a limpeza periódica em dia. A higienização dos alimentos e mãos após manipular terra, areia e contato com animais de estimação é importantíssima.

Amebíase

A amebíase ou disenteria amébica é outra infecção que pode ocorrer devido a contaminação da água e de alimentos. Mais comum em regiões com pouco saneamento básico, essa doença ocorre por causa do protozoário Entamoeba histolytica.

Ela também é assintomática, mas pode apresentar sintomas em sua forma mais grave, como diarreia muito forte, perda de peso, febre, sensibilidade abdominal, dor e cólica e a presença de muco ou sangue nas fezes.

A maioria dos casos é assintomática e o tratamento da amebíase consiste em matar as amebas e cistos, resultantes da infecção, através de medicamentos.

Salmonella

A salmonella é uma bactéria que causa intoxicação alimentar e pode levar a dois tipos de contaminação, a febre tifóide e a salmonelose não tifóide, explica o Ministério da Saúde. As duas versões da doença causam sintomas desagradáveis, mas a febre tifóide é a versão mais grave.

Os sintomas são febre, vômito, dores abdominais e diarreia. É comum que eles diminuam em alguns dias ou semanas. Nos dois casos, o tratamento é feito com medicamentos, repouso e reposição de líquidos.

Como em todas as doenças causadas pela intoxicação alimentar, a salmonelose é uma infecção bacteriana que pode surgir a partir do consumo de alimentos contaminados, nesse caso é a Salmonella.

Escherichia coli

A Escherichia coli também é uma bactéria que pode causar uma série de problemas quando consumida através da água e de alimentos contaminados. Ela é mais conhecida como E. coli e pode causar diarreia, infecções urinárias, síndrome hemolítico-urêmica e colite hemorrágica.

Essa bactéria pode ter consequências muito graves dependendo da situação da infecção, como meningite, sepse e peritonite. Já os sintomas podem variar de acordo com o problema desencadeado, sendo que os mais comuns são febre baixa e persistente, vômito, náusea e diarreia. Pode apresentar também sangue nas fezes ou urina turva.

O tratamento para combater a infecção da bactéria ocorre de acordo com cada doença desenvolvida, em alguns casos é preciso internação para acompanhamento do paciente.

Rotavírus

O Ministério da Saúde explica que o Rotavírus, causador da rotavirose, surge também devido ao consumo de água e alimentos contaminados. Em uma infecção leve, os sintomas incluem febre alta, vômito e diarreia com aspecto gorduroso, aquoso e explosivo. Mas em casos mais graves a rotavirose pode evoluir para uma desidratação grave e causar a morte.

A doença é altamente contagiosa e é mais comum em crianças, já que elas são mais suscetíveis à contaminação pelo Rotavírus.

O tratamento consiste em repor líquidos, realizar o manejo nutricional e eliminar os sintomas, sendo necessário bastante repouso.

Como prevenção, existe a administração de vacina para crianças menores de 6 meses. O aleitamento materno e evitar o desmame precoce também colaboram na prevenção da doença.

A seguir, listamos como diagnosticar, tratar e prevenir com medidas simples essas doenças.

Diagnóstico e tratamento da intoxicação alimentar

Veja que em quase todas as intoxicações alimentares os sintomas são bem parecidos e, por isso, podem ser utilizados para um diagnóstico clínico. Mas dependendo de cada caso, é necessário exames complementares para se obter o diagnóstico correto, como a coleta de sangue, urina e fezes.

O tratamento também varia de acordo com os sintomas apresentados pelo paciente e o tipo de doença em desenvolvimento. Em alguns casos, é indicado o repouso e a reposição de líquidos, em outros é necessário o uso de medicamentos e a internação.

Previna a intoxicação alimentar no verão

Felizmente existem algumas práticas simples que possibilitam evitar a intoxicação alimentar e reduzir o risco de desenvolver uma doença causada pela contaminação alimentar. Separei algumas dicas para evitar a intoxicação alimentar no verão, acompanhe:

Lave as mãos

Lavar as mãos corretamente com sabão é uma prática simples que possibilita eliminar vários agentes infecciosos. Antes de fazer qualquer preparação, higienize os dedos, as unhas e a palma da mão, mantenha o hábito quando for se alimentar. Nesse caso, o cuidado deve ser redobrado em locais com muitas pessoas, como em praias e clubes.

Utilize utensílios limpos

Outra dica importante é utilizar utensílios limpos ao cozinhar e comer. Para que não haja contaminação, só utilize utensílios devidamente limpos para preparar refeições. E nunca utilize o mesmo utensílio para alimentos crus e cozidos, antes de higienizá-lo.

Evite consumir alimentos crus

O consumo de alimentos crus pode contribuir para um maior risco de contaminação alimentar, principalmente no caso de carnes, ovos e peixes. Para as saladas, frutas e vegetais que serão consumidos sem cozimento, é importante realizar uma higienização adequada seguindo as orientações sanitárias.

Observe a aparência dos alimentos

Não basta limpar os alimentos corretamente, também é importante que eles estejam em bom estado. Por isso, confira se os alimentos não estão estragados ou possuem alguma alteração anormal.

Observe a higiene dos restaurantes e ambulantes

Por fim, outra dica muito importante é sobre a alimentação fora de casa. Tenha o cuidado de observar a higiene do local onde você come. Observe se o restaurante ou ambulante utiliza as boas práticas de higiene e se os alimentos possuem boa aparência.

Nesse caso, redobre o cuidado para o consumo de alimentos crus fora de casa, e também ao comer na praia, visto que a higienização é mais difícil nesses lugares.

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