5 dores que não se devem ignorar

Todos sentimos pontadas de dor de vez em quando. Mas como saber se é algo passageiro ou um aviso que exige atenção urgente? Confira!

Douglas Ferreira | 1 de Março de 2021 às 01:01

Lordn/iStock -

Talvez seus pés comecem a ficar dormentes com frequência ou você tenha febre baixa. Nada preocupante, certo? Talvez. Mas não é preciso ser hipocondríaco para ponderar que um sintoma incômodo pode ser uma pista de que algo mais grave acontece no nosso corpo. Como saber quando não ligar e quando entrar em pânico? Estas histórias são de pessoas que enfrentaram esse dilema e descobriram que seu desconforto vinha de doenças muito diferentes do que pensavam. O resultado positivo: depois do diagnóstico correto, todas receberam o tratamento necessário. Considere estas jornadas um guia para todos nós.

1. Dor abdominal

“A sensação de queimação era câncer de cólon.”

Quando sentiu queimação na barriga no verão de 2017, Amy Driben-Salcedo ignorou o incômodo por quatro ou cinco meses. “Tenho três filhos e estava ocupada com a vida”, conta a orientadora educacional do ensino médio, com 47 anos na época.

Após a dor se expandir para as costas, “procurei os sintomas no Google e decidi que devia ser uma úlcera, e mudei minha alimentação para coisas leves”, recorda Amy. Depois, ela começou a emagrecer rapidamente.

Novas pesquisas no Google mostraram que a dor abdominal e o emagrecimento eram sinais clássicos de câncer colorretal (também chamado de câncer de cólon), mas Amy descartou a possibilidade porque se achava nova demais. Quando foi ao consultório médico, já havia perdido 11 quilos. O gastroenterologista fez exames de sangue e radiografias, mas os resultados foram normais. Ele receitou medicamentos para síndrome do intestino irritável. Depois de tomar os remédios sem alívio por algumas semanas, Amy ligou novamente para o médico. “A caminho de fazer a tomografia que ele pediu, eu disse a meu marido: ‘Câncer deve ser assim. A dor está muito forte.’” O exame mostrou uma sombra no fígado.

A dor abdominal pode ser sinal de diversas doenças. (Imagem: Pornpimon Rodchua/iStock)

Em seguida, a colonoscopia revelou: ela realmente tinha câncer colorretal. (O tumor principal ficava no cólon, mas tinha se espalhado para o fígado.) Durante um ano, Amy fez três dias de quimioterapia semana sim, semana não. O tratamento causou efeitos colaterais violentos, com noites insones, fraqueza e dormência nas mãos e nos pés. Mas valeu a pena: o tumor foi eliminado.

Infelizmente, hoje Amy combate um novo tumor no fígado que foi tratado com radiação. Depois de já ter vencido um câncer, ela está otimista; acha que vencerá outra vez e diz: “Agora fico atenta, escuto meu corpo e cuido mais de mim.”

O que mais poderia ser?

Todos temos problemas digestivos de vez em quando, mas em alguns casos a dor na barriga revela doenças graves. Uma dor aguda no lado inferior direito do abdome pode ser apendicite; no lado inferior esquerdo, pode ser diverticulite; no lado direito, do meio para cima, cálculos biliares; perto da pelve, cistos de ovário ou infecção do trato urinário. Às vezes, uma dor surda ou ardente e cólicas são causadas por úlcera, síndrome do intestino irritável ou uma doença intestinal inflamatória, como doença de Crohn ou colite ulcerativa. Dor de estômago acompanhada de febre pode ser gastroenterite viral.

2. Problemas na boca

“Minha sede insaciável era diabetes.”

Carol Gee estava no balcão da locadora de automóveis do Aeroporto Regional Rapid City, em Dakota do Sul, nos EUA, e começou a dizer seu sobrenome ao atendente. Foi quando notou sua boca completamente seca. Com dificuldade de falar, ela terminou de preencher a papelada e entregou as chaves ao marido.

Com 59 anos na época, Carol disse que tentou não entrar em pânico. “Foi a sensação mais esquisita que já tive. Não havia umidade nenhuma em minha boca.” Ela atribuiu aquilo à altitude da cidade e ao longo voo que acabara de fazer, mas a boca seca se tornou uma sensação de sede insaciável. “A água não ajudava nada. Eu não parava de beber. Isso me fazia ir ao banheiro o tempo todo. Eu me sentia mal o dia inteiro.”

Alguns meses antes, ela fizera um check-up, e a médica notara que o nível de glicose no sangue de Carol estava acima do normal. Ela explica: “Como a médica não passou nenhum remédio, achei que não fosse nada grave.”

Embora fizesse o possível para aproveitar a viagem, Carol se lembra da fadiga que sentiu na volta para casa. “No caminho do aeroporto até o carro, precisei de todas as minhas forças para puxar a mala de rodinhas. Também foi dificílimo pôr um pé na frente do outro.”

No dia seguinte, ela ligou para a médica, que recomendou uma ida ao pronto-socorro. “Quando testaram a glicemia, o médico falou: ‘Você tem diabetes tipo 2 e está em péssimas condições. Sua glicose está tão alta que é um espanto você não estar em coma diabético ou coisa pior.’ Foi aí que entendi como era grave.” Quando Carol foi internada, sua glicemia estava em 900 mg/dl, muito além do resultado normal de menos de 140 mg/dl.

Hoje com 70 anos, Carol se diz obcecada por tomar a insulina corretamente e medir a glicemia. “Gostaria de ter sido mais proativa e perguntado à médica sobre a glicose elevada. Eu teria dito não aos bolos, minha glicemia não teria subido tanto e a surpresa não seria tão grande”, diz ela.

O que mais poderia ser?

Sente um cheiro esquisito quando abre a boca? Se também tiver manchas brancas na língua, pode ser uma candidíase ou um tumor. Se o hálito tem cheiro de leite azedo, pode ser intolerância à lactose; se o cheiro for de acetona, provavelmente você está comendo proteína demais. Lesões vermelhas na língua, dentes frouxos, aftas ou manchas brancas ou vermelhas dentro da boca que duram mais de 15 dias podem ser sinais de câncer. Manchas brancas, amarelas ou castanhas nos dentes podem indicar doença celíaca. A língua vermelha e lustrosa é sinal de possível deficiência de vitamina B12.

3. Tosse e chiado no peito

“A dor nas costelas era pneumonia.”

Durante três semanas, Lorri Faughnan sentiu dor na caixa torácica; uma distensão, pensou, por treinar muito para o triatlo. Corretora de imóveis de Montreal, no Canadá, ela esperou que a dor sumisse, depois esperou mais um pouco. Mas a dor não passou. Então, num treino de corrida num dia de inverno há uns dez anos, a dor ficou tão intensa que ela teve de voltar. Quando chegou ao ponto de partida, estava curvada, sem ar, com chiado no peito. Lágrimas corriam por seu rosto.

Lorri, hoje com 59 anos, tomou um analgésico e foi se deitar. Na manhã seguinte, embora ainda sentisse dor nas costelas, a respiração estava melhor, e ela achou que conseguiria fazer uma aula na bicicleta ergométrica. Mas, quando contou ao médico na bicicleta ao lado o que tinha lhe acontecido no dia anterior, foi aconselhada a procurar um pneumologista imediatamente. “Conheço um”, disse o médico. “Vou ligar para ele.”

Sintomas como tosse e febre podem indicar problemas sérios de saúde. (Imagem: dualstock/iStock)

Lorri conseguiu uma consulta com o especialista naquela tarde. “Você tem os sintomas clássicos de pneumonia”, disse ele. “Essa dor que você sente não é nas costelas”, explicou. “É no pulmão. E você não conseguiu respirar porque a pneumonia comprometeu seus pulmões, e o frio piorou ainda mais a situação.”

A pneumonia é uma infecção causada por bactérias, vírus ou fungos que afeta os alvéolos nos pulmões e os enche de líquido, o que pode causar vários sintomas. Pode haver febre, tosse e chiado no peito, a ponto de você não conseguir dizer uma simples frase. O médico receitou a Lorri antibióticos e repouso em casa. Ela levou três semanas para voltar a se sentir bem.

Esse foi o primeiro caso de pneumonia de Lorri, mas hoje ela percebe que, se esperasse mais para procurar o médico, acabaria internada a fim de receber oxigênio.

O que mais poderia ser?

Sintomas como tosse e febre podem indicar resfriado, gripe ou Covid-19. O chiado no peito pode ser sintoma de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) não diagnosticada ou um trombo ou coágulo sanguíneo no pulmão, este último principalmente se você fez uma cirurgia há pouco tempo. Basicamente, quanto mais doente você se sentir, mais importante é consultar o médico ou ir ao pronto-socorro, onde seu nível de oxigênio pode ser medido e as providências adequadas tomadas, caso haja necessidade.

4. Dor de cabeça

“Minha dor de cabeça incômoda era um AVC.”

Em 2013, Latarsha Jones teve uma forte dor de cabeça. Mãe de três filhos, ela supôs que a agenda cheia e as longas horas de trabalho como vice-diretora de uma escola elementar estivessem cobrando seu preço.

A dor durou várias semanas, e às vezes era tão forte que Latarsha tinha de segurar a cabeça para tossir ou espirrar. Certa tarde, a dor se intensificou de repente. “Foi como se tudo ficasse em câmera lenta. As palavras não saíam, a fala ficou arrastada. O lado esquerdo ficou dormente.”

Quando os paramédicos chegaram, Latarsha não conseguia levantar o braço esquerdo nem recitar o alfabeto – dois exames feitos para determinar se um paciente sofreu um AVC. No hospital, a ressonância magnética revelou que ela realmente sofrera um AVC isquêmico, que ocorre quando um vaso que leva sangue ao cérebro fica obstruído.

Várias coisas podem causar dor de cabeça. (Imagem: AaronAmat/iStock)

“Os médicos ainda procuram os fatores que provocaram o acidente vascular, porque minha pressão arterial não era tão alta assim e todos os outros exames estavam no limite. Acredito que a obesidade foi o fator principal”, conta Latarsha.

Depois do terrível incidente, Latarsha aumentou seu nível de atividade física e melhorou a alimentação. Hoje, com 47 anos, ela ainda se recupera do AVC e toma medicamentos diariamente para prevenir outro.

O que mais poderia ser?

Quase todo mundo tem dor de cabeça. Desidratação, má postura, alguns alimentos e estresse são causas comuns, mas há dores que indicam problemas mais graves. Se a dor de cabeça acorda você pela manhã ou não melhora com medicação, pode ser um tumor no cérebro. Somada a febre alta e rigidez no pescoço, pode ser meningite. Dor de cabeça acompanhada de visão borrada ou dificuldade para focalizar pode ser um aneurisma.

5. Dormência e formigamento

“A dormência nos pés era esclerose múltipla.”

Cathy Chester tinha terminado a faculdade e começava a carreira de redatora publicitária em Manhattan. Quando notou dormência e formigamento nos pés, atribuiu os sintomas ao estresse e a andar muitos quarteirões no frio. “Escolhi ignorar os sintomas, e eles foram piorando”, diz ela. Quando a dormência começou a subir para as pernas, Cathy decidiu procurar um médico, que lhe disse que seus sapatos estavam muito apertados.

Ela comprou sapatos mais largos, mas no fundo sabia que o médico estava errado. A dormência avançou para os joelhos e as coxas, fazendo-a tropeçar. Algumas vezes, foi até acusada de estar bêbada. Junto com a fraqueza, a fadiga tomou conta dela. “Imaginei que estava exausta por morar sozinha e tentar me manter num mercado de trabalho competitivo. Era como se eu estivesse gripada, só que mil vezes pior”, recorda Cathy.

Certa noite, a caminho do ponto de ônibus para voltar para casa, ela diz: “Olhei para baixo e vi que um dos meus saltos altos tinha caído uns três metros atrás. Nem notei, de tão dormentes que meus pés estavam. Foi um verdadeiro alerta de que alguma coisa não estava bem.”

O neurologista pediu uma punção raquidiana, uma tomografia computadorizada e uma ressonância magnética, e ela finalmente descobriu o que a importunava: esclerose múltipla, uma doença do sistema nervoso central que atrapalha o fluxo de informações até o cérebro. Cathy suportou cinco anos de dormência, fraqueza e fadiga. Ainda assim, ela explica: “Estou entre os sortudos que recebem diagnóstico imediato depois dos exames. O resultado foi muito claro. Isso me deu alívio, porque soube o que fazer para me ajudar.”

Hoje, Cathy, com 61 anos, diz: “Nunca recuperei a sensação da perna direita, nem depois da terapia, e a fadiga é horrível; preciso tirar um cochilo todo dia às duas horas, aconteça o que acontecer.” Hoje promotora da saúde, Cathy vê o futuro com esperança. “Minha missão é informar, inspirar e estimular a conscientização sobre a esclerose múltipla. Durante muito tempo, nenhum de nós teve voz.”

O que mais poderia ser?

O formigamento e a dormência costumam ser apenas um sintoma de que uma parte do corpo “adormeceu”. Mas, se a sensação durar, pode ser trombose, compressão de nervo ou neuropatia periférica (esta geralmente causada pelo diabetes). Se você também tem dificuldade de enxergar, falar ou entender palavras, pode ser um AVC. Uma sensação de dormência no peito que dura mais de meia hora pode ser um infarto, principalmente quando acompanhada de tontura ou náusea.

POR JEN BABAKHAN e TRACY MIDDLETON de thehealthy.com

Com reportagem adicional de Charlotte Hilton Andersen, Lisa Fitterman, Alyssa Jung, Marissa Laliberte, Karyn Repinski, Jenn Sinrich e Lindsay Tigar.